Concordata da GM pode atingir o Brasil
Após entrar com o pedido de proteção contra a falência em um tribunal de Nova York, a General Motors (GM) detalhou seus planos futuros para a marca. A intenção da gigante do automobilismo é diminuir de tamanho. Ao total, 14 fábricas serão desligadas at
Publicado 01/06/2009 13:28
A decisão de apostar em carros pequenos segue uma trajetória já anunciada pela montadora de focar em carros elétricos e se livrar do ''elefante branco'' Hummer (no passado, marca próspera da GM). A encruzilhada da marca agora é abandonar os grandes e beberrões automóveis (paixão dos norte-americanos até a crise financeira e o crescimento da consciência ''verde'') e seguir o caminho dos pequenos carros, que, até hoje, não agradaram o mercado dos Estados Unidos.
A companhia já afirmou que planeja se concentrar em quatro marcas principais: Chevrolet, Cadillac, Buick e GMC, e vai descontinuar a marca Pontiac até o final do próximo ano. Saab, Saturn e Hummer ainda são dúvidas. Na última quarta-feira, a montadora anunciou a separação total de sua filial alemã Opel, cedendo fábricas e patentes, com o objetivo de deixar o caminho livre para um possível comprador.
A montadora austríaco-canadense Magna chegou a um acordo com a GM no final de semana para salvar a Opel. De acordo com informações preliminares, a Magna pretende adquirir 20% da Opel, que junto aos 35% de seus parceiros russos somariam 55%. A GM manteria outros 35% e os 10% restantes ficariam com os funcionários da empresa. A Fiat, que fez um acordo com a Chrysler, também apresentou oferta pela Opel, assim como pelas operações da GM no Brasil e América Latina.
Carro pequeno
Os planos da Nova GM prevêem uma redução de 47 fábricas (em 2008), para 34 até 2010 e 33 em 2012. Com as reduções, a marca espera alcançar capacidade total de produção em suas fábricas até 2011, reduzindo o custo por carro e ampliando a eficiência do capital investido. Pelo acordo com o Tesouro dos Estados Unidos, a Nova GM vai focar nas marcas e operações mais fortes ao redor do mundo. O setor de serviços e peças da GM também interromperá a produção nas plantas de Boston, Ohio e Florida até 31 de dezembro.
Além disso, GM vai construir um futuro automóvel pequeno nos Estados Unidos utilizando uma fábrica de montagem de UAW-GM. ''Este novo carro pequeno desempenhará um papel vital nos planos da GM melhorar a eficiência de combustível da sua frota de veículos. Automóveis compactos representam um dos segmentos mais rápido crescimento n os Estados Unidos e em todo o mundo'', disse a marca em comunicado. A fábrica designada aos veículos pequenos terá capacidade de construir 160 mil carros no futuro.
Liderança
A GM liderava em 2000 o ranking das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, divulgado pela revista Fortune, e se manteve entre as três primeiras até 2007, mesmo registrando prejuízos anuais consecutivos desde 2005. As perdas já acumulam cerca de US$ 90 bilhões, com o declínio das vendas que atingiam 40% no mercado americano em 1980 e atualmente representam 19%.
Com o agravamento da crise financeira no segundo semestre de 2008, a situação da montadora se complicou e governo do presidente Barack Obama se viu obrigado a emprestar aos poucos quantias que alcançaram a cifra de US$ 19,4 bilhões. Estes empréstimos permitiram a empresa a continuar operando suas fábricas no país. No Canadá, a GM também teve que recorrer a empréstimos governamentais.
Sindicato
Como no caso da Chrysler, que está em concordata desde 30 de abril, a GM chegou a acordos com seus funcionários para reduzir custos trabalhistas e encargos financeiros relacionados com a dívida que a empresa mantém com eles — cerca de US$ 20 bilhões em conceito de contribuições a um fundo de investimentos que tem que oferecer atendimento de saúde a trabalhadores da ativa e aposentados.
