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Fidel aponta contradições em discurso de Obama no Cairo

O líder cubano Fidel Castro alternou, nesta terça, elogios, questionamentos e críticas ao analisar o discurso feito, no último dia 4, no Cairo, pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dirigido ao mundo muçulmano. Ele afirma que ''não s

''É claro que ele deseja encontrar uma saída ao colossal enredo criado ali por seus antecessores e pelo próprio desenvolvimento dos eventos durante os últimos 100 anos'', escreve Fidel.

Segundo o líder cubano, a maior dificuldade de Obama está no fato de ''que os princípios dos quais ele fala estão em contradição com a política seguida pela superpotência durante quase sete décadas''.

''Cada uma das normas das quais Obama falou no Cairo estão em contradição com as intervenções e as guerras promovidas pelos EUA'', afirma.

O líder cubano lembra ainda que os ''EUA nunca se opuseram à conquista por Israel de territórios árabes, nem protestou sobre os métodos terroristas empregados contra os palestinos''.

''Pelo contrário, criou ali uma potência nuclear, das mais avançadas do mundo, em pleno coração do território árabe e muçulmano, criando no Oriente Médio um dos pontos mais perigosos do planeta'', argumenta Fidel na coluna.

Após várias críticas aos EUA, Fidel reconhece que Obama ''possui uma capacidade de trabalho impressionante''. ''Passará tempo e não se verá um caso igual'', diz.

Leia a íntegra do artigo



Reflexões do companheiro Fidel

O discurso de Obama no Cairo

Obama pronunciou, na Univesridade Islâmica de Al-Azhar, no Cairo, um discurso de especial interesse aos que acompanham de perto suas ações políticas, dado o enorme poder da superpotência que dirige. Utilizo suas próprias palavras para assinalar o que, ao meu ver, foram as ideias básicas expressadas por ele, sintetizando assim seu discurso, por uma questão de tempo. Não só devemos saber que ele falou, como também de que falou.

''Nos congregamos em um momento de tensão entre Estados Unidos e muçulmanos ao redor do mundo…''

''A relação entre o Islã e o Ocidente inclui séculos de coexistência e cooperação, porém também de conflitos e guerras religiosas''.

''(…) o colonialismo negou direitos e oportunidades  a muitos muçulmanos, (…) a Guerra Fria utilizava os países de maioria muçulmana como agentes, sem ter em conta suas aspirações próprias''

''Extremistas violentos aproveitaram estas tensões…''

''(…) levando algumas pessoas do meu país a considerarem o Islã inevitavelmente hostil não só com os Estados Unidos e os países do Ocidente, mas também com os direitos humanos''.

''Vim aqui buscar um novo começo para os Estados Unidos e os muçulmanos ao redor do mundo, baseado em interesses mútuos e no respeito mútuo…''

''(…) coincidem em parte e têm princípios comuns, princípios de justiça, progresso, tolerância e respeito à dignidade de todos os seres humanos''.

''Nenhum discurso, por si só, pode acabar com anos de desconfiança, nem posso, no tempo que tenho, responder a todas as perguntas complexas que nos foram trazidas neste momento''.

''Como nos diz o sagrado Corão, 'tenham consciência de Deus e digam sempre a verdade''

''Sou cristão, porém, meu pai pertencia a uma família do Kênia que inclui várias gerações de muçulmanos. De pequeno, passei vários anos na Indonésia e escutei o chamado de Azán ao amanhecer e ao entardecer. Jovem, trabalhei em comunidades de Chicago, onde muitos encontravam dignidade e paz em sua religião muçulmana''.

''Foi o Islã que – em lugares como a Universidade Al-Azhar – levou a tocha do aprendizado durante muitos séculos e preparou o caminho para o renascimento e o Século das Luzes na Europa''.

''(…) desde nossa fundação, os muçulmanos estadunidenses enriqueceram os Estados Unidos''.

''Lutaram em nossas guerras, trabalharam para o governo, defenderam os direitos civis''

''É parte da minha responsabilidade como presidente dos Estados Unidos lutar contra os estereótipos negativos do Islã, de onde quer que sejam''

''(…) os Estados Unidos não se ajusta ao estereótipo duro de um império que se preocupa só com os seus interesses''.

''O sonho de oportunidades para todas as pessoas não se transformou em realidade em todos os casos…''

''As palavras por si sós não satisfazem as necessidades de nossos povos.''

''Quando uma nova gripe infecta o ser humano, todos estamos em perigo''

''Qunado uma nação procura armas nucleares, todas as nações correm maior risco de um ataque nuclear''

'' (…) Qualquer regime no mundo que eleve uma nação ou grupo humano acima dos outros, inevitavelmente fracassará''.

