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Ninguém responde a Bolsonaro; 'viúva' da ditadura fica falando sozinho

Conhecido como viúva da ditadura militar e pelos seus impropérios, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) passou a ser ignorado. Nesta quinta (4), em discurso no plenário da Câmara, ele insinuou que o presidente da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous, ao publicar artigo em defesa da abertura dos arquivos da ditadura, tenta “se cacifar para ter uma boquinha no governo ou uma indicação para um Tribunal Superior”. Por meio da assessoria de imprensa, Damous avisou que não vai comentar o discurso.

Sem fazer referência ao pronunciamento de Bolsonaro, o deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) solicitou a transcrição do artigo do presidente da OAB, publicado na quarta (3), no jornal Folha de S.Paulo, nos Anais da Casa. “Em razão da qualidade da argumentação ali exposta para um problema ainda não resolvido nessa quadra histórica, qual seja: quais são as consequências dos graves crimes cometidos durante a ditadura militar”, justificou o parlamentar, jurista conceituado.

As razões do desprezo são facilmente explicáveis. Bolsanaro é inverídico no seu pronunciamento. Nada do que afirma está escrito no artigo. Diz que Wadih Damous chama os militares de estupradores, empaladores, assassinos e corruptos. Ainda diz que o presidente da OAB escreve que apoia Paulo Vannuchi (Secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência) e o ministro Tarso Genro (Justiça) “com toda a certeza tentando se cacifar para ter um boquinha no Governo”.

Longe do conteúdo do artigo, também critica o “linguajar” e chama o presidente da ordem de covarde por certamente não aceitar um debate na Comissão de Relações Exteriores da Casa. Por fim, acusa a entidade de falcatruas. “As faculdades vão bem, ou o a preocupação de Vossa Senhoria é apenas arrecadar com o exame da Ordem, cujas provas são elaboradas por colegas seus para reprovar mais e continuar escravizando o jovem bacharel de Direito, negando-lhe a oportunidade de advogar?”

Erudição do artigo

Para o deputado Flávio Dino, o artigo do presidente da OAB é marcado pela erudição quando o autor cita uma passagem literária da história da humanidade, escrita por Sófocles, em Antígona, que trata dos direitos das famílias de enterrar seus corpos.

“Sabemos que as violações aos direitos humanos, infelizmente, naquele momento, foram transformadas em política de Estado, e o artigo corretamente demonstra o direito de as famílias terem conhecimento do que efetivamente aconteceu com os seus familiares”, explicou o deputado.

Segundo ele, o parlamento deve continuar debatendo a problemática dos direitos humanos na sua dimensão atual, mas sem esquecer do passado. “Porque exatamente no resgate do que lamentavelmente aconteceu, na recuperação do que aconteceu, na afirmação desse direito dos povos à memória e à verdade é que iremos prevenir outros momentos como esse na vida brasileira”, argumentou.

O deputado diz que o PCdoB se soma a todos os esforços políticos e jurídicos mantidos pelas famílias das vítimas da ditadura militar para que o problema seja resolvido. “Não em nome da conflituosidade ilegítima, pelo contrário, em nome da verdadeira conciliação nacional, da verdadeira pacificação do País, que só pode acontecer com a plenitude da justiça”.

“Solidarizo-me, desta tribuna, com o Presidente da OAB do Rio de Janeiro, doutor Wadih Damous. Que a campanha da OAB pelo direito à memória e à verdade seja exitosa, em nome da democracia do País”, finalizou.

Da Sucursal de Brasília,
Iram Alfaia

Confira o artigo do presidente da OAB-RJ na íntegra