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Em entrevista, Dirceu diz que “a tendência é a vitória da Dilma”

Em entrevista à revista Época, o ex-ministro José Dirceu procura mostrar entusiasmo com a candidatura de Dilma à Presidência, para a qual, diz ele, não há alternativas. Segundo Dirceu, 2010 “será uma eleição, como todas as outras que nós dispu

A doença da ministra Dilma Rousseff aumentou as incertezas em relação à sucessão presidencial. O PT deveria pensar em alternativas?
José Dirceu – Não. O PT não piscou. Fez o certo. A Dilma é candidata. Não vejo nenhuma razão em mudar os planos por causa de um câncer, um linfoma. Eu mesmo convivi com vários amigos que tiveram esse câncer, continuaram trabalhando, superaram e estão aí em plenas condições. Não vejo da parte do PT, nem da parte do presidente Lula, nem dos aliados, essa expectativa de troca de pré-candidata.



O presidente Lula já disse várias vezes que não quer o terceiro mandato consecutivo, mas parlamentares da base do governo não deixam o assunto morrer. Por que o presidente não consegue convencer os próprios aliados?
Dirceu – Isso é natural por causa da força popular do Lula. Também porque ele seria eleito para o terceiro mandato. A maioria dos eleitores não condena o terceiro mandato, porque o terceiro mandato, se aprovado pelo Congresso, não será inconstitucional. Se o terceiro mandato fosse inconstitucional, a reeleição do Fernando Henrique seria inconstitucional. O problema é outro: nós não devemos fazer isso.



Por quê?
Dirceu – Porque não interessa para a democracia, não interessa para o país. Imagine se nós tivéssemos optado por uma campanha pelo terceiro mandato e em seguida viesse a crise internacional? Eu combati. Não com o argumento que o Diretório Nacional (do PT) adotou, dizendo que é inconstitucional e antidemocrático. Mas o terceiro mandato não é do interesse da democracia brasileira, nem do Brasil, nem do PT. Reeleição já está bom demais. Devemos exercitá-la por mais 20 anos.



Que tipo de impacto a doença de Dilma poderá ter no eleitorado?
Dirceu – Não dá para saber hoje. Pelas pesquisas que fizemos, ela continua subindo. E 54% do eleitorado continua desconhecendo que ela é a candidata do Lula. Hoje, ela, o Aécio e o Ciro estão empatados. Antes do são-joão (24 de junho), ela vai estar na frente de todo mundo, menos do Serra. Eu acredito que quando começar a campanha eleitoral a Dilma e o Serra já estarão empatados. Na pesquisa espontânea, já estão. Será uma eleição, como todas as outras que nós disputamos, muito difícil. Mas não vejo o país entregando o governo para os tucanos, votando no Serra para presidente da República.



Por quê?
Dirceu – Qual a razão que o eleitor tem para mudar o rumo do país? Por que não continuar com um governo em que o Lula é o fiador? Eu não vejo (razão). Principalmente se nós tivermos alianças, como já aconteceu no Rio, e se avançarmos em Minas e na Bahia. Não é uma eleição em que a tendência é a vitória do PSDB. A tendência é a vitória da Dilma.



A crise econômica não atrapalha a candidatura da Dilma?
Dirceu – Nós estamos saindo da crise econômica. O Brasil é o primeiro país do G20, fora a China, que cria emprego. Vamos criar 150 mil empregos a partir do mês que vem. A economia no último trimestre deverá estar crescendo bem. O impacto negativo nas manufaturas e nas exportações metálicas e de alimentos tende a minorar. O país não tem problema nas contas externas, a inflação está caindo, a taxa Selic vai cair para 9%, espero eu. Isso representará 50% a menos do que a gente pagava pelo serviço da dívida pública.



O senhor desconsidera a possibilidade de candidatura de Aécio Neves?
Dirceu – Estou falando do Serra porque o Serra está na frente nas pesquisas e a cúpula do PSDB já optou por ele. Mas não desconsidero o Aécio, até porque o Aécio derrotou o Serra na bancada, né? Na escolha do líder na Câmara, o José Aníbal (deputado de São Paulo) foi eleito no lugar do Paulo Renato (atual secretário de Educação de São Paulo)



O Serra tem vários problemas. Um deles é o Aécio. O Aécio vai querer disputar as prévias e tem um discurso que agrada mais que o do Serra. Outro problema dos tucanos é de proposta. Eles não têm uma alternativa ao que estamos fazendo. Em São Paulo, o governo Serra tem problemas graves nas áreas de segurança e educação.



Onde está então a força da candidatura do Serra?
Dirceu
– Ele tem o governo de São Paulo. O PSDB está no governo desde 1982 em São Paulo. O que era o PMDB, a direita em São Paulo, está hoje no PSDB. O Quércia está totalmente integrado (ao PSDB). É simbólico que o vice-governador seja o Alberto Goldman e que o candidato seja o Aloysio Nunes Ferreira, dois braços direitos do Quércia. É a oligarquia no poder, de outro tipo. O Serra tem outro benefício: não há com ele, na mídia em São Paulo, a mesma postura que há em relação ao governo do Lula.



Que postura?
Dirceu – Postura de apoio a ele. Em São Paulo, a Marta Suplicy foi desconstruída em 2003 e 2004 para o Serra ganhar a eleição em 2004. Não estou dizendo que sem isso a Marta ganharia, mas que houve isso, houve.



Fonte: Época