"Brasil não vai legitimar branqueamento de um golpe", diz Garcia
O governo brasileiro reforçou sua postura de não reconhecer as eleições de 29 de novembro em Honduras e fez duras críticas à política externa dos Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim e o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, verbalizaram a desaprovação à postura dos EUA com relação a Honduras. Garcia disse temer que a posição norte-americana introduza na América Latina a tese do "golpe preventivo".
Publicado 27/11/2009 10:45
"Nossa preocupação é que introduzam a tese do golpe preventivo na América Latina", disse, referindo-se ao que ocorreu no país centro-americano: um golpe desferido sob o pretexto de que o atual governante pretendia fazer algo contra as instituições democráticas. "Para os EUA, é bom ter uma boa relação com a região", disse, lacônico.
O governo dos Estados Unidos defende que o reconhecimento do resultado das eleições presidenciais em Honduras pode ajudar a colocar um fim à crise política que se instalou no país desde a deposição de Zelaya, em 28 de junho.
Segundo Garcia, contudo, a solução defendida pelos norte-americanos representa um "branqueamento", uma legitimação, do golpe de Estado. "O Brasil não vai legitimar o branqueamento de um golpe (…) Se a comunidade internacional e Honduras querem legitimar estas eleições, vão ser responsabilizadas, no mínimo, pelo que vier a acontecer em Honduras. Podemos ter um longo período de instabilidade num Estado que era 'tranquilinho'", afirmou.
Segundo o assessor, essa questão é mais relevante que a decisão da Suprema Corte de Honduras de que a destituição do presidente Manuel Zelaya é definitiva. A palavra final da corte, para ele, é apenas um "jogo de cartas marcadas" com o Congresso. Garcia enfatizou sua frustração com a conduta "ideológica de certo setor da diplomacia americana" ao lidar com a crise hondurenha. "A política externa dos EUA pode ser acusada de qualquer coisa, "menos de ser amadora".
O governo brasileiro defende o retorno do presidente deposto, Manuel Zelaya, abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa há mais de dois meses. "O golpe de Estado não pode ser legitimado como forma de mudança política. Essa é a nossa visão", afirmou Amorim, ao participar da Cúpula de Países Amazônicos, em Manaus.
O ministro afirmou que, embora a posição brasileira seja oposta à dos Estados Unidos nesta questão, não há um confronto entre os dois países."Certamente, no princípio, os americanos também condenam o golpe, mas talvez por termos (na América Latina) sofrido na pele com golpes, seja diferente", disse Amorim.
Mais cedo, o porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, já havia reforçado a posição brasileira de não aceitar o novo governo que sairá das urnas em Honduras.
Carta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu correspondência enviada no final de semana por Obama, segundo Amorim. Ele, no entanto, não quis detalhar o conteúdo da carta. O conteúdo exato da carta enviada por Obama não foi revelado, mas segundo versões divulgadas na imprensa, nela o presidente reitera a posição norte-americana em relação ao golpe em Honduras.
O governo dos Estados Unidos defende que o reconhecimento do resultado das eleições presidenciais em Honduras pode ajudar a colocar um fim à crise política que se instalou no país desde a deposição de Zelaya, em 28 de junho.
O chanceler também revelou que passou nesta quinta-feira "mais de uma hora" conversando por telefone com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Novamente, ele não entrou em detalhes. "Isso que é importante, um diálogo constante sobre todos os temas. O presidente Lula respondeu à carta enviada pelo presidente Obama e eu conversei por mais de uma hora com a secretária de Estado."
Com agências