Sem categoria

A visão kafkiana que Netanyahu tem do Estado palestino

Não há dúvidas de que o odioso discurso de Benyamin Netanyahu na universidade de Bar Ilan no último domingo (14) à noite, foi uma bofetada para todos aqueles que haviam concedido o benefício da dúvida ao chamado ''processo de paz'' entre o povo palesti

Em primeiro lugar, foi uma afronta descaradamente direta ao presidente Obama, que havia pensado bastante ingenuamente que as palavras bonitas acerca da paz fariam com que os dirigentes israelenses mudassem sua maneira fascista de pensar e reconsiderassem o tratamento colonial que inflingem ao povo palestino.



Há só uma semana Obama reiterou o compromisso dos Estados Unidos com a segurança de Israel, como se a entidade sionista, que possui centenas de ogivas nucleares, enfrentasse alguma ameaça real por parte de seus vizinhos. Entretanto, à luz do discurso domingueiro de Netanyahu, está muito claro que o apoio estadunidense a Israel serve somente para encorajar o Estado de apartheid e para fazê-lo adotar posturas ainda mais extremistas em relação à questão palestina.



O presidente Obama deveria refletir profundamente sobre este aspecto específico e reconsiderar toda a política estadunidense a respeito de Israel.



Em segundo lugar, a diatribe aborrecível foi uma bofetada para os regimes árabes chamados ''moderados'', como Egito, Arábia Saudita e Jordânia, que degradaram a si mesmos e a seus povos com o propósito de estar em bons termos com Israel e animá-lo a conceder uns mínimos direitos aos palestinos.



Por exemplo, alguns regimes árabes desempenharam um papel ativo em matar de fome e atormentar o povo palestino em Gaza, com a esperança de obter dos dirigentes sionistas o certificado de ''boa conduta''. Agora estes tiranos deveriam ter o valor e a dignidade de reconsiderar seu vergonhoso discurso anterior em relação a Israel e dar conta de que resulta completamente igual que os árabes e os muçulmanos tratem de apaziguar e de acomodar-se aos caprichos racistas de Israel, posto que a entidade sionista sempre permanecerá fiel a seus atrozes princípios de dominação e colonialismo.



Contudo, é óbvio que a maior bofetada foi para o regime palestino em Ramala, apoiado pelos Estados Unidos, especialmente para o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e seu primeiro-ministro de fato Salam Fayyadh, conhecido protegido da administração americana anterior de George W. Bush.



Todos sabemos muito bem que este regime colaboracionista fez o que pode, para demonstrar total submissão a Israel, o ocupante similar aos nazistas de nossa terra.



O Judenrat* de Ramala perseguiu o povo palestino para satisfazer Israel. Fez buscas contra milhares de ativistas palestinos islâmicos para demonstrar seu ''compromisso'' com os acordos de segurança forjados com o exército israelense. E mais recentemente assassinou cruelmente e sem piedade guerrilheiros da resistência no norte da Cisjordânia, uma proeza que recebeu grande quantidade de elogios das mesmas pessoas que haviam assassinado Abu Jihad, Ahmed Yasin e que possivelmente  envenenaram Iasser Arafat.



O que, de fato, Netanyahu estava dizendo domingo à noite a estes mesquinhos colaboracionistas é que dava no mesmo se degradarem ante Israel, inclusive matando seu próprio povo para salvaguardar a segurança dos assentamentos ilegais israelenses, porque seguirão sendo tratados com o completo desprezo que merecem.



Sem lugar para dúvidas, o discurso de Netanyahu foi o equivalente de uma completa negação de todos os ''acordos e convênios'' alcançados desde que se concluíram os infames Acordos de Oslo, há mais de 16 anos.



Netanyahu afirmou que estaria disposto a aceitar um castrado Estado palestino em alguma parte ''da Terra de Israel''. Entretanto, insistiu que esta entidade teria de ser estreitamente controlado por Israel e ser despojada de qualquer forma de soberania ou dignidade. E mais, o Estado que o dirigente sionista com mentalidade nazista tinha em mente para os palestinos teria características claramente kafkianas, já que seu espaço aéreo, suas águas territoriais, suas fronteiras, suas alfândegas, seus recursos de água e suas relações exteriores estariam controladas pelos Ubermenschen, o ''povo eleito'', a ''raça superior''.



