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Prensa Latina analisa as concepções de Assange, do WikiLeaks

Não poucas pessoas se perguntam qual é o credo do australiano Julian Assange e as verdadeiras motivações da existência do sítio WikiLeaks na Internet.

Por Katia Monteagudo*, em Prensa Latina

Várias vozes no mundo insistem na necessidade de conhecer as razões desse portal da Internet que se propôs vazar os segredos dos principais atores da política e da economia globais.

Cidadãos e analistas de diversas tendências se perguntam se realmente é uma irresponsabilidade a distribuição de documentos secretos e quais são os verdadeiros motivos de Assange e sua equipe para divulgar informação sensível.

Inclusive, depois de sua terceira agitação midiática deste ano – em julho tornou públicos 77 mil documentos sobre a guerra do Afeganistão e três meses depois 400 mil sobre a do Iraque – Kristinn Hrafnsson, porta-voz de seu site, sustenta que a organização continua sendo uma porta de entrada para denunciantes anônimos.

Tal proposta desencadeou numerosos debates sobre o futuro da informação, da Internet e da participação cidadã na difusão da notícia.

À polêmica se somam igualmente não poucas dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Assange e do WikiLeaks, depois do inesperado pacto com New York Times, Der Spiegel, El País, Le Monde e Guardian.

Esses cinco grandes meios de comunicaçãs, dizem alguns analistas, em nome da liberdade de expressão, só têm publicado o que julgaram conveniente, além de apagar nomes e até consultar previamente representantes do Departamento de Estado.

Tampouco nesse debate faltam os que pensam, como Zbigniew Brzezinski, assessor de Segurança Nacional na época em que Jimmy Carter foi presidente dos Estados Unidos, um velho pensador de tope dos tempos da guerra fria, que WikiLeaks pode estar recebendo material de setores da inteligência norte-americana para prejudicar o governo de Obama.

Brzezinski também suspeita que WikiLeaks poderia ser a cara visível de uma campanha de desinformação israelense porque os telegramas desestabilizam a relação dos Estados Unidos com a Turquia.

Tais dúvidas não têm respostas conclusivas, asseguram outros analistas , porque igualmente Vladimir Putin, primeiro-ministro russo, crê que "os telegramas são parte de um complô deliberado para desacreditar a Rússia” e o presidente Ahmadinejad pensa o mesmo em relação ao Irã.

Não obstante, no outro extremo, entre os que aprovam WikiLeaks, múltiplas avaliações destacam positivamente que doravante ainda que os segredos sejam muito bem guardados, não se poderá esconder as conhecidas alianças transnacionais de Washington com ditadores, tiranos, senhores da guerra, traficantes e barões da droga.

Várias dessas análises asseguram que ficou demonstrado que a verdadeira informação está na Internet e não nos meios corporativos globais, pelo que os cidadãos deveriam fazer melhor uso desta para desmascaram e ridicularizar o poder.

Também esses telegramas – dizem – provam que a Europa está sendo muito mais marginalizada do que na era de Bush, agora que Obama se concentra na zona da Ásia-Pacífico.

Igualmente afirmam que WikiLeaks deixou claro que Israel e seu poderoso lobby no Congresso norte-americano trabalharam contra o relógio para produzir a invasão e a destruição do Iraque e neste momento estão dobrando as apostas para fazer o mesmo com o Irã.

Sabe-se que esse portal desde 2007 se dedica à publicação de vazamentos sensíveis de caráter governamental, bancário, religioso e empresarial, sob a direção de Julián Assange, de 39 anos, co-fundador do sítio e antigo hacker.

Sua base de dados abriga mais de um milhão de documentos desde que começou a publicá-los há três anos, bem ora sua repercussão mundial começasse em abril de 2010.

Naquele mês WikiLeaks divulgou um vídeo de 39 minutos com as imagens de soldados norte-americanos abatendo civis iraquianos e dois repórteres da agência Reuters, de um helicóptero Apache.

Seu coletivo foi formado por jornalistas oponentes a ditaduras militares, matemáticos e especialistas em ciências da computação. O resultado foi a criação de toda uma multinacional de cérebros dos Estados Unidos, da Europa, Austrália, China e Formosa.
Hoje o quadro estável desse portal é formado por umas vinte pessoas, apoiadas no exterior por 800 colaboradores, entre jornalistas, advogados e pessoal de informática.

No início tinha diversos apoios econômicos, inclusive da Associated Press, Angeles Times e Repórteres sem Fronteiras. Na atualidade, e por diversos motivos, estes grupos cancelaram sua ajuda.

Tudo é mantido com um orçamento anual de cerca de 200 mil euros, e não tem uma sede específica. Mediante uma conexão cifrada, qualquer pessoa pode enviar a essa página o arquivo que deseje, anonimamente e sem deixar rastro.

O próprio Assange, em sua página pessoal, esclareceu que WikiLeaks publica intrepidamente os fatos que devem ser conhecidos pelo público"

Explicou também que a idéia é utilizar as tecnologias da Internet para de novas maneiras informar a verdade.

Nesse artigo, Assange detalha que WikiLeaks conceituou o que define como jornalismo científico uma forma de verificar em tempo real o documento original da notícia e o leitor possa julgar a verdadeira exatidão da notícia.

Em sua defesa, recorre às conclusões da Corte Suprema dos Estados Unidos no caso dos papéis do Pentágono (1971), quando se disse que "somente uma imprensa livre e sem limitações pode denunciar efetivamente o engano do governo”.

Tal argumento e a tempestade atual a respeito de WikiLeaks, diz, reforçam a necessidade de defender o direito de todos os meios de comunicação de revelar a verdade.

Ele crê que as sociedades democráticas necessitam de meios de comunicação fortes, como a referida Internet, para manter os governos honestos.

"WikiLeaks revelou algumas verdades duras sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão e desvelou histórias sobre corrupção corporativa”, argumenta no referido artigo. "Há pessoas que dizem que me oponho à guerra. Para que se saiba, não é bem assim. Algumas vezes as nações têm que ir à guerra e há guerras justas”, declara.

"Mas não há nada pior, continua, do que um governo que mente para seu povo sobre essas guerras e logo pede a esses mesmos cidadãos que ponham em jogo suas vidas e seus impostos por essas mentiras”.

"Se uma guerra se justifica, digam a verdade às pessoas e elas decidirão se querem apoiá-la”, conclui Assange em seu escrito publicado antes de ser preso em Londres por um suposto delito sexual na Suécia.

Pepe Escobar, experimentado analista geopolítico, entrevistado pelo sítio alternativo Rebelión, explica que "Assange vê WikiLeaks como um anti-vírus que nos pode ajudar a combater a distorção da linguagem política”.

Ele crê substancialmente – prossegue Escobar-, que revelar segredos levará à paralisia desinformativa nesse âmbito e à não produção de mais segredos no futuro. "Sem dúvida, o admito, é uma visão anárquica-romântica-utópica”, diz Escobar.

Nessa entrevista, Escobar argumenta que o australiano imagina os Estados Unidos como uma enorme conspiração autoritária, e sua estratégia de combate contra a mesma é precisamente degradar a capacidade desse sistema para conspirar, miná-la, forçar sua ruptura e torná-la alucinadamente paranóica consigo mesma.

Para este analista,a reação do establishment demonstra que a estratégia de Assange funcionou. "O sistema está perplexo ao ver sua própria debilidade mental refletida em um enorme espelho digital”, conclui.

(*) Da redação de Temas Globais da agência Prensa Latina
Tradução da redação do Vermelho