Comportamento do emprego revela estagnação da indústria em SP
O comportamento do emprego em maio revela que a crise chegou ao Brasil, a economia está em desaceleração e a indústria, maltratada pelos juros altos e o câmbio, estagnou. A geração de empregos com carteira assinada em agosto, ainda que positiva, caiu 36,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com informações divulgadas nesta quarta, 14, pelo Ministério do Trabalho. Foram criadas 190,4 mil vagas contra 299,4 mil 2010. A desaceleração é mais forte na indústria.
Publicado 14/09/2011 16:28
O mês de agosto é o primeiro do ano com queda substancial do nível de emprego da indústria de transformação paulista e o pior oitavo mês do ano da série calculada pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) desde 2006, avalia a entidade.
13 mil vagas a menos
Segundo o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp, Paulo Francini, o fechamento de 13 mil postos de trabalho em agosto, que representou queda de 0,49% no nível de ocupação da indústria paulista, na série com ajustes, não é normal para o mês e confirma que o mau momento vivido pelo setor fabril apenas começou a bater no emprego.
“Claramente dá para ver que temos uma mudança. Se comparamos com outros meses de agosto, há geração de empregos”, disse. Francini também destacou o espalhamento dos cortes pelos 22 setores analisados. “No ano passado, eram 15 setores positivos, em 2009 eram 13, e agora temos só cinco positivos, enquanto os negativos pularam para dez”.
Política cambial
Segundo o diretor, o mês passado “não há de ser uma exceção” e a trajetória de recuo do nível de ocupação deve continuar em setembro e outubro. A política cambial, que favorece a valorização do real e as importações, é apontada pela entidade como a principal causa. “Enquanto os produtos importados entrarem da forma que estão entrando, substituindo, alijando e fazendo esse abatimento rigoroso sobre a produção doméstica, isso bate no emprego”, afirmou.
Para Francini, há o risco de o emprego da indústria de transformação paulista encerrar o ano no zero, na comparação de dezembro de 2011 com igual mês de 2010, relação que para ele é a que realmente dá a dimensão da geração de postos de trabalho. Atualmente, na comparação de agosto com mesmo mês do no passado, foram criadas 40,5 mil vagas no setor, número que o economista considera fraco. “A geração de empregos nessa base ficou muito aquém da desejada”.
Perspectivas pessimistas
O diretor do Depecon também julga que o emprego na indústria paulista já começou a perder fôlego nos 12 meses encerrados em agosto, que acumulam alta de 3,54% no nível de ocupação frente os 12 meses anteriores. “A movimentação desse índice é suave, mas quando ela chega nesses pontos de inflexão, normalmente a queda é sentida durante um bom período”, argumentou Francini, para quem o pico da criação de vagas em 2011 já foi ultrapassado.
Outro fator que contribui para o desaquecimento do setor é a política monetária, que apenas deu sinais de mudança na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Mesmo após a redução de 0,50% na taxa básica de juros (Selic), o Brasil ainda é o campeão mundial dos juros reais altos.
O Depecon prevê que 2011 se encerre com 70 mil novos postos de trabalho na indústria, projeção que, no entanto, considera pouco provável. No ano passado, foram abertos 120 mil postos de trabalho na indústria de transformação de São Paulo, avanço de 4,7% sobre 2009. Como neste ano, até agosto, a geração foi de 107 mil empregos e a indústria deve seguir demitindo, é certo, defende Francini, que esse contingente será reduzido daqui para frente.
Na visão de Francini, com a redução do nível de empego industrial, é questão de tempo para que o mal estar sentido somente por esse setor chegue à sociedade por meio de uma taxa de desemprego maior. “Somos muito felizes que a nossa taxa de desemprego esteja em cerca de 6%, mas começa a haver perda na parte do emprego que consideramos fundamental, porque é um emprego de melhor qualidade, maior renda e melhor formação”.
Com informações do Valor