Quadrinhos argentinos mostram vilania de FMI e dívida
O Fundo Monetário Internacional (FMI) é um mau intencionado galã americano que namora a filha de um empresário em uma das quatro histórias em quadrinhos sobre a tumultuada evolução da dívida externa da Argentina estudada em várias escolas secundárias do país.
Publicado 09/07/2010 18:26

As histórias em quadrinhos foram elaboradas pelos responsáveis do Museu da Dívida Externa, que acaba de reabrir suas portas na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires (UBA) com o objetivo de fazer com que os jovens saibam como o país se endividou.
O FMI protagoniza a história em quadrinhos "Un intruso en la familia", que analisa os mais de 50 anos da relação entre a Argentina e o organismo financeiro, cujo personagem, Francis, consegue se desfazer do pai de sua namorada, Patricia, e ficar com seu negócio, ao que finalmente leva à ruína.
A parábola desta história é que Francis concretiza sua maldade ao se casar com Patricia, de quem se divorcia depois da crise de 2001, quando a Argentina declarou a maior moratória da história (US$ 102 bilhões).
"Não nos damos conta que há coisas que não poderemos fazer no futuro se permitimos que a dívida cresça e os jovens devem estar conscientes dos erros do passado quando emitirem seu voto", explica o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires, Alberto Barbieri.
A dívida externa argentina somava US$ 147,119 bilhões no final de 2009, número equivalente a 47% do Produto Interno Bruto do país, segundo dados oficiais.
Outra das histórias em quadrinhos produzidas para os alunos de escolas secundárias retrata a evolução da dívida externa argentina desde 1824 — quando o país solicitou ao banco inglês Baring Brothers um empréstimo de 700 mil libras esterlinas — até 1976, quando um golpe de estado deu lugar a uma sangrenta ditadura militar.
Uma terceira história relata a tragédia do endividamento desde a ditadura militar (1976-1983) até a atualidade, enquanto a última história em quadrinhos analisa os projetos de troca de dívida por investimentos em educação impulsionados nos últimos anos pela Argentina e Brasil.
Os quadrinhos refletem a cronologia do endividamento a partir da viagem de extraterrestres a Buenos Aires no ano 3668, quando a cidade está devastada pelo "grande Holocausto nuclear" de 2268 que supostamente extinguiu a humanidade.
No transcurso do relato, os alienígenas descobrem que a aniquilação da Humanidade não correspondeu a um desastre nuclear, mas a um processo de auto-eliminação sistemática promovido pelas nações do hemisfério norte no último quarto do século 20.
"Estas nações — prossegue a história em quadrinhos — ativaram um curioso mecanismo de desintegração social, uma combinação de cobiça, mediocridade e ignorância. Tudo isso reproduzido desde um núcleo compacto de concentração de poder".
A história analisa, além disso, a má gestão econômica de diversos governos argentinos, como os burocratas da última ditadura militar que em 1983 deixaram como herança uma dívida externa de US$ 45 bilhões, seis vezes maior do que quando assumiram o poder em 1976.
Também retratam o Plano de Convertibilidade com paridade de "um por um" entre o peso e o dólar, lançado em 1990 pelo governo neoliberal de Carlos Menem (1989-1999) e que teve um final abrupto em janeiro de 2002, como consequência da moratória do fim do ano anterior, quando a Argentina acumulava quatro anos consecutivos de recessão.
As histórias em quadrinhos mostram o "um por um" entre o peso e o dólar como uma "venenosa poção grega", própria do Olimpo, que colapsou a economia argentina e disparou as desigualdades sociais.
"Frente a tal catástrofe, só ocorria ao FMI aplicar planos de ajuste, enquanto os agentes financeiros voltavam à ofensiva para consolidar seu poder e seguir transferindo renda a seu favor", exemplifica um dos personagens.
A UBA, a maior universidade do país, e os ministérios de Educação e de Economia distribuirão a história em quadrinhos em todas as escolas argentinas.
Da redação, com agências