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Célio Turino lança Ponto de Cultura — O Brasil de Baixo para Cima

Idealizador e gestor dos Pontos de Cultura, Célio Turino lançará em São Paulo, na noite da próxima quarta-feira (11), Ponto de Cultura – O Brasil de Baixo para Cima. Publicado pela Editora Anita Garibaldi, o livro é uma reunião de relatos de experiências vividas pelo autor com o programa Pontos de Cultura.

Cinco anos atrás, a convite do então ministro Gilberto Gil, Turino — que é mestre em história pela Universidade de Campinas (Unicamp) — desenvolveu esse projeto de política pública voltado para a democratização da cultura. Lançados na gestão de Gil à frente do Ministério da Cultura (MinC) e mantidos na administração de Juca Ferreira, os Pontos de Cultura agregam diversas formas de expressão: música, poesia, literatura, artes plásticas e dança.

Espalhando-se por todos os cantos do país e possibilitando a expressão das múltiplas identidades culturais, os pontos envolvem as comunidades e seus líderes, funcionando como verdadeiros pontos de vida, de existência. Uma cartografia da cultura e da criatividade da população brasileira.

Turino conta, no livro, como o contato próximo com as pessoas se refletiu em sua trajetória de homem social e político. Com os pontos de cultura, ele acompanhou de perto o cotidiano de cidadãos comuns e extraordinários que deixaram de assistir para existir e passaram a exercer seu direito de manifestar-se culturalmente.

O leitor poderá, por exemplo, acompanhar a visita de Turino à tribo Yawalapíti, que vive no Parque Nacional do Xingu com mais 13 etnias. Em meio a dificuldades para preservar características culturais – entre elas, sua língua –, a tribo teve seu território reconhecido como Ponto de Cultura e conseguiu ajuda para ensinar o idioma a seus integrantes.

Também está no livro a Casa de Cultura Tainã, em Campinas, no interior de São Paulo. O núcleo cultural nasceu de modo independente após uma série de iniciativas tímidas na cidade, que iam de biblioteca a uma orquestra de tambores em metal.

Outro projeto abordado é o Vídeo nas Aldeias, em que cineastas indígenas produzem documentários e filmes de ficção. Falados em línguas como kaxinawá, kuikuro, huni-kuni e ashaninka, curta, média e longa-metragens são escritos, dirigidos e encenados pelos índios. Narrativas que estabelecem um diálogo pela voz de quem faz a própria cultura e não pela voz do “outro”.

Os depoimentos do autor também deixam clara a preocupação com as escolas públicas, que sofrem com a política educacional deficiente. Nesse setor, a ação dos Pontos de Cultura já é evidente: mais de cem colégios foram contemplados com o programa, que torna possível, entre outras atividades, o funcionamento de rádios locais – a exemplo da Escola Estadual Clóvis Borges Miguel, em Serra (ES), e sua Rádio Instrumental Educativa e do Colégio Estadual Vicente Januzzi, na periferia carioca, que oferece aos alunos estudo de filosofia por meio da MPB.

Conforme o sociólogo Emir Sader escreve no prefácio, a década de 90 sofreu nas políticas culturais o reflexo do que ocorria em uma série de áreas: o quase desaparecimento do poder público, ante uma classe empresarial que ganhou o direito de veto às culturas tradicionais do povo brasileiro, em benefício do que lhe fosse mais conveniente. Os Pontos de Cultura puderam revelar e apontar caminhos, compreender realidades, aproximar e reaproximar pessoas, contextos e leituras e criar outras legitimidades.

Além disso, a iniciativa fortaleceu o processo de mudança no modo de pensar política pública cultural porque expressam a cultura em suas dimensões ética, estética e econômica. O programa não se enquadra em fôrmas, não é erudito nem popular. Também não se reduz à visão de “cultura e cidadania” ou de “cultura e inclusão social”. É um conceito. Conceito de autonomia e protagonismo sociocultural.

Da Redação, com informações do site www.celioturino.com.br