Amorim: Brasil pode voltar a discutir questão nuclear com o Irã
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não descartou nesta quarta-feira (11) a possibilidade de o Brasil voltar a discutir com o Irã a questão nuclear, depois do jejum do mês do Ramadã, que começou hoje.
Publicado 11/08/2010 19:12
"O Irã tem dito que quer voltar a negociar", disse Amorim à imprensa, ao lembrar que há três semanas esteve em Istambul, com o ministro da Turquia e do Irã, quando foram discutidos aspectos "que permitem essa retomada".
"Primeiro, essas conversas, naturalmente, não são definitivas e, segundo, evidentemente, pela sua própria natureza, são sigilosas", completou, ao declarar que a participação do Brasil é vista com bons olhos pelo governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e por países ocidentais.
Durante aula inaugural na Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio), o ministro fez um balanço das negociações que culminaram no acordo de transferência de urânio levemente enriquecido do Irã para a Turquia, mas que não foi aceito pela comunidade internacional.
Amorim justificou a participação do Brasil na questão alegando que o país está engajado em favor da paz e que o programa nuclear iraniano é "potencialmente uma das maiores ameaças" ao mundo, nos dias atuais.
Para uma plateia de estudantes e professores, o chanceler explicou que o acordo seguia as bases da proposta anterior feita pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), apresentada ao país persa pelo Grupo de Viena (Estados Unidos, Rússia e França).
"Tivemos elementos para crer que nós detínhamos uma boa base", afirmou o ministro ao citar que ex-diretor da AIEA, Mohamed ElBaradei, Nobel da Paz em 2005, declarou em entrevista à imprensa brasileira a satisfação com o acordo de troca de combustível nuclear.
No entanto, Amorim avaliou que os mesmos países que apoiaram o Brasil a começar as negociações não apostavam no sucesso da iniciativa.
Ontem (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto no qual o Brasil se compromete a seguir as sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas aos iranianos por causa de seu programa nuclear. Amorim disse que o presidente firmou o documento “contrariado”, mas que esta era a conduta habitual do Brasil – de adotar as medidas aprovadas em organismos internacionais.
Asilo a iraniana condenada
O governo do Irã ainda não respondeu à oferta do Brasil de conceder asilo político à iraniana Sakineh Ashtiani, de 43 anos, condenada à morte por apedrejamento no país asiático. Amorim não confirmou que houve sinalizações por parte de autoridades iranianas de que a proposta vai ser recusada. O caso Ashtiani gerou comoção e campanhas internacionais.
O ministro reiterou que a oferta de asilo político, feita pelo presidente Lula, é um "gesto humanitário". O chanceler acrescentou ainda que "seria bom para a posição do Irã no mundo [aceitar a oferta brasileira]".
Viúva e mãe de dois filhos, Sakineh foi condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de ter mantido relações sexuais com dois homens. Ela e a família negam as acusações. Mas a Justiça do Irã indicou que não pretende recuar. O advogado dela, Mohammad Mostafaei, recebeu asilo na Noruega. Ele tenta levar a família alegando que todos correm riscos no Irã.
Evitando analisar o aspecto político e religioso da condenação à iraniana, Amorim lembrou que o Brasil se empenhou para reverter a pena. "Houve comentários, feitos em nível diplomático, que explicavam [a condenação]. Talvez eles estejam considerando isso como uma resposta oficial, dizendo que ela é acusada não só de adultério, mas de cumplicidade em homicídio", afirmou.
O ministro reiterou que o caso de Ashtiani despertou a atenção do mundo. "Não vou discutir o caso. O fato é que a situação dessa moça, inclusive em função da ameaça de apedrejamento e do suposto delito de que ela é acusada é uma coisa que choca a sensibilidade do brasileiro como a do mundo todo", disse Amorim.
Segundo Amorim, a oferta de asilo feita por Lula representa o sentimento da população brasileira. “O presidente (Lula) expressou o oferecimento de recebê-la no Brasil se isso ajudar a evitar a execução”, disse ele. “Nosso embaixador em Teerã foi instruído a comunicar o fato. O que, a nosso ver, é uma formalização deste oferecimento e do sentimento que é o sentimento do povo brasileiro”.
Fonte: Agência Brasil