''Em Ankara, deixei claro que os Estados Unidos não estão e nunca estarão em guerra contra o Islã''.

''(…) rechaçamos o mesmo que as passoas de todos os credos rechaçam: o assassinato de homens, mulheres e crianças inocentes''

''(…) há quem questione ou justifique os acontecimentos do 11 de setembro''.

''As vítimas foram homens, mulheres e crianças inocentes dos Estados Unidos''.

''(…) que fique claro: não queremos manter nossas tropas no Afeganistão. Não queremos ter bases militares lá. É doloroso para os Estados Unidos perdermos nossos jovens. Continuar este conflito tem um custo político e econômico muito alto. De muita boa vontade faríamos regressar a casa todas as nossas tropas, se tivéssemos a certeza de que não existem extremistas violentos no Afeganistão e Paquistão decididos a assassinar todos os estadunidenses que possam''.

''O sagrado Corão ensina que quem mata um inocente mata toda a humanidade; e quem salva uma pessoa, salva toda a humanidade''.

''À diferença do Afeganistão, nós escolhemos ir à guerra no Iraque, e isso provocou forte antagonismo em meu país e ao redor do mundo''

''(…) também creio que os acontecimentos no Iraque relembraram aos Estados Unidos que é necessário usar a diplomacia e promover consensos a nível internacional para resolver nossos problemas quando possível''

''Hoje, os Estados Unidos tem uma dupla responsabilidade: ajudar o Iraque a forjar um futuro melhor e a deixar o Iraque nas mãos dos iraquianos.

''Disse claramente ao povo inaquiano que não queremos bases militares e não queremos reclamar nenhuma parte de seu território nem de seus recursos''.

''A soberania do Iraque é toda sua. Por isso ordenei o retorno de nossas brigadas de combate para o próximo agosto''.

''(…) nossas tropas de combate das cidades iraquianas para julho e a retirada de todas as nossas tropas do Iraque para 2012.

''O 11 de setembro foi um trauma enorme para nosso país''.

''(…) em alguns casos, nos levou a atuar contra nossos ideais''

''Proibi inequivocamente o uso de tortura pelos Estados Unidos e ordenei que se feche a prisão da bahía de Gunatânamo no começo do próximo ano''.

''(…) os Estados Unidos se defenderá, respeitando a soberania das nações e o império da lei''.

''A segunda fonte importante de tensão que necessitamos discutir é a situação entre israelenses e o mundo árabe''.

''Os estreitos vínculos dos Estados Unidos com Israel são muito conhecidos. Esse vínculo é inquebrável''

''Por outro lado, também é inegável que o povo palestino – muçulmanos e cristãos – sofreram na luta por sua pátria. Durante mais de sessenta anos, padeceram a dor do deslocamento''.

''Muitos esperam, em acampamentos para refugiados na Ribera Ocidental, Gaza e terras vizinhas, uma vida de paz e segurança que nunca tiveram''.

''(…) que não fique dúvida nenhuma: a situação para o povo palestino é intolerável. Os Estados Unidos não vão dar as costas para as aspirações legítimas dos palestinos de dignidade, oportunidade e um estado próprio.''

''… dois povos com legítimas aspirações, cada um com uma dolorosa história, que torna difícil chegar a acordo.''

''É fácil atribuir a culpa. Para os palestinos, culpar o deslocamento à raíz da fundação de Israel. E para os israelenses, culpar a constante hostilidade e ataques realizados em toda a sua história dentro e fora das suas fronteiras.''

''… Se virmos o conflito a partir de apenas um lado ou do outro, então não podemos ver a verdade.''

''… A única solução é que as aspirações de ambas as partes satisfaçam os dois estados, onde israelenses e palestinos tenham paz e segurança''.

''Durante séculos, as pessoas de cor nos Estados Unidos sofreram o açoite do chicote como escravos e a humilhação de segregação. Mas não foi com violência que se conquistaram direitos plenos e igualdade''.

''O Hamas tem de cessar a violência, reconhecer acordos passado e reconhecer o direito de Israel de existir.''

''(…) os israelitas devem reconhecer que, tal como ninguém pode negar o direito de Israel de existir, não pode negar o Território Palestino. Os Estados Unidos não aceitam a legitimidade de mais assentamentos israelenses.''

''Esta construção viola acordos e compromete os esforços para alcançar a paz. É hora de parar os assentamentos.''

