Sem categoria

A bem sucedida greve geral no País Basco, Galícia e Catalunha

Dezenas de milhares de trabalhadores bascos, galegos e catalães aderiram à paralisação e às manifestações organizadas pelas centrais sindicais locais contra o aumento da idade da reforma, acordado pelo governo e o patronato, e subscrito pelas Comisiones Obreras (CCOO) e pela UGT.

A paralisação cumprida no dia 27 nos territórios do País Basco no Estado espanhol foi, de acordo com a maioria sindical basca, um êxito. As centrais ELA, LAB, STEE-EILAS, EHNE e Hiru informaram que 61 por cento das empresas industriais com mais de 50 trabalhadores nas regiões de Araba, Bizkaia e Gipuzkoa se encontravam totalmente paradas. Nesta última província, os setores da construção civil, comércio e hotelaria foram particularmente afetados pela greve, e em muitas pequenas e médias empresas de Euskadi os trabalhadores aderiram ao protesto.

Em Navarra, as repercussões da luta foram fortemente sentidas, dizem, e em todos os municípios bascos os setores têxtil e de distribuição alimentar registaram níveis consideráveis de paralisação.

O balanço dos sindicatos indica ainda que na educação a adesão rondou, em média, os 80 por cento, e na Administração Pública aproximou-se dos 55 por cento. Na saúde, a paralisação foi obstaculizada pelos serviços mínimos, que ascenderam à requisição de 4/5 do pessoal.

Entretanto, sobejam relatos de repressão levada a cabo pela Ertzaintza durante a greve geral. Cargas policiais contra os piquetes no El Corte Inglés ocorreram em Bilbao e Gasteiz, por exemplo, e na capital de Araba e em Bilbao houve mesmo investidas policiais contra as dezenas de milhares de manifestantes que desfilaram nas ruas daquelas cidades. Em Sestao, um jovem foi detido por difundir informação junto ao Carrefour, e em Gernika um grevista foi detido e outros dez foram identificados, relata o Gara.

Em Iruñea, uma pessoa foi detida pela polícia por participação no piquete também junto ao El Corte Inglés, mas milhares de pessoas não se deixaram intimidar e desfilaram ao final da manhã pelo centro da cidade também conhecida como Pamplona.

Os sindicatos bascos concluem que a polícia funcionou sempre como contra-piquete e não como garantia do direito à greve.

Já na Galícia, a Confederação Sindical Galega (CIG) revela que os transportes, a recolha de lixo e limpeza urbana, a distribuição alimentar, a Administração Pública e a construção naval foram os setores com níveis de paralisação mais consistentes.

Para a CIG a jornada foi um sucesso já que, apesar das intimidações e detenções efetuadas pelas autoridades, dezenas de milhares de trabalhadores participaram na paralisação e nas manifestações realizadas em Vigo – onde a iniciativa central juntou mais de 50 mil pessoas –, e em cidades como A Corunha, Santiago de Compostela, Lugo, Ourense, Pontevedra ou Ferrol.

Na Catalunha, a paralisação atendida pela CGT e CNT, entre outras organizações, foi especialmente sentida nos transportes urbanos (ônibus e metrô) de Barcelona, com adesões variáveis de 20 a 40 por cento, e em áreas dos serviços públicos.

Na cidade condal, quase dez mil pessoas desfilaram contra a referida alteração da idade da reforma, iniciativa repetida em Madri, embora na capital se tenha registado incidentes quando a polícia impediu os participantes na marcha de chegarem ao parlamento.

Na Andaluzia, os protestos fizeram-se sentir com manifestações, concentrações, tribunas públicas e greves em quase 60 cidades e localidades da região.

Roubo a quem trabalha

O acordo subscrito entre o governo PSOE/Zapatero, as confederações patronais e as duas maiores centrais sindicais espanholas, CCOO e UGT, eleva para os 67 anos a idade da reforma. Para um trabalhador se reformar aos 65 anos com 100 por cento da pensão terá de descontar 38,5 anos em vez dos atuais 35. A reforma antecipada passa também dos 61 anos para os 63.

CCOO e UGT justificam a subscrição do acordo com o argumento de evitar o colapso do sistema de Segurança Social e qualificam-no mesmo de "um dos grandes acordos subscritos em democracia", faltando apenas a quem o critica "tempo para o digerir", afirmam.

Na verdade, feitas as contas, é um roubo a quem trabalha, sendo de sublinhar que, em 2010, a Segurança Social teve um superavit de quase 2400 milhões de euros; que desde 2004 entraram excedentes no valor de 74 bilhões de euros e que o Fundo de Reserva público conserva 66 bilhões de euros, cerca de 4/5 do total existente nos fundos privados.

Mas a reforma é particularmente impiedosa para os contratados a prazo e os precários, com os primeiros a necessitar, em média, de 43,75 anos de trabalho para alcançarem a pensão completa aos 67, e os segundos a necessitar de mais de 150 anos!

A passagem do período de cálculo da pensão para os últimos 25 anos de trabalho em vez dos atuais 15 vai levar à perda de entre 20 e 30 por cento da pensão, calculam os sindicatos, que lembram igualmente que as prestações no país são, em média, 35 por cento inferiores à média dos países da eurozona. No País Basco, a situação é mais grave, já que 71 por cento das pensões se encontram abaixo do limiar da pobreza.

Desemprego recorde

A greve geral no País Basco, Galícia e Catalunha realizou-se pouco antes das estatísticas oficiais confirmarem que o desemprego em Espanha atinge mais de 20 por cento da população ativa, o nível mais alto em 13 anos e o dobro da taxa média dos países da zona euro.

No total, são quase 4 milhões e 700 mil desocupados, com os jovens entre os mais atingidos. Os agregados familiares com todos os membros desempregados ascendem a 1,32 milhões.

Mas o FMI pretende mais, e através de um relatório já veio instar Zapatero a prosseguir as "reformas", nomeadamente nos custos por despedimento, na protecção em caso de desemprego, na contratação coletiva (usando como bandeira a "descentralização" das negociações para o âmbito de cada empresa com o objetivo de atacar salários e direitos), ou nas contribuições sociais das empresas.

Fonte: Avante!