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Esquerda assume pela 1ª vez a Assembleia de El Salvador

A ex-guerrilha da FMLN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional) passará a presidir a Assembleia Legislativa de El Salvador, tornando-se o primeiro partido de esquerda a assumir a função no país centro-americano. Há pouco mais de um ano a FMLN elegeu seu primeiro presidente, Mauricio Funes.

A organização depôs as armas e se integrou à vida política depois dos Acordos de Paz, que puseram fim a uma violenta guerra civil em El Salvador (1980-1992). O conflito armado deixou 75 mil mortos e oito mil desaparecidos, segundo uma comissão da verdade. Os ex-combatentes participaram de eleições pela primeira vez em 1994 e, desde então, foram conquistando adeptos entre os salvadorenhos, decepcionados com as políticas promovidas pela direita.

Embora a FMLN tenha obtido a maioria dos deputados pelo voto popular em 2001, conquistando portanto o direito de dirigir o Parlamento, numerosos acordos entre as facções de direita a impediram de assumir o posto. Depois do abalo da direita com a derrota eleitoral de 2009, que pôs fim a 20 anos de governo da Arena (Aliança Republicana Nacionalista), a esquerda assumirá a presidência do órgão legislativo.

Sigfrido Reyes, de 50 anos, antigo membro do Partido Comunista, substituirá Ciro Cruz Zepeda, do PCN (Partido de Conciliação Nacional), que tem uma tradição militar ligada à ditadura. Zepeda presidiu o Congresso em quatro mandatos seguidos desde 2001. "Para nós, foi uma luta difícil. Embora tivéssemos a legitimidade para assumir a liderança da Assembleia, a articulação das direitas sempre frustrou essas aspirações", afirmou Reyes ao Opera Mundi.

A FMLN poderá presidir o Congresso graças a um acordo de conveniência mantido na quarta-feira (02/02) com o partido da Gana (Grande Aliança pela Unidade Nacional), formado por dissidentes da Arena descontentes com a derrota eleitoral. "Meu objetivo é elevar a dignidade da Assembleia e dignificar a política realizada. [Meu trabalho] se concentra em manter instituições democráticas sólidas", disse Reyes.

O dirigente veio de uma família de classe média e flertou com vários movimentos até que, em 1979, filiou-se à Juventude Comunista. Estudou na Rússia no início dos anos 1980 e voltou a El Salvador para juntar-se à guerrilha. Reyes, que teve formação militar no Vietnã e exerceu um papel modesto na guerrilha, presidirá a Assembleia Legislativa durante 15 meses.

Ramón Villalta, da ONG Iniciativa Social para a Democracia (ISD), qualificou de "histórico" o fato de a esquerda assumir pela primeira vez a presidência do Congresso, por representar uma abertura. "É um fato transcendente porque, independentemente de se tratar da FMLN, o que se evidencia é a permissão para que haja certa alternância na direção da Assembleia", opinou Villalta.

Com Opera Mundi