Favre: Os desdobramentos do Dilma lá e Ciro aqui
A candidatura Ciro Gomes ao governo de São Paulo (ver Lula: Dilma lá e Ciro aqui ) teria como primeiro resultado a unificação de uma boa parte da base do governo Lula, arrancando o PSB estadual da base de apoio de Serra.
por Luis Favre, no Blog do Favre
Publicado 21/10/2009 18:06
Persistindo Ciro no seu legítimo desejo de ser candidato a presidente em 2010, o PSB estadual estaria embarcando na candidatura do presidente da Fiesp ao governo do Estado -candidatura que dificilmente poderá alavancar a campanha Dilma em São Paulo, ou fechar uma aliança com o PT-, ou no apoio diretamente ao candidato tucano (ambas posturas estão longe de serem incompatíveis e podem se complementar).
Ao contrário, a candidatura Ciro ao governo estadual afasta Skaf da disputa e reduz o peso dos serristas no PSB. A aliança PT-PSB poderá incorporar sem maiores dificuldades o PCdoB e o PDT, assegurando essa frente à candidatura Ciro com um perfil opositor aos demo-tucanos e atraindo apoios à própria campanha da Dilma no bastião tucano.
Mas para isso é necessário convencer Ciro a desistir de sua candidatura nacional, o que exige também uma clara disposição do PT-SP -e não só de Lula- para pressionar o candidato socialista a aceitar esta mudança.
Como ficaria, nesse contexto, a legítima preocupação dos petistas com a eleição de deputados e senadores, na ausência do 13 na disputa do executivo paulista?
Este problema é bem menor na eleição dos deputados federais, que na disputa ao senado, por razões que dificultam objetivamente a disputa dos cargos ao Senado, para o PT.
A candidatura Ciro ao governo do Estado pode pesar na decisão de Serra de pleitear a reeleição, perante as crescentes incertezas do desfecho da disputa presidencial. Isto puxaria Alckmin para o Senado, além da candidatura Quercia garantida pelo PSDB, para manter o apoio do PMDB aqui (mesmo sem este cenário, setores do DEM, do PMDB e do PSDB querem descartar Alckmin para governador, em favor de Aloysio Nunes ou Kassab).
No campo do centro-esquerda as candidaturas ao Senado incluem, além de Mercadante que só poderá disputar, nesse contexto, sua reeleição; a candidatura Chalita pelo PSB (eventualmente a do próprio Skaf) e o candidato do PCdoB (com Netinho ou o próprio Aldo Rebelo). Como se vê, uma profusão de candidatos mais ou menos fortes. Para Mercadante e para o PT, uma verdadeira dificuldade a enfrentar, mas que não é insuperável. A condição sine qua non para Mercadante conseguir sua reeleição é o PT não apresentar nenhum outro nome próprio e de peso para o cargo e se mobilizar unido em favor do seu senador. Se for verdadeira a afirmação da jornalista Maria Inês Nassif que “O recuo do líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), quando, em plena crise no Senado, deixou a liderança, é atribuído à pressão de Lula – que teria deixado claro ao senador que não faria nenhum empenho por sua candidatura à reeleição se ele expusesse o governo com sua renúncia ao cargo.” (ver Resistência a Ciro só será superada com intervenção de Lula), Mercadante poderá contar a seu lado agora, e novamente, com o apoio de Lula para sua própria reeleição.
A disposição da ex-prefeita Marta Suplicy em disputar algum cargo em 2010, e tendo em conta as implicações que provocaria uma eventual candidatura Ciro a governador e de Chalita ao Senado, a levarão provavelmente a disputar para deputada federal -salvo a deslanchar uma guerra fratricida no PT, hoje com resultado mais que incerto- e permitirá ao PT obter uma expressiva bancada federal, diminuindo, para os atuais deputados candidatos à reeleição, o peso de não ter o 13 na disputa para governador. A ex-prefeita será assim o alicerce do crescimento do número de deputados federais do PT de São Paulo, ajudando a seu fortalecimento após os escândalos que o atingiram particularmente.
Os beneficios e os riscos da candidatura Ciro Gomes se deslocar para São Paulo justificam plenamente a atitude de Lula, tanto para a campanha da Dilma como para seu desdobramento no plano estadual. Mas, diferentemente do PT, onde a voz de Lula será prevalecente e preponderante, a decisão de Ciro depende dele próprio.
A lógica da articulação de Lula é que a candidatura Ciro à presidência, sem espaço político na polarização, sem alianças substanciais e sem tempo de TV, será desidratada. Ele conta, no momento oportuno, com a boa disposição do governador de Pernambuco do PSB, Eduardo Campos, para dar uma mãozinha no convencimento do Ciro. Ela requer que o Ciro não possa invocar pretextos para persistir na sua empreitada nacional. Lula espera que o PT-SP não forneça esse pretexto.
Tudo indica que será ouvido pelo PT de São Paulo.
A única incógnita será a resposta final do próprio Ciro… que chegará com as águas de março.