Nas últimas semanas, o Tesouro norte-americano e a empresa negociaram com os credores e o sindicato de trabalhadores (UAW, na sigla em inglês), mas não foram bem sucedidos em trocar a dívida total por ações da nova companhia criada para reestruturar as operações, com menos custos de produção, dívidas muito menores e menos fábricas, modelos, marcas e concessionárias.
Diferença
O pedido de concordata da GM norte-americana poderá afetar a subsidiária no Brasil, segundo avaliação do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano.“De certa forma, algum impacto deve chegar ao Brasil. No entanto, o que nos diz o presidente da GM no Brasil é que, de primeiro momento, não haverá reflexo nenhum. As fábricas do Brasil têm autonomia e podem andar com as próprias pernas”, afirma o vice-presidente da entidade, Francisco Nunes Rodrigues.
No Brasil, a empresa tem fábricas em São Caetano, São José dos Campos e Gravataí (RS), além de uma autopeças em Mogi das Cruzes. Segundo Rodrigues, um dos possíveis reflexos pode ser a rejeição dos consumidores à marca. “O produto fabricado no Brasil é diferente do tipo de veículo produzido nos Estados Unidos. Mas pode ser que haja uma pequena retração de alguns consumidores. Além disso, com essa concordata, pode ser que a GM tenha alguma dificuldade em obter financiamentos”, acredita.
Reunião
O vice-presidente do sindicato também admite a possibilidade de a subsidiária brasileira precisar enviar recursos à matriz. “Mas é justamente em relação a isso é que vamos ficar em cima. Já procuramos os sindicatos de Gravataí, Mogi das Cruzes e São José dos Campos para que a gente possa tirar planos de luta para defender o emprego aqui no Brasil. Não vamos concordar de forma nenhuma que se tire dinheiro daqui para enviar para os Estados Unidos. Quanto a isso vamos tomar todas as precauções”, garante.
Apesar de admitir possíveis impactos no país, Rodrigues descarta a possibilidade de demissões. “As demissões estão descartadas por aqui. A produção está a todo vapor”, tranquiliza. Para evitar que se crie um clima negativo entre os trabalhadores, Rodrigues afirma que o sindicato divulgará boletins informativos sobre o assunto. “Fica um clima ruim, mas a gente está procurando amenizar o clima de apreensão, dizendo que a realidade da planta aqui de São Caetano não tem nada a ver com os Estados Unidos”, diz.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano e a GM têm uma reunião agendada nesta sexta-feira (5) para tratar do assunto. “Aí sim teremos condições de fazer uma avaliação da concordata da matriz e do futuro da empresa no nosso país”, prevê Rodrigues. A GM foi procurada pela reportagem, mas informou que não irá falar sobre o assunto nesta segunda-feira. Segundo a assessoria de imprensa da montadora, eventuais comentários sobre a concordata da matriz só serão divulgados amanhã.
Chrysler
A crise da Chrysler também continua rendendo intervenções do gob=verno norte-americano. Obama, afirmou nesta segunda-feira que a decisão da justiça de Nova York abre o caminho para a saída da Chrysler da concordata, dando uma segunda chance à empresa. ''Há apenas um mês, o próprio futuro desta grande empresa norte-americana parecia comprometido. Hoje, graças ao compromisso substancial do governo e aos difíceis sacrifícios consentidos por todas as partes envolvidas, a Chrysler tem uma segunda oportunidade'', afirmou Obama em um comunicado divulgado pela Casa Branca.
Um juiz de falências de Nova York aprovou no domingo a venda da Chryslyer para a italiana Fiat. ''A moção de venda é aprovada em sua totalidade e se autoriza sua execução em respeito ao acordo de aquisição e da transação de venda'', disse o juiz de Nova York responsável pelo caso, Arthur Gonzalez, em seu relatório de 47 páginas.
Com agências e informações do jornal Diário do Grande ABC