''Israel tem de cumprir suas obrigações para garantir que palestinos possam viver e trabalhar e desenvolver a sua sociedade''.

''Os progressos na vida quotidiana do povo palestiniano devem ser parte do caminho para a paz, e Israel deve tomar medidas concretas para permitir este progresso.''

''O conflito árabe-israelense já não deveria ser usado para distrair as pessoas de países árabes e dissimular a existência de outros problemas.''

''A terceira fonte de tensão é o nosso interesse comum nos direitos e responsabilidades dos países, no que diz respeito às armas nucleares.''

''No meio da Guerra Fria, os Estados Unidos desempenharam um papel importante na derrubada de um governo  iraniano democraticamente eleito.''

''Desde a revolução islâmica, o Irã tem desempenhado um papel em sequestros e atos de violência contra os militares e civis estadunidenses.''

''Em vez de ficar preso no passado, deixei claro para os líderes e o povo do Irã que o meu país está pronto para deixar isso para trás. A questão agora não é a que se opõe o Irã, mas sim, que futuro quer construir. ''

''Vai ser difícil superar décadas de desconfiança, mas avançaremos com coragem, honestidade, e convicção. Haverá muitos tópicos a serem discutidos entre os nossos dois países, e estamos prontos para ir em frente, sem condições prévias  e baseados no respeito mútuo.''

''Eu compreendo quem protesta pelo fato de alguns países terem armas que outro não têm. Nenhum país, por sua própria escolha, deve escolher que países devem ter armas nucleares. É por isso que eu tenho reafirmado fortemente o compromisso dos EUA de buscar um mundo no qual nenhum país tenha armas nucleares. ''

''(…) todo país, incluindo o Irã, deve ter o direito de utilização pacífica da energia nuclear se cumprir as suas responsabilidades no âmbito do Tratado de Não-Proliferação Nuclear''.

Nestes primeiros três temas do seu discurso está contido o objetivo fundamental da sua visita à Universidade Islâmica no Egito. Não se pode culpar o novo Presidente dos Estados Unidos pela situação criada no Médio Oriente.

É claro que ele quer encontrar uma saída para o colossal enredo criado ali pelos seus antecessores e pela própria evolução dos acontecimentos ao longo dos últimos 100 anos.

Nem sequer o próprio podia imaginar, quando trabalhava nas comunidades negras de Chicago, que os terríveis efeitos de uma crise financeira se somariam aos fatores que tornaram possível a sua eleição como presidente, em uma sociedade altamente racista.

Assume o cargo em um momento extraordinariamente complexo do seu país e do mundo. Tentar resolver problemas que talvez considere mais simples do que eles realmente são. Séculos de exploração colonial e capitalista resultaram em um mundo onde um punhado de países ricos e superdesenvolvidos coexiste com outros imensamente pobres que fornecem matérias-primas e força de trabalho.

Se somarmos a China e a Índia, dois países emergentes realmente, a luta pelos recursos naturais e os mercados configuram uma nova situação em todo o planeta onde a própria sobrevivência humana está por se resolver.

A raiz africana de Obama, sua origem humilde e sua surpreendente ascensão despertam esperança em muitas pessoas que, como náufragos, buscam tábuas de salvação no meio da tempestade.

É correta a sua afirmação de que ''qualquer regime do mundo que eleve uma nação ou grupo de pessoas em detrimento de outro inevitavelmente fracassará'', ou quando afirmou que ''pessoas de todos os credos rechaçam o assassinato de homens, mulheres e crianças'', ou confirma para o mundo a sua oposição ao uso da tortura.

Em geral, muitas das declarações mencionadas na teoria são corretas; se percebe claramente a necessidade de todos os países, sem exceção, naturalmente, renunciem às armas nucleares.

Conhecidas e influentes personalidades nos Estados Unidos veem isso um grande perigo, à medida em que a tecnologia e a ciência generalizam o acesso a materiais radioativos e às formas de  usá-lo, mesmo em pequenas quantidades.

Ainda é cedo para fazer julgamentos sobre o seu grau de compromisso com as ideias que defende e em que medida está determinado a manter, por exemplo, o propósito de procurar um acordo de paz sobre bases justas, com garantias para todos os Estados do Oriente Médio.

A grande dificuldade do atual presidente é que os princípios que ele prega estão em contradição com a política seguida pela superpotência há quase sete décadas, desde o fim das últimas batalhas da Segunda Guerra Mundial, em

Agosto de 1945. Faço abstração neste instante da política agressiva e expansionista implementada com os povos da América Latina e especialmente com Cuba, quando estava longe de ser a mais poderosa nação do mundo.

