Os lutadores esquecidos da Colômbia
A Ruta Inka 2010 foi ao Cauca, uma das regiões colombianas onde o conflito militar é mais intenso. Na localidade de La Maria os visitantes puderam acompanhar os últimos dias de um congresso extraordinário do Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC), uma de mais fortes organizações indígenas do país, num evento que reuniu cerca de 5 mil pessoas segundo a organização.
Publicado 29/08/2010 15:25
Entre tantos problemas políticos e militares e governos que fazem pouco caso da questão dos povos étnicos, o nível de consciência e organização dos indígenas em regiões como o Cauca é realmente surpreendente.
Impossível não se impressionar logo na chegada com a Guarda Indígena, composta por centenas de pessoas. A cada ponto de acesso e saída e por todo canto do congresso- plenárias, restaurantes, alojamentos- lá estavam os guardas: desde crianças até idosos levando seus bastões de mando e fazendo a vigilância do evento.
Eduardo Machimbú, um dos coordenadores municipais da guarda, explica que ela foi criada em 1989 justamente para resguardar os territórios indígenas do conflito militar do país. “Não foi fácil, perdemos muitos líderes e companheiros de guarda mas pouco a pouco vamos conseguindo controlar nosso território e não deixar que os grupos armados entrem nele”.
O paramilitarismo, declarado extinto pelo governo Uribe, ainda atua em muitas regiões, segundo lideranças locais. O indígena Arcadio Aguilar afirma que a atuação dessas forças muitas vezes está ligada aos projetos de multinacionais, que necessitam de terras e da riqueza mineral das regiões habitadas pelos povos ancestrais.
Desse modo, muitos habitantes desses locais acabam sendo expulsos de seus territórios e tendo que buscar moradia em outros lugares, sobretudo nas grandes cidades. São os chamados “desplazados”. Nesse sentido, Colômbia ocupa o inglório segundo lugar no ranking mundial de pessoas deslocadas, perdendo apenas para o Sudão.
Na cidade, os indígenas encontram uma realidade muito distinta e sofrem muitas dificuldades, não apenas econômicas mas também culturais. “Os habitantes das cidades não acham que o indígena citadino não é índio por não viver na selva. As grandes civilizações como incas e maias viviam em grandes cidades, porque nós não podemos? O que nos faz indígenas é nossa cultura e nossa espiritualidade” afirma Miriam Chamorro, governadora do Cabildo Indígena Chibcariwak, em Medellín.
Ali se encontram indivíduos de diferentes etnias que habitam essa importante cidade colombiana e buscam preservar e promover sua cultura. “As cidades também são parte da natureza e a luta pela preservação da Mãe Terra e de nossa cultura também tem que se dar aqui” afirma Chamorro.
Assim, no campo ou na cidade, os indígenas colombianos resistem ao processo de violência sofrida através de séculos nesse país marcados por conflitos internos. São aproximadamente 100 etnias, com mais de 60 línguas nativas que representam cerca de 2% da população do país. Em Medellín, foi promovido o encontro dos expedicionários da Ruta Inka, vindos de universidades de mais de 30 países com os indígenas universitários da cidade.
Diana Cristina Huapacha, da comunidade Embera Chami aprovou o encontro em que puderam mostrar um pouco de sua cultura e trocar informações sobre as universidades. “Para conservar nossa cultura precisamos também aprender com o ocidental e contribuir com nosso saber. É um intercâmbio: aprender o daqui sem esquecer nossas comunidades”. E, sem dúvidas, também temos muito o que aprender com eles.
Fonte: Carta Capital