Afegãos questionam Otan: imperialismo semeia morte
Os bombardeios da Otan no Afeganistão contra alvos civis vitimaram, nos últimos dias, dezenas de mulheres, crianças e cidadãos inocentes.
Publicado 02/06/2011 12:35
Segundo as autoridades afegãs, um dos bombardeios mortíferos ocorreu no distrito de Nawzad, província de Helmand, no sábado, depois de um grupo de guerrilheiros ter atacado soldados da Otan, a Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf).
A Isaf pediu então apoio aéreo, e os aviões bombardearam implacavelmente áreas residenciais, no meio da noite. O governador da província, Jamaludin Badr, afirmou que mais de 70 guerrilheiros foram eliminados. Por seu lado, familiares enlutados levaram 12 corpos de crianças e de duas mulheres em caminhões até à capital distrital, Lashkar Gah, como prova dos ataques a alvos civis.
Já na semana passada, dia 26, um outro bombardeio da Isaf na provincia Oriental de Nuristan matou mais 20 civis e 22 polícias afegãos. Segundo o governador provincial, “os polícias morreram por disparos fratricidas e os civis morreram ao serem confundidos com talibãs”.
Mas, apesar das explicações, a intervenção estrangeira e as constantes baixas “colaterais” suscitam um repúdio crescente entre a população civil.
Um outro ataque, que causou quatro mortos, esteve na origem das manifestações de protesto na cidade de Talocan, em 18 e 19 de Maio, que foram violentamente reprimidas, resultando em 15 mortos e vários feridos.
Em fevereiro, uma operação conjunta de forças internacionais e afegãs, na província de Kunar, deixou para trás 64 mortos civis.
Uma “força de ocupação”
A situação chegou a tal ponto que o próprio presidente afegão, Hamid Karzai, veio a público contestar as práticas da Otan. Em conferência de imprensa, na terça-feira (31), Karzai declarou que “se continuarem a bombardear casas afegãs quando o governo os proíbe, a sua presença será vista, não como uma força da guerra contra o terrorismo, mas como uma força de ocupação”. A partir “deste momento, os ataques aéreos a casas civis não serão permitidos”, salientou Karzai.
No domingo (27), o presidente afegão qualificou como “um grave erro” e “um assassínio” o ataque aéreo de sábado e lançou um “último aviso” às forças da Otan, para que cessem as suas operações “unilaterais”.
“Temos dito em repetidas ocasiões aos Estados Unidos e à Otan que as suas operações unilaterais e inúteis causam a morte de afegãos inocentes e que tais operações violam os valores humanos e morais, mas parece que não nos escutam”, afirmou num comunicado, com um tom duro pouco habitual.
Reconhecendo as acusações, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) emitiu na segunda-feira (30) um comunicado no qual pede “desculpas pela morte de civis (…) no incidente no distrito de Nawzad, em Helmand” e promete “prevenir no futuro este tipo de incidentes”.
O atoleiro em que se transformou o Afeganistão para as forças ocidentais faz com que alguns líderes comecem a distanciar-se e a preparar o terreno para uma eventual retirada. Esse é certamente o sentido das palavras de Stephen Harper, primeiro-ministro canadiano, durante o seu deslocamento ao teatro de guerra na segunda-feira.
Segundo disse “o Afeganistão continua a ser um local violento, perigoso para os seus cidadãos”, pelo que é preciso “trabalhar para melhorar o seu destino”. Mas, prosseguiu, “este país já não representa uma fonte de terrorismo mundial”, o que é “um feito notável”.
Fonte: Avante!