Construção civil: Modernidade e atraso na exploração capitalista
A exploração dos trabalhadores em algumas grandes obras públicas, tocadas por empresas grandes e modernas, reproduz formas de opressão seculares.
Publicado 17/04/2011 20:27
As grandes construtoras responsáveis pelas obras públicas que estão sendo construídas no Brasil são empresas modernas. Elas estão entre as pioneiras das empresas brasileiras cuja ação se expandiu pelo mundo, com obras em países da América Latina, África, Oriente Médio e mesmo na Europa e nos EUA. Estão, assim, na vanguarda das chamadas multinacionais brasileiras. São empresas que se fortaleceram com as obras públicas de infraestrutura durante a ditadura militar de 1964. Construíram estradas, hidrelétricas, portos, pontes como a Rio Niterói, etc. Obras complexas nas quais desenvolveram tecnologia avançada, adequada às condições brasileiras e que, assim, pode ser usada em países de condições semelhantes.
Sob a ditadura, atuaram com proteção policial e militar contra os protestos operários e deixaram um rastro de iniquidades e opressão nas obras admiráveis que construiram.
As revoltas recentes dos operários da construção civil revelam, por um lado, a disposição de muitas empresas em repetir as mesmas formas de exploração capitalista para ampliar seus ganhos. E há de tudo neste esforço. Uma forma corriqueira, que repete práticas antiguíssimas de contratação de mão de obra, é a terceirização, cujo protagonista, quase sempre, é o velho “gato”, o explorador conhecido por trabalhadores rurais e mesmo em obras da construção civil.
A empresa acerta com o intermediário (o “gato”) a contratação e o valor para o pagamento de um conjunto de trabalhadores e ele, por sua vez, impõe condições ainda mais opressivas e precárias de trabalho. Outra forma ancestral de exploração que apareceu pelo menos nas obras da usina de Jirau é aquela conhecida como “barracão”, um hábito herdado pelo menos desde o século 19: a empresa vende para seus trabalhadores produtos a preços extorsivos, beneficiando-se da distância do comércio regular dos centros urbanos e conseguindo, assim, um ganho adicional ao recuperar, através dessa comercialização quase monopolista, parte do dinheiro que entregou aos empregados na forma de salários.
Outra prática iníqua, e rotineira durante a ditadura militar, é o emprego da força bruta contra trabalhadores que se revoltam ante as más condições de trabalho e remuneração. Ela se revela desde a retenção ilegal dos documentos daqueles que querem a demissão, no desrespeito ao direito de ir e vir dos trabalhadores, forçando sua permanência nas dependências da obra, e no emprego de agentes de segurança armados que infringem maus tratos aos trabalhadores, intimidando-os contra as imposições das empresas.
São práticas que se enquadram nas chamadas condições análogas à escravidão e que tem sido alvo de intensa fiscalização da Justiça do Trabalho e do Ministério Público, mas que, agora, manifestam-se também em obras públicas (José Carlos Ruy).