Publicado 02/07/2010 13:34 | Editado 04/03/2020 16:33
Nos últimos meses, nos bastidores da política brasileira, vem-se discutindo formas de se ter uma política mais justa, democrática e de representação da vontade popular. Enquanto no parlamento nacional (Senado e Câmara dos Deputados), tentam limpar a sua imagem diante da sociedade com a aprovação do Projeto Ficha Limpa. No interior do Ceará, o poder Legislativo retrocede e não representa a vontade do povo.
Temos uma casa legislativa totalmente submissa ao poder executivo. Vendida é a melhor palavra. Esta realidade não é em uma ou duas cidades, mas quase uma unanimidade nos cidades cearenses. Os vereadores não têm fidelidade partidária nem respeitam a vontade popular dos que os elegeram. Existe uma espécie de mercado paralelo, onde o vereador vende a sua cadeira conquistada no pleito eleitoral. A cabeça de um vereador tem um preço: R$10.000, R$20.000, R$50.000, R$100.000 e etc. Varia de acordo com o nível de desenvolvimento da cidade que ele representa ou o seu grau de influência na sociedade.
É perigoso querer ser um vereador de verdade, não se vender, não se corromper. Exemplo disso temos o Vereador Manoel Cláudio Bezerra Maia do PCdoB de Potiretama, no Ceará, conhecido popularmente como Claudinho. Por não submeter-se aos vícios que o poder legislativo, não está acomodado, defender a população e ser querido e aplaudido em plenário por populares, teve o seu mandato cassado pela Câmara de Vereadores de sua cidade. Seu único crime foi fazer o papel de vereador que é legislar, defender os interesses da população e fiscalizar o poder executivo. Hoje é crime ser um vereador de verdade.
Fica a pergunta: a quem serve, ou melhor, para que serve o poder legislativo se as três esferas estão submissas ao poder executivo e não cumprem o seu dever? Qual sua razão de existir? Chegamos ao ponto de questionarmos: é realmente necessário o poder Legislativo no Brasil? Porque o legislativo funciona apenas com uma extensão do executivo e é mais um departamento para se administrar, talvez o menos problemático.
Espero que essa nova onda de cassação de vereadores de verdade (opositores e parlamentares que não vai em coro com o executivo) não se espalhe pelo Ceará afora, outros estados e todo o Brasil. O parlamento é um lugar plural de divergência de ideias, pelo menos no papel pois na pratica não. Vai de acordo com que paga mais.
Já é hora de se fazer uma reforma política no Brasil, que abale as estruturas desse poder corrupto, desleal. Uma vergonha para maioria dos brasileiros o poder legislativo. Talvez com uma reforma estruturante e de base se possa legislar de verdade neste país e que outras centenas de “Claudinho” não sejam cassados pelo Brasil a fora só por querer ser um parlamentar na prática.
Termino este artigo com muita tristeza e ao mesmo tempo com a esperança de que ainda exista gente decente na política. Espero que essa minoria um dia seja maioria. Por fim, repito as últimas palavras que o vereador Claudinho pronunciou na Câmara de Vereadores de Potiretama: “Se meu mandato não serve para o povo, também não serve para mim”.
Saudações a quem tem coragem.
Valdivino José de Lima Neto é Secretario Geral do DCE José Montenegro de Lima, membro União da Juventude Socialista (UJS), do Comitê Estadual e dirigente do PCdoB em Palhano
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