Cada uma das regras que Obama pregou no Cairo estão em contradição com as intervenções e guerras promovidas pelos Estados Unidos. A primeira delas foi a famosa Guerra Fria, que ele menciona no seu discurso, desencadeada pelo governo de seu país. Diferenças ideológicas com a URSS não justificavam a hostilidade deste Estado, que empenhou mais de 25 milhões de vidas na luta contra o nazismo.

Obama não estaria recordando nesses dias o 65 º aniversário do desembarque da Normandia e da libertação da Europa sem o sangue de milhares de soldados que morreram lutando contra as tropas de elite do nazismo.

Aqueles que liberaram os sobreviventes do famoso campo de concentração Osviecim foram os soldados do exército soviético. O mundo ignorava o que estava acontecendo, apesar do fato de que em muitos círculos oficiais no Ocidente se conheciam os fatos.

Como milhões de crianças, mulheres e idosos judeus foram assassinados de forma atroz, milhões de crianças, mulheres e idosos russos morreram em resultado da brutal invasão nazi buscando espaço vital. O Ocidente fazia concessões a Hitler e conspiravam para lançá-lo e, finalmente, o lançou para ocupar e colonizar o território escravo.

Na Segunda Guerra Mundial os soviéticos foram aliados dos Estados Unidos e não os seus inimigos.

Em Hiroshima e Nagasaki, duas cidades indefesas, lançaram e provaram os efeitos de duas bombas nucleares. Aqueles que faleceram eram em sua maioria crianças, mulheres e idosos japoneses.

Ao analisarmos as guerras promovidos, apoiados ou realizados pelo Estados Unidos na China, Coreia, Vietnã, Laos, Camboja, entre os milhares que morreram, muitos eram crianças, mulheres e idosos.

As guerras coloniais em Portugal e na França após a Segunda Guerra Mundial tiveram o apoio dos Estados Unidos; os golpes e intervenções na América Central, Panamá, Santo Domingo, Granada, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru e Argentina, foram todos promovidos e apoiados pelos Estados Unidos.

Israel não era uma potência nuclear. A criação de um estado em território de onde os judeus foram expulsos para o exílio pelo Império Romano, dois mil anos atrás, foi apoiada, em boa fé, pela URSS e muitos outros países do mundo.

No triunfo da Revolução Cubana mantivemos relações com esse Estado durante mais de uma década, até que suas guerras de conquista contra os palestinianos e outros povos árabes nos levou à cisão. O respeito total ao culto a à atividade religiosa judaica foi mantida sem interrupção.

Os Estados Unidos nunca se opuseram à conquista de territórios árabes por Israel, nem protestou pelos métodosos terroristas empregados contra os palestinianos. Pelo contrário, criou ali uma potência nuclear, das mais avançadas do mundo, no coração do território árabe e muçulmano, criando, no Oriente Médio,  um dos pontos mais perigosos do planeta.

A superpotência também utilizou Israel para abastecer com armas nucleares o exército do apartheid na África do Sul para utilização contra tropas cubanas que, juntamente com Angola e Namíbia defendiam a República Popular de Angola. Os fatos são muito recentes e o atual presidente dos EUA com certeza os conhece. Nós não somos alheios à agressividade e ao perigo que significa para a paz o potencial nuclear de Israel.

Após os primeiros três pontos, Obama, em seu discurso no Cairo, se deicou a filosofar e estabelecer cátedra sobre política externa:

''A quarta questão que desejo tratar é a democracia'', disse ele.

''(…) Deixe-me ser claro: nenhuma nação pode ou deve impor um sistema de governo de uma nação.''

''Os Estados Unidos não pretendem saber o que é melhor para todos e não procurar determinar o resultado de eleições pacíficas.''

''Mas eu tenho uma inabalável crença de que todas as pessoas anseiam por certas coisas: a capacidade de falar livremente e ter voz e voto na forma de governo; a confiança no Estado de direito e na imparcialidade da justiça''

''Essas não são apenas ideias estadunidenses, são direitos humanos, e é por isso que nós as apoiaremos por toda parte.''

''A quinta questão que temos de enfrentar em conjunto é a liberdade religiosa''.

''O Islã tem uma orgulhosa tradição de tolerância . Eu vi com meus próprios olhos de criança na Indonésia, onde devotos cristãos praticavam a sua religião livremente em um país predominantemente muçulmano.''

''Entre alguns muçulmanos, há uma tendência preocupante de medição de crenças baseado na rejeição dos outros.''

