Metalúrgicos de Betim debatem saúde mental dos trabalhadores

Pioneiro no Estado de Minas Gerais evento reuniu cerca de 500  pessoas no auditório do Sesi e foi promovido por iniciativa do Fórum Intersetorial de Saúde do Trabalhador da Microrregião de Betim.

As mudanças nas formas de gestão do trabalho nas empresas, implementadas sobretudo a partir da década de 90 –marcadas pelo ritmo acelerado de produção, abuso de horas extras, ruído excessivo e práticas de assédio moral, dentre outros– são fatores que, isoladamente ou combinados, têm levado ao aumento crescente da incidência de casos de transtornos mentais e de comportamento entre os trabalhadores.


 


Enfrentar este problema, que já ocupa, no Brasil, a terceira posição entre as causas mais comuns de afastamento de empregados do trabalho, exige um estudo aprofundado do ambiente e das condições de trabalho nas empresas e, por consequência, a melhoria da estrutura e qualificação da rede de serviços públicos de saúde para atender as demandas de saúde mental do trabalhador.


 


Estas foram algumas das saídas apontadas pelos participantes do “II Seminário Intersetorial de Saúde do Trabalhador: Saúde Mental e Políticas Públicas”, realizado em Betim (MG), no último dia 25. O evento, pioneiro no Estado em se tratando de debates em torno da saúde mental dos trabalhadores, reuniu cerca de 500 pessoas no auditório do Sesi, no município, e foi promovido por iniciativa do Fórum Intersetorial de Saúde do Trabalhador da Microrregião de Betim, que reúne órgãos públicos e privados, entidades sociais e do movimento sindical, dentre eles o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas.


 


Uma das palestrantes do evento, Marta de Freitas, coordenadora da Fundação Jorge Duprat de Figueiredo (Fundacentro), ressaltou que o debate promovido pelo órgão deve servir como reflexão sobre a forma como o trabalho está sendo organizado nas empresas. “Assistimos a um novo adoecimento do trabalhador, ao surgimento de novos riscos no ambiente de trabalho, mas os antigos (riscos) ainda não foram resolvidos”, destacou.


 


Ouvir para investigar
Um dos participantes da mesa “O adoecimento mental no mundo do trabalho”, o médico Mariano Ravski, do Conselho Regional de Medicina (CRM), disse que os profissionais ligados à área de Medicina e Segurança do Trabalho devem, prioritariamente, ouvir o relato dos empregados que trabalham em áreas de produção e, concomitantemente, investigar as condições e o ambiente de trabalho que têm sido responsáveis pelo aumento das incidências de casos de transtornos mentais.


 


Ravski também criticou a subnotificação de informações, por parte das empresas, em relação aos casos de doença mental relacionados ao trabalho. O especialista divulgou dados do INSS, relativos a 2007, segundo os quais teriam sido registrados, oficialmente, através de Comunicações de Acidentes de Trabalho (CAT), apenas 205 casos, embora, verdadeiramente, tenham ocorrido 3.261 casos no período.


 


Durante os três painéis de debates realizados no seminário, especialistas em saúde do trabalhador também divulgaram outros dados  preocupantes, mostrando que, entre 2006 e 2008, conforme a Previdência Social, os casos de depressão e demais transtornos mentais e de comportamento associados ao trabalho aumentaram de 0,4% para 3% sua participação no volume total de auxílios-doença concedidos na categoria acidente de trabalho. Isso faz com que, no Brasil, a taxa de afastamento do trabalho por doenças seja três vezes maior que a média mundial, segundo informou Ismael Gomes de Oliveira, perito médico da Previdência Social, outro palestrante do evento.


 


“O seminário não apenas reforça a necessidade da continuidade dos debates sobre o tema da saúde mental dos trabalhadores, como reafirma a necessidade de estreitamento das relações entre os diversos atores sociais envolvidos com a questão e, principalmente, a implementação efetiva de programas de prevenção e políticas públicas para cuidar da saúde dos trabalhadores”, ressaltou Rogério Djalma de Oliveira, diretor responsável pelo Departamento de Saúde do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas.


 


De Betim,
Alexandre Magalhães