Jungmann quer que Brasil peça desculpas para Honduras
O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) defendeu nesta quarta-feira (7) uma proposta, no mínimo, polêmica. Ele quer que o Brasil peça desculpas "ao povo hondurenho" por ter permitido que o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, desse declarações e entrevistas na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, capital do país, onde Zelaya está hospedado desde que voltou a Honduras com o objetivo de reivindicar o retorno ao cargo do qual foi deposto por um golpe militar.
Publicado 07/10/2009 15:39
“O governo agiu corretamente quando o abrigou dentro da nossa embaixada. Mas, a diplomacia brasileira cometeu um gravíssimo erro ao permitir que ele se manifestasse via embaixada brasileira. Por isso, devemos um pedido de desculpa ao povo hondurenho”, disse Jungmann ao relatar a viagem na Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Ao fazer a declaração, foi imediatamente retrucado pelo deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), que saiu irritado do plenário da comissão. “Eu quero é aplaudir o governo brasileiro”, gritou.
O "pedido de desculpas" é também uma reivindicação dos golpistas hondurenhos. No início do mês, os golpistas "exigiram" ao Brasil que a embaixada brasileira não fosse utilizada para "estimular uma insurreição" e deram um prazo de dez dias para a definição da condição de Zelaya –que acabaria nesta quarta-feira (7). Em comunicado, o governo golpista disse ainda que, caso o ultimato não fosse respeitado, tomaria "medidas adicionais", sem especificar quais seriam. Depois, recuou das ameaças, diante da firmeza com que o governo brasileiro respondeu, dizendo que não aceitava ultimato de golpistas.
Visita parlamentar
Para amenizar sua proposta — que pode ser qualificada como um desrespeito à diplomacia brasileira e um sinal de servilismo e de simpatia pelos golpistas — Jungmann ressaltou que o Brasil abrigou Zelaya na embaixada por conta de sua tradição humanitária. “Nos colocamos como uma nação que viveu os traumas de uma ditadura e aprendeu a respeitar suas instituições”.
Segundo ele, a principal queixa era quanto à falta de status jurídico de Zelaya, se abrigado ou asilado na embaixada. “Os hondurenhos disseram que essa indefinição propiciava os que favoreciam o governo Micheletti”, disse.
Na verdade, é justamente esta "indefinição" que permite ao presidente Manuel Zelaya continuar defendendo sua volta ao poder, do qual foi tirado ilegalmente, por um golpe militar. Caso Zelaya recebesse o status de asilado político, teria que abandonar o país e ficaria proibido de opinar politicamente sobre os rumos de Honduras. Mas parece que o deputado Raul Jungmann faltou a esta lição básica de política internacional.
Governo mantém apoio a Zelaya
O secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, reiterou ontem (6) que o governo brasileiro mantém o apoio ao presidente Manuel Zelaya e rechaça qualquer ameaça à democracia e tentativa de golpe de Estado.
A posição foi ratificada durante reunião com os integrantes da missão parlamentar brasileira que foi a Honduras. A comissão, composta por seis deputados, esteve na semana passada em Tegucigalpa para tratar das restrições impostas aos brasileiros na embaixada e, diplomaticamente colaborar com as negociações para o fim do impasse.
O grupo reafirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não participaram de nenhuma manobra para abrigar o presidente deposto Manuel Zelaya na embaixada brasileira.
Segundo os deputados que fizeram parte da missão, a diplomacia brasileira está convencida de que está próximo um acordo para encerrar a crise no país vizinho. “O embaixador Pinheiro Guimarães disse, mais uma vez, que o governo brasileiro não reconhece um governo golpista e que isso é um péssimo exemplo para a América Latina. Para ele, um acordo está bem próximo”, afirmou o deputado Ivan Valente (P-SOL-SP).
O deputado Maurício Rands (PT-PE) disse que os diplomatas brasileiros consideraram positiva a participação dos parlamentares na missão a Honduras. “O secretário-geral ratificou a posição do governo e elogiou a missão parlamentar por ter contribuído para preservar os direitos dos cidadãos brasileiros que vivem em Honduras, assim como para reduzir a tensão no país vizinho”, afirmou.
Para os parlamentares, tanto Manuel Zelaya quanto o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, dispõem-se a buscar uma alternativa negociada para encerrar a crise política que domina o país.
Da redação,
com agências