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José Bernasconi: Um estádio para transformar a zona leste de SP

A construção do estádio do Corinthians é a chance de aproveitar o poder do futebol para modernizar uma região muito carente de São Paulo

Por José Roberto Bernasconi

A definição da Arena Corinthians — que será construída em terreno de 200 mil m2 quadrados no bairro de Itaquera, na zona leste — como o estádio de São Paulo para a Copa de 2014 abre uma janela de oportunidades para a região mais populosa da capital.

A construção do estádio representa a chance de aproveitar o poder mobilizador que o futebol tem para os brasileiros para modernizar e transformar esta que é uma das regiões mais carentes de São Paulo, com reflexos em toda a cidade no trânsito, na melhoria de renda, de segurança e no desenvolvimento sustentável.

Para orientar o desenvolvimento, a prefeitura deveria lançar um plano diretor para a região. Tal plano poderia recorrer às operações urbanas para captar recursos da iniciativa privada, a fim de buscar a ampliação da oferta de empregos, por meio da definição de áreas reservadas a indústrias não poluentes, a empresas de serviços e ao comércio.

Essa ampliação deveria ser alicerçada na melhoria do transporte de massa de média capacidade, da expansão do metrô e da transformação das linhas da CPTM em sistema com qualidade compatível com a do metropolitano.

O plano deveria buscar, em conjunto com os governos estadual e federal, a expansão de instituições de ensino, públicas e privadas, para aumentar a oferta de profissionais qualificados para as empresas já instaladas e as que virão a se instalar na região.

Poderia ainda conter estímulos à instalação de indústrias, conjugando a oferta de mão de obra a benefícios fiscais por prazo determinado. Essas iniciativas podem se conjugar a outras que estimulem a prática esportiva e a participação popular em atividades culturais.

A opção planejada pela construção de equipamentos esportivos (quadras e ginásios poliesportivos, campos de futebol e de esportes olímpicos) e culturais em estabelecimentos de ensino seria a ação que falta para revelar novos atletas e agentes culturais.

A criação de faculdades de educação física e de fisioterapia, além de centros de pesquisa e de inovação, gerando um polo de excelência de apoio ao esporte e abrangendo as práticas esportiva e cultural em todas as idades, da criança ao idoso, seriam poderosos instrumentos para mudar radicalmente a qualidade de vida da região.

O modelo atual para essas mudanças é Londres, que, coincidentemente, está transformando sua zona leste, antes uma das regiões mais degradadas da cidade, social e ambientalmente, em uma área totalmente renovada.

São Paulo pode fazer o mesmo com a sua zona leste. A grande ferramenta para essa transformação é o planejamento prévio, consubstanciado num novo plano diretor que oriente o desenvolvimento da região, aproveitando o embalo da Copa de 2014 e mirando 2020 ou 2025, quando a cidade poderá sediar a Exposição Universal.

Essa pode ser a oportunidade de ouro para reinventar a zona leste de São Paulo. Basta que as autoridades e a sociedade pensem grande, num horizonte de longo prazo. Todos só têm a ganhar nesse jogo.

José Roberto Bernasconi, 66, engenheiro civil formado pela USP, é presidente da regional São Paulo do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco/SP). Fonte: Folha de S.Paulo