Ipea: "Fatura" da crise ainda não está ganha para o Brasil
Apesar de reconhecer que o Brasil venceu as etapas mais difíceis da crise, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a "fatura ainda não está ganha" para o país.
Publicado 20/11/2009 13:12
Segundo o pesquisador Milko Matijascic, autor da frase acima, é possível que ainda haja reflexos da crise com impacto negativo para os países emergentes, em especial, por causa da deflação (queda nos preços) provocada nos Estados Unidos, no Japão, na China e em parte da União Europeia.
Na deflação, ocorre uma redução do nível geral de preços de um país e a moeda em circulação ganha valor relativamente às mercadorias, serviços e moedas estrangeiras. Isso é quase sempre lesivo à promoção de um nível mais sólido de atividade econômica, diz o Ipea. Em outras palavras, prejudica os países exportadores, pois os preços de seus produtos perdem competitividade.
No entanto, a análise técnica do Ipea destaca o reconhecimento mundial de que o Brasil saiu maior da crise. Segundo Matijascic, o País reagiu à crise de maneira exemplar, principalmente porque deu prioridade a ações de cunho social, como a garantia de crédito pessoal por meio dos bancos públicos e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), sobretudo para material de construção.
"O Brasil venceu as etapas mais difíceis da crise", afirmou Matijascic. Ele salientou que o Brasil é visto lá fora como exemplo de recuperação sustentada, tendo hoje uma situação mais cômoda, do ponto de vista macroeconômico, do que a maioria dos países. Ele enfatizou, contudo, que não se pode "deixar de monitorar a situação de turbulência ainda vivida pelos países desenvolvidos".
O estudo do Ipea ressalta a existência de uma nova ordem econômica mundial pós-crise, com consolidação do Grupo dos 20 (G20) como foro privilegiado, no qual o Brasil, a China e a Índia passam a ser ouvidos de forma direta e a ter influência decisiva. Com isso, o outrora fechado grupo dos oito países mais desenvolvidos (G8) deverá ser naturalmente ampliado.
Matijascic também disse que a crise financeira internacional ainda podem "ter desdobramentos" e, com isso, voltarem a atingir a economia brasileira."É muito difícil dizer com 100% de certeza que o Brasil saiu da crise. Diante dos dados do momento, o país venceu as etapas mais difíceis da crise, mas podem haver desdobramentos não previstos e eles podem atingir o Brasil. Ainda existem riscos", disse ele.
Segundo Matijascic, a maioria dos países está reagindo bem, neste momento, por conta dos estímulos fiscais adotados. "A gente injetou muito estimulante nas economias, mas estes efeitos têm duração limitada", observou. O assessor da Presidência do IPEA notou ainda que os movimentos da economia internacional costumam ser "rápidos e bruscos", o que impede que se possa dar uma garantia para a população de que a crise definitivamente já tenha passado. "Temos de ter um monitoramento muito cuidadoso", declarou.
Entre os riscos apontados pelo economista do IPEA, estão: nível maior de desemprego, queda da massa salarial, queda do nível de comércio internacional e, também, a forte queda do dólar no Brasil. "O Brasil não precisa se preocupar com a inflação. O desafio é a competitividade. A queda do câmbio [dólar] é preocupante e dificulta a vida das indústrias brasileiras, que são as principais geradoras de empregos mais sólidos. O câmbio é uma variável preocupante", disse ele.
O estudo divulgado pelo IPEA nesta quinta-feira mostra que alguns dos principais teóricos da crise, entre eles Joseph Stiglitz, Paul Krugman e Nouriel Roubini, não concordam inteiramente sobre qual tipo de recessão passa a economia mundial.
Para Krugman, as principais possibilidades seriam de recessão em W (com uma nova queda antes da recuperação), ou em L (com uma recessão prolongada). De acordo com Roubini, a probabilidade maior seria de recessão em W ou em U (com um período um pouco maior antes da recuperação), enquanto Stiglitz também aposta em uma recessão em W.
A informação é da Agência Brasil