Cuba diz que Europa manipula sentimentos e distorce fatos
O Parlamento cubano reagiu nesta, quinta-feira (11), à moção aprovada pelo Parlamento Europeu que condena a morte por greve de fome do preso Orlando Zapata. Segundo o comunicado da Assembleia do Poder Popular, o documento "manipula sentimentos, distorce fatos, impõe mentiras e oculta realidades".
Publicado 12/03/2010 13:05
A moção é "discriminatória e seletiva", disse a mensagem da Assembleia. O texto aprovado pelo Parlamento Europeu se refere à morte de Zapata como "evitável e cruel" e alerta contra o "fatal desenlace" da greve de fome que outro preso político, Guillhermo Fariñas, realiza.
A Assembleia cubana afirmou que a greve de fome de Fariñas é um ato "lamentável", mas ressaltou que a ilha não pode ser responsabilizada e nem atacada em matéria de direitos humanos. Para os parlamentares da ilha, "por trás dessa condenação, há um profundo cinismo".
Os deputados destacaram a falta de compromissos da Europa em ajudar o desenvolvimento das nações pobres, para manter seu modelo capitalista e a repressão aos imigrantes e desempregados no continente.
"Aqueles que participaram ou permitiram o contrabando aéreo de detentos, o estabelecimento de cárceres ilegais e a prática de torturas, não têm moral para avaliar um povo brutalmente agredido e bloqueado", diz o comunicado.
A Assembleia cubana também condenou a política externa europeia."Nós, cubanos, rechaçamos a imposição, a intolerância e a pressão como norma nas relações internacionais". Leia abaixo a íntegra:
11/03/2010
Após uma campanha concertada por poderosas empresas midiáticas, principalmente da Europa, que atacaram Cuba ferozmente, o Parlamento Europeu acaba de aprovar, após um debate repugnante, uma resolução de condenação, contra o nosso país, que manipula os sentimentos, distorce fatos, contém mentiras e oculta realidades.
A desculpa utilizada foi a morte de um preso, sancionado, primeiro por delito comum e depois manipulado por interesses estadunidenses e a contra-revolução interna, que, por vontade própria, negou-se a ingerir alimentos apesar das advertências e da intervenção dos médicos cubanos especialistas.
Esse fato, lamentável, não pode ser utilizado para condenar Cuba, sob a alegação de que poderia ter evitado uma morte. Se há um campo em nosso país que não tem que se defender com palavras, pois a realidade é irrefutável, é o da luta pela vida dos seres humanos, sejam nascidos em Cuba ou em outros países. Um só exemplo é a presença dos médicos cubanos no Haiti, desde 11 anos antes do terremoto em janeiro, silenciada pela imprensa hegemônica.
Por trás dessa condenação, há um profundo cinismo. Quantas vidas de crianças se perderam nas nações mais pobres por causa da decisão dos países ricos, representados no Parlamento Europeu, de não cumprirem seus compromissos de ajuda ao desenvolvimento. Todos sabiam que era uma sentença de morte em massa, mas optaram por preservar os níveis de gastos excessivos e ostentação de um consumismo largamente suicida.
É também uma ofensa para os cubanos, esta tentativa de nos dar lições quando, na Europa, imigrantes e desempregados estão sendo reprimidos, enquanto aqui, em reuniões de vizinhos nos bairros, o povo propõe seus candidatos para as eleições municipais, livremente e sem intermediários.
Aqueles que participaram ou permitiram o contrabando aéreo de detentos, o estabelecimento de cárceres ilegais e a prática de torturas, não têm moral para avaliar um povo brutalmente agredido e bloqueado.
A explicação de tamanha condenação, tão discriminatória e seletiva, somente pode ser o fracasso de uma política incapaz de pôr de joelhos um povo heróico. Nem a Lei Helms Burton, nem a Posição Comum européia, surgidas no mesmo ano, nas mesmas circunstâncias e com propósitos iguais, ambas lesivas à nossa soberania e dignidade nacionais, têm o menor futuro, pois recusamos a imposição, a intolerância e a pressão como norma nas relações internacionais.
Assembléia Nacional do Poder Popular da República de Cuba.
11 de março de 2010.