No Brasil, Zelaya recebe forte apoio de Lula e do Congresso
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que estava presente à reunião, Lula disse que vai falar com Obama sobre a questão, porque o Brasil entende que os golpistas só entenderão que não terão futuro no governo hondurenho com um recado claro dos Estados Unidos, por conta da vinculação econômica entre os dois países.
Publicado 12/08/2009 20:39
“Para que o presidente Zelaya volte rápido [a Honduras] é preciso que os golpistas entendam que eles não têm futuro e quem pode dizer isso com todas as letras para eles são os Estados Unidos, porque tem maior influência direta. Mas, isso dentro do marco multilateral e da carta democrática que todos apoiamos. É muito importante que isso ocorra", salientou o ministro.
Preocupação
Amorim disse ainda que preocupa ao Brasil a demora da negociação para o retorno de Zelaya ao poder de Honduras porque quanto menos tempo, menor a possibilidade de legitimar as eleições daquele país, marcadas para 28 de novembro desse ano.
“Nos preocupa, e o presidente expressou isso claramente para o presidente Zelaya. a demora (para o retorno a Honduras), porque a medida que o tempo vai passando a capacidade de que a volta do presidente Zelaya tem de legitimar as eleições vai se enfraquecendo. É preciso que o presidente Zelaya volte e volte rápido”, salientou Amorim.
Amorim Também afirmou que Lula deve falar com Obama para tratar da questão, mas não há data prevista para a conversa. “’É claro, o presidente se dispôs no momento adequado a falar com o presidente Obama. E, naturalmente, eu talvez tenha que falar antes, mas há ações dentro da OEA [Organização dos Estados Americanos] e não há duvida sobre o apoio do Brasil à volta imediata e incondicional do presidente Zelaya a Honduras”, revelou.
O ministro Amorim insistiu na ideia de que "os únicos que podem fazer os golpistas entenderem que não têm futuro são os EUA, por sua influência na região".
Zelaya: EUA podem fazer mais
O presidente deposto agradeceu o apoio do Brasil e disse que deseja se reunir com a secretária de estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton. “Eu espero me encontrar com a secretária Clinton”, disse.
O presidente hondurenho disse que está "convencido" de que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama "não vai brincar com seu prestígio e terá uma atitude mais firme contra os golpistas".
Zelaya também garantiu que não concorrerá à presidência se voltar a Honduras “de forma pacífica”. “As leis de Honduras não permitem a reeleição e eu não concorrerei”, salientou.
Zelaya fez as declarações em entrevista coletiva depois da reunião de cerca de duas horas com Lula, que reiterou seu apoio e lembrou a firmeza com a qual o Brasil condenou o golpe desde o primeiro momento.
"Honduras está submetida a uma ditadura, os Estados Unidos têm que tomar medidas mais firmes para reverter esse golpe de Estado por Honduras depende 70% de sua economia dos Estados Unidos", declarou Zelaya. O governo de Washington já suspendeu US$ 18 milhões em assistência ao regime que derrubou Zelaya.
Zelaya também explicou que tanto Lula, quanto ele estão de acordo que é necessário "planejar ações multilaterais de organismos como as Nações Unidas ou a Organização dos Estados Americanos (OEA)".
Neste sentido, o líder deposto afirmou que uma destas medidas seria "o não reconhecimento das eleições que surjam de um estado ilegal", como Zelaya se referiu ao próximo pleito que poderá ser realizado em Honduras, atualmente governada por Roberto Micheletti.
"É preciso levar em conta que este golpe foi o primeiro condenado pela OEA", afirmou Zelaya, que lembrou, além disso, que os Estados Unidos "patrocinaram" esta condenação.
Sobre o assunto, Zelaya afirmou que não acredita que Obama "tenha uma dupla moral, mas algumas forças internas nos EUA".
Durante seu discurso, o presidente deposto de Honduras lembrou também que a primeira parada do avião no qual foi expulso de seu país foi na base de Palmerola, em território hondurenho, mas com presença de militares americanos.
Para Zelaya, "nesse momento, os EUA e o Pentágono tinham que saber que havia um golpe de Estado em andamento" em Honduras e, por isso, pediu maior firmeza "para colocar um fim a este processo".
Visita ao Congresso
Depois de visitar Lula, Manuel Zelaya visitou o Congresso Nacional. No Senado, se reuniu com o presidente da instituição, José Sarney (PMDB-AP). Em um encontro de pouco mais de dez minutos no gabinete de Sarney, Zelaya agradeceu o empenho das lideranças brasileiras em favor do seu retorno ao comando do país.
Sarney garantiu "inteira solidariedade" a Zelaya e, em seguida, acompanhou o presidente de Honduras até o plenário da Casa. Parlamentares do PT, PCdoB e PSOL também manifestaram apoio ao retorno de Zelaya. "Jamais podemos aceitar a interferência no processo democrático de um país, sem o nosso protesto e a nossa luta para que isso possa ser superado", disse Sarney.
"Honduras está resistindo a um duro golpe político há 46 dias. Está resistindo a violação dos direitos humanos, censura da imprensa e torturas", denunciou Zelaya.
O líder hondurenho acompanha a sessão do Senado sem o tradicional chapéu que vem marcando as suas aparições. O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), disse a Zelaya que o Parlamento do Mercosul pediu a suspensão de todos os acordos bilaterais com o governo de Honduras, até que o líder de Honduras retorne ao poder.
Na Câmara dos Deputados, o líder hondurenho foi recebido pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP) e por uma grande comitiva de deputados de partidos como PT, PCdoB, PSOL, PV, PPS, PDT, PSB e até mesmo do DEM. Todos reafirmaram o apoio político do Brasil à restauração da democracia em Honduras e à restituição de Manuel Zelaya ao poder.
Com agências