Curiosamente, o primeiro-ministro israelense exigiu repetidamente que os palestinos deveriam reconhecer Israel como Estado do povo judeu. Para aqueles que não entenderam a retórica sionista, é importante esclarecer que termos como ''Estado judeu'' ou ''Estado do povo judeu'' são na realidade eufemismos para as semi-reveladas mas bem conhecidas intenções israelenses de deportar o milhão e meio de palestinos que vivem como cidadãos israelenses no Estado sionista. Portanto, na realidade, Netanyahu e seus seguidores estão exigindo ao povo palestino e a seus dirigentes que reconheçam solenemente que Israel teria o direito de ''limpar etnicamente'' os seus cidadãos palestinos no momento que lhe aprouver… porque Israel é o ''Estado do povo judeu'' e qualquer um que deseje ser tratado como cidadão de plenos direitos terá de ser judeu ou judia, ou converter-se ao judaísmo.



Além disso, o arrogante primeiro-ministro sionista reiterou suas idéias extremistas em relação a al-Quds al Sharif, ao jurar que a cidade santa de Jerusalém seguirá sendo a capital indivisível de Israel. também jurou manter a expansão dos assentamentos na Cisjordânia, fazendo pouco caso dos desejos da administração Obama.



Netanyahu, um mentiroso patológico e prevaricador bem conhecido, afirmou que essa entidade palestina imaginável terá de ser completamente desmilitarizada para descartar o surgimento de um regime do Hamas. Ignorou completamente o fato de que seu próprio governo está integrado por partidos similares ao Nacional-Socialista Alemão, o Partido Nazista, que nem sequer reconhecia a própria condição humana aos judeus.



Daí alguém se vê inclinado a perguntar a Netanyahu, e àqueles que sua retórica falsa segue seduzindo, como vai explicar ao resto do mundo que os judeus em Israel tenha o direito de eleger partidos que manifestam abertamente a ideologia nazista, como o ha’Bayt ha’Yahudi e o ha’Ichud ha’Leumi, enquanto os palestinos estão proibidos de eleger partidos como o Hamas, que realmente parece um grupo de escoteiros comparado a alguns grupos judeus virulentamente racistas, como o Chabad e o Kookites, cujos rabinos continuam argumentando que o Altíssimo criou os não judeus com duas pernas, quando deveria ter criado com quatro, igual aos demais animais.



É indubitável que o discurso de Netanyahu foi a caricatura de um dirigente completamente arrogante e megalômano, não muito diferente de Adolph Hitler, o Führer que acredita que os não judeus que vivem na ''Terra de Israel'' são filhos de um Deus menor ou desgraçados Untermenschen, que só serviam para serem escravos da raça superior judia. E, no caso de que repudiem a servidão e a escravidão, deverão ser desterrados para o deserto árabe ou, simplesmente, massacrados em massa, de acordo com o velho estilo da Bíblia.



A bola está agora no gramado da Casa Branca. Obama tem de demonstrar agora que é um homem de palavra, agindo imediatamente para conter esse monstro similar aos nazistas, que está claramente empenhado em atacar com furor cinco milhões de palestinos que clamam libertar-se de décadas da crueldade judaica-sionista.



Se Obama demonstrar ser incapaz de agir, ou não quiser fazê-lo, no sentido do discurso que proferiu no Cairo em 4 de junho, tanto árabes quanto muçulmanos, como todas as demais pessoas amantes da paz no mundo, teriam de aceitar e chegar à correta conclusão da horrível realidade nesta parte do mundo, que Israel é uma entidade maligna similar à nazista, empenhada a propagar as guerras e o caos no Oriente Médio e mais além.



Finalmente, a turbulência e a violência imensa resultante da ameaça sionista conseguirá, cedo ou tarde, que os Estados Unidos se afundem em guerras mais sangrentas em muitas partes do mundo muçulmano, guerras que destruirão ainda mais a economia americana e farão com que um número incalculável dos melhores filhos e filhas dos Estados Unidos percam suas vidas por Israel.



* Nota da tradutora: Judenrat, “Conselho Judeu” em alemão, eram os corpos administrativos que os nazistas obrigaram aos judeus formarem para administrar os territórios ocupados na Polônia e posteriormente na União Soviética. Serviam de ligação entre as autoridades alemãs da ocupação e a população judia ocupada.



Leia o original em : www.uruknet.info?p=55136