Por que os produtos "made in China" não têm concorrente?
Durante os anos da politicamente planejada e instruída economia, os líderes chineses tinham todas as possibilidades de ordenar os encarregados das fábricas do país para aumentar ou, ao contrário, congelar seus investimentos. Mas essa época já passou sem volta. As instâncias de Beijing para cessar a criação de novas unidades de produção em setores reconhecidamente superprodutivos foram ignoradas.
Por Lee Wong, no Monitor Mercantil
Publicado 02/03/2010 15:26
A solução para se "enquadrarem" seria o governo chinês analisar as leis do mercado e explicá-los de forma mais compreensível e aceitável aos arrogantes managers das empresas. Ano passado, os investimentos das empresas contribuíram para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país mais de duas vezes do que o consumo das famílias.
Parece exagero a contribuição dos investimentos ao processo geral de crescimento da China, mesmo que seja verdade que a demanda por automóveis e imóveis foi fortemente tonificada graças aos investimentos públicos.
Pressupondo que as vendas de automóveis na China aumentarão em 11% anualmente, o Credit Suisse avalia que a superestimada possibilidade produtiva da indústria automobilística chinesa se duplicará ao longo dos dois próximos anos. Na China, a superaquecida produção das empresas não se traduz em redução de seus lucros.
As empresas chinesas que atuam nos setores de cimento, aço e metais não ferrosos registram todas percentuais de desempenho econômico muito superior ao do total do setor industrial em escala mundial.
Iuan cumpre seu papel
Característicos são os exemplos da China Resources Cement e da Baoshan Steel. Estas empresas registraram percentuais de desempenho de 17% e 7% respectivamente em 2008, superando em muito os percentuais de seus competidores estrangeiros.
O desempenho das empresas chinesas é baseado no fato de que os preços que conformam seus custos são, tecnicamente, comprimidos. A energia e os créditos lhes são fornecidos em condições muito mais favoráveis do que aqueles do mercado mundial.
O superdesvalorizado iuan, também, desempenha seu papel, mesmo que se este elemento que faz a diferença é o mecanismo de compulsória fixação de preços pelo governo. Os preços dos combustíveis, da água e da energia elétrica que oneram as empresas chineses oscilam entre 35% e 50% da média dos preços internacionais.
A baixa tarifação da energia elétrica da água é bastante divulgada e até aceita entre os países denominados "desenvolvidos". Porém, conforme comprovou pesquisa do banco suíço UBS sobre a questão, as tarifas do Governo de Beijing são escandalosamente baixas.
O Ocidente pressiona Beijing para reavaliar o iuan. Mas não é só a moeda barata que faz com que os produtos chineses não tenham concorrente. É o frenesi dos investimentos. Uma boa solução para cair a febre dos investimentos é eles se tornarem menos lucrativos. E isto poderá ser feito se o governo permitir que o custo de produção no país aumente.
Controle total
Algumas medidas a respeito já foram tomadas pelo governo. Neste ano, por exemplo, triplicou as taxas aplicadas sobre as importações de petróleo. Mas isso não é suficiente. O preço de energia elétrica utilizada pelas empresas permanece inacreditavelmente baixo.
É quase certo que os industriais chineses tentarão repassar o aumento de custo aos seus clientes, algo que alimentaria a inflação. "Mas esta aposta vale à pena", afirma Wet Gui, analista do jornal francês Le Monde. E ele explica: "Se a China não deixar os preços exerceram sua função reguladora, então, a própria economia chinesa sofrerá pelas superavitárias unidades de produção". O problema dos produtos e serviços chineses baratos não é, portanto, problema de terceiros. É, também, dos chineses.
E conforme uma autoridade do ministério de Relações Exteriores da China explicou, não sem antes exigir anonimato: "O Partido Comunista Chinês sofre muitas pressões da sociedade. Com as reformas e a abertura dos mercados, os chineses aprenderam mais sobre o mundo exterior e, se o partido começar a não controlar tão bem as questões econômicas, os cidadãos começarão e se revoltar".