''(…) devem também acabar as divisões entre os muçulmanos, já que a separação entre sunitas e xiitas levou à trágica violência, particularmente no Iraque.''

'' (…) é importante que os países do Ocidente evitem impedir que os cidadãos muçulmanos possam praticar sua religião como entenderem, por exemplo, ditando que roupa as mulheres devem usar. Nós não podemos esconder a hostilidade a qualquer religião, sob o pretexto do liberalismo. ''

''Eu rejeito a opinião de algumas pessoas no Ocidente de que as mulheres que optam por cobrir os cabelos são, de certa forma, menos iguais, mas acho que a uma mulher à qual se nega educação, se nega igualdade. E não é por coincidência que nos países onde as mulheres têm uma boa educação é mais provável que sejam muito prósperos.''

''(…) A luta pela igualdade para as mulheres continua em muitos aspectos da vida americana, e em vários países do mundo.''

''Nossas filhas podem ajudar tanto a sociedade como nossos filhos, e a nossa prosperidade comum pode ser promovida se permitirmos que toda a humanidade, tanto homens quanto mulheres, alcance o seu pleno potencial.''

''A Internet e a televisão podem trazer conhecimento e informação, mas também sexualidade ofensiva e violência irracional. O comércio pode trazer novas riquezas e oportunidades, mas também enormes alterações e mudanças para as comunidades.''

''(…) investiremos na educação através da Internet para professores e crianças em todo o mundo, e criaremos uma nova rede da Internet, de forma que uma adolescente no Kansas possa se comunicar instantaneamente com um adolescente, no Cairo.''

''(…) nós temos uma responsabilidade de nos unirmos para o bem do mundo que queremos alcançar: um mundo onde os extremistas não ameaçam nosso povo e soldados americanos possam voltar para casa; um mundo em que israelitas e palestinos tenham garantia de um estado próprio, a utilização de energia nuclear seja para fins pacíficos''

''Esse é o mundo que queremos. Mas só podemos alcançá-lo juntos.''

''É mais fácil começar guerras que levá-las ao seu fim.''

''Trate os outros como você quer ser tratado.''

''Nós temos o poder de criar o mundo que queremos, mas só se tivermos a coragem de criar um novo começo, mantendo em mente o que está escrito''.

''O Sagrado Alcorão diz:'' Oh homem! Nós criamos homens e mulheres, e os temos agrupados em nações e tribos, para que possam ficar a conhecer-se mutuamente. ''

''O Talmud diz:'' Toda a Torá visa promover a paz. ''

''A Bíblia diz:'' Felizes os que promovem a paz, eles serão chamados filhos de Deus. ''

''Os povos do mundo possam viver juntos em paz.''

Como foi visto, ao abordar o quarto tema de seu discurso na Universidade Al-Azhar, Obama incorre em uma contradição. Depois de iniciar a sua intervenção afirmando que ''(…) nenhuma nação pode ou deve impor um sistema de governo de uma nação'', um princípio consagrado na Carta das Nações Unidas como um direito fundamental internacionalmente, ele, imediatamente, se contradiz com uma declaração de fé que converte os Estados Unidos em juiz supremo dos valores democráticos e dos direitos humanos.

Alude logo a questões relacionadas com o desenvolvimento econômico e igualdade de oportunidades. Faz promessas para o mundo árabe, assinala vantagens e contradições. Parece realmente uma campanha de relações públicas por parte dos Estados Unidos com os países muçulmanos, que, em qualquer circunstância, é melhor do que a ameaça de bombardeá-los e destruí-los.

No final do discurso há uma mistura de temas.

Levando em consideração o todo do discurso, o número de lapsos é insignificante em comparação com seu predecessor, que se equivocava a cada parágrafo. Tem grande capacidade de comunicação.

É só observar com interesse as cerimónias históricas, políticas e religiosas.

A Universidade de Al-Azhar me parecia uma imagem irreal. Nem Pope Benedict XVI falara frases mais ecumênicas que as de Obama. Imaginei por um segundo o piedoso crente muçulmano, católico, cristão ou judeu ou de qualquer outra religião, a ouvir o presidente no grande salão da Universidade de Al-Azhar. Em determinado momento, não saberia se estava em uma catedral católica, um templo cristão, uma mesquita ou uma sinagoga.

Partiu cedo para a Alemanha. Durante três dias ele visitou pontos de significado político. Participou e falou em todas as celebrações. Visitou museus e reuniu-se com a família, jantou em restaurantes famosos. Tem uma impressionante capacidade de trabalho. Passará tempo e não se verá um caso igual.

Fidel Castro

8 de Junho de 2008