A história de um partido, por Emerson Brotto*
Parafraseando o poeta Ferreira Gullar, que disse que quem quiser “contar” a história do Brasil, tem que falar do PCB, quem quiser “contar” a história de Passo Fundo, tem que falar d’O Nacional. Mais certo ainda é dizer o inverso: O Nacional conta a história de Passo Fundo, “falando” dela, por seus mais diversos interlocutores, através do tempo passado e presente.
Publicado 24/06/2011 23:08 | Editado 04/03/2020 17:10
Revisitar o Partido Comunista do Brasil (PCB), nos idos de 1922/1948, do século recém findo, a partir de uma visão do norte de nosso Estado, em trabalho de dissertação do Mestrado em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), concluído em 2005, feito livro brevemente, só nos foi possível através das informações veiculadas no jornal O Nacional.
1922 é o ano da fundação do PCB em solo pátrio. Poucos anos antes, em 1917, a Rússia Czarista seria palco de profundas transformações políticas e sociais. A revolução bolchevique fará simpatizantes nos quatro cantos do Globo! Inclusive aqui!
É também o ano em que os “tenentes”, imortalizados no episódio que ficou conhecido como os “18 do forte”, surgem na cena política brasileira. Deles sairão homens que farão história, e terão seus nomes para sempre lembrados, dentre os quais, Luiz Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”.
Não muito distante, o ano de 1930, com Getúlio Vargas à frente, e muitos dos “tenentes” em sua guarda, marcará o fim da República Velha e o início de um novo período sócio-político-econômico do país.
Os “tenentes” se separam. Uns querem o Brasil reformado. Outros, revolucionado!
Prestes volta da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (U.R.S.S) em 1935, incumbido de fazer aqui, o que os operários e camponeses russos fizeram em 1917: a revolução socialista.
É aclamado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento patriótico e anti-fascista que fez adeptos em todos os estratos sociais do Brasil, do Estado e de Passo Fundo.
Transcorria o dia 20 de junho de 1935, e a edição nº 2.136 de O Nacional informava aos passo-fundenses que a ANL local havia incumbido os companheiros Múcio Martins de Castro e Luiz Gonzaga Rocha, de organizarem núcleos de intelectuais jovens e carpinteiros.
Múcio de Castro ainda não sabe que em 1940 sua família vai assumir os comandos da empresa jornalística da qual ele havia sido funcionário em 1930, e que fora fundada em 1925, por Herculano Annes, Theofilo Guimarães, Americano Araújo Bastos e Hiram Araújo Bastos.
Não sabia também que muitos anos à frente, sua postura firmemente democrática seria posta à prova por ocasião do Golpe Militar de 1964, quando então, segundo contam as vozes jornalísticas de Passo Fundo, vindas do saudoso Argeu Santarém e do Ivaldino Tasca, rechaçou a intervenção dos militares em seu jornal, no intuito de que despedisse o repórter “comunista” João Freitas, falecido em 1992, e que também deixou profícuo trabalho em prol da advocacia em nossa cidade.
Segundo alguns historiadores, com as quais não coadunamos, a ANL, em seu veio “militarista-revolucionário”, conduzirá o Brasil ao Estado Novo, abrindo passagem à ditadura varguista iniciada em 1937, e que só findará em 1945, com a redemocratização do país.
1945 culminará com o fim da 2ª Guerra Mundial. É a “redenção” da humanidade! Todos ganham contra Hitler, inclusive o PCB, que fora alijado da política nacional pós-35, devido a sua desfocada insurreição!
Stálin vencera Hitler inexoravelmente! É o pai dos povos! O heroísmo dos combatentes russos faz história!
Prestes sai da prisão e reorganiza o PCB. É um período em que o partido atrai para si numerosos intelectuais: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Carlos Drumond de Andrade e Monteiro Lobato, dentre outros. E o PCB (Partido Comunista do Brasil) é reorganizado em todos os cantos da nação.
Em Passo Fundo não foi diferente. Em 30 de dezembro de 1945, conforme a edição de O Nacional, de dois de janeiro de 1946, reorganizava-se o do Diretório local, em reunião realizada na residência do Sr. Bonifácio João Aramchipe, e que ficou constituída pelos seguintes cidadãos: João Roma, Eduardo Barreiro, João Cony, Ernesto Delvaux (Piti), além de outros nomes.
Só homens? Não! Albertina Rosado também estará entre eles. Uma mulher à frente de seu tempo!
Tarso de Castro, um dos gurus da imprensa moderna do Brasil, “cria” da casa d’O Nacional, em artigo intitulado “Os meus heróicos, românticos e belos comunistas”, publicado na revista “Afinal”, de São Paulo, nos idos de 1989, dirá: “(…..) Sobre tudo e todos reinava a linda professora Albertina, com sua pele branca, seus cabelos, mulher de finos tratos. E comunista. Com o que, tenho certeza, se alguém nos perguntasse naqueles dias, aos berros, na rua, o que éramos, poderíamos responder em coro: somos comunistas.”
Passado o turbilhão da beligerância hitlerista, logo os blocos se formam. Capitalistas versus comunistas. O Brasil alinha-se aos Estados Unidos. A guerra fria faz córregos em todo o globo, e deságua com força em 1947, varrendo, uma vez mais, os comunistas da vida legal.
O PCB é cassado em 1947. Voltará em 1984.
Em 1964 o país é amordaçado, o que leva, em setembro 1976, o jornalista Ivaldino Tasca a publicar “em branco” sua coluna em O Nacional, como retrata José Ernani de Almeida.
Lutadores e sonhadores do passado, como João Amazonas, feitos presentes pelas Manoelas e Julianos da vida, relatados pelos Argeus e Tascas da lida!
Estamos aqui, em 2011, dizem todos que seguem nesta jornada, sejam jovens, adolescentes e velhos militantes da causa!
E, se hoje, como em tempos idos, lhes perguntam o que são, respondem ainda mais convictos:
– Somos comunistas!!!
(*) Emerson Lopes Brotto
Bacharel em Direito pela UPF
Mestre em História pela UPF
Membro da Executiva Municipal do PC do B