Escândalos do grupo Murdoch levam sete jornalistas para a cadeia
Em meio aos escândalos de espionagem telefônica que abalam o império midiático do magnata Rupert Murdoch nos dois lados do Atlântico, a polícia de Londres prendeu um ex-editor do News of the World como parte das investigações sobre a invasão de correios de voz pelo tabloide da News Corp. Um dia antes, a companhia abandonou sua oferta para assumir o controle total da operadora de TV paga British Sky Broadcasting (BSkyB).
Publicado 15/07/2011 11:14
Neil Wallis, de 60 anos, foi preso nesta quinta-feira (14) sob suspeita de conspirar para interceptar chamadas telefônicas. Ele também trabalhou como consultor de comunicações para a polícia em 2009 e 2010. A prisão é, no mínimo, a sétima detenção de um repórter ou editor ligado ao News of the World neste ano.
A polícia investiga alegações de que os repórteres do agora extinto tabloide invadiram os telefones móveis de políticos, celebridades, vítimas de assassinato e de ataques terroristas, além de subornar oficiais de polícia para obter informações. O escândalo levou a News Corp., comandada por Rupert Murdoch, a fechar o jornal.
Wallis tinha um contrato para prestar consultoria na área de comunicação, incluindo assessoria em discursos escritos e relações públicas, enquanto o vice-diretor de comunicação do serviço policial estava em licença médica, informou a polícia. Andy Coulson, ex-porta-voz do primeiro-ministro britânico David Cameron e ex-editor do News of the World na época dos supostos crimes, foi detido e interrogado pela polícia na semana passada, na prisão de maior notoriedade até então.
Clive Goodman, ex-repórter responsável pela cobertura da família real britânica para o tabloide, foi detido novamente no dia 8 de julho, e seu escritório no Daily Star foi examinado em busca de provas ligadas ao caso da invasão de telefones. No mesmo dia, a polícia prendeu um homem de 63 anos, em Surrey, na Inglaterra, sob suspeita de corrupção.
Goodman e o investigador particular Glenn Mulcaire foram presos em 2007 por fazer escutas de telefones celulares. Mulcaire foi sentenciado a seis meses por obter ilegalmente mensagens de celebridades. Goodman foi sentenciado a quatro meses por conspirar para interceptar as mensagens.
A investigação atual foi aberta em janeiro após o surgimento de novas informações de processos civis movidos por celebridades, como a atriz Sienna Miller, contra o tabloide. A polícia abriu uma segunda investigação na semana passada devido a alegações de pagamentos feitos à polícia.
Demissão
Já a presidente-executiva da unidade britânica de jornais da News Corp., Rebekah Brooks, deixou seu cargo na sexta-feira, cedendo à pressão política e de investidores. Brooks, 43 anos, ex-editora dos tabloides News of the World — pivô do escândalo — e Sun, tem grande proximidade com Murdoch. Ruiva, jovial e de língua ferina, ela se tornou uma personalidade pública de destaque na Grã-Bretanha.
A indignação popular com a revelação de que o News of the World havia grampeado caixas postais telefônicas de vítimas de homicídios e de outras personalidades levou Murdoch a fechar a publicação e a desistir de uma oferta de 12 bilhões de dólares para adquirir ações que ele ainda não possui da operadora de TV paga BSkyB.
Murdoch, um australiano de 80 anos que se acostumou a ser cortejado pela elite política britânica, terá um embate com o Parlamento na terça-feira, quando a comissão encarregada dos meios de comunicarão irá interrogar o magnata, seu filho James, de 38 anos, e a própria Brooks a respeito dos grampos telefônicos.
Tom Mockridge, presidente-executivo da Sky Italia, braço da News Corp para a TV paga nesse país, substituirá Brooks, que passou mais de duas décadas na empresa jornalística. Analistas devem receber positivamente o fato de o neozelandês vir da televisão, uma área em que a News Corp deseja se expandir, e não ter tido envolvimento direto na última década com a agora malvista unidade de jornais na Grã-Bretanha.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, e membros da oposição trabalhista já vinham defendendo o afastamento de Brooks. Na quinta-feira, um influente investidor saudita da News Corp também se voltou contra a executiva.
Em mensagem aos subordinados, Brooks disse: "O meu desejo de permanecer na ponte de comando fez de mim um ponto focal do debate. Isso agora está desviando a atenção de todos os nossos honestos esforços para corrigir os problemas do passado. Por isso eu apresentei minha demissão a Rupert e James Murdoch. Embora tenha sido objeto de discussão, desta vez a minha demissão foi aceita."
Uma semana atrás, ela havia dito à equipe do News of the World, toda ela demitida com o fechamento do jornal, que ela própria permaneceria na empresa — o que causou indignação entre muitos dos agora 200 desempregados. Alguns acusaram Murdoch de sacrificar seus empregos para salvar o dela.
Da Redação, com agências