Presidenta do CPM fala sobre atividades e sobre a luta da mulher

A presidente do Centro Popular da Mulher (CPM), entidade ligada a União Brasileira de Mulher (UBM), a advogada Ana Carolina Barbosa está com uma intensa agenda de atividades e mobilização no Estado diante das comemorações do Dia Internacional da Mulher. Mesmo assim, ela concedeu uma rápida entrevista para o Portal Vermelho. Confira abaixo:

Vermelho: O que as mulheres têm para comemorar neste ano?
Ana Carolina: Bom, eu acho que toda vez que temos que fazer uma reflexão sobre o oito de março, na realidade, temos que pensar numa dupla função daquilo que a gente comemora de avanço de alguma medida, que são os avanços que vêm ao longo do tempo e a gente tem que relacionar com o que era antigamente, mas também o que precisa avançar para frente. Acho que temos que ter esse caráter, nada contra festejar e comemorar, mas o sentido tem que ser outro. E é bem essa a discussão que a gente faz. Então acho que é isso, nem tanto a gente comemora, mas estabelece uma marca com essa questão da luta e também transforma isso em uma plataforma para mostrar a nossa luta, um meio de comunicação com a sociedade, pra dizer onde a gente está e onde nós podemos chegar e mostrar que só com nossa luta conseguiremos avançar.

Vermelho: E qual medida de avanço você destacaria para o movimento feminista neste ano?
Ana Carolina: Este ano eu destacaria a questão da decisão do Superior Tribunal Federal (STF) com relação à Lei Maria da Penha, que agora torna a situação da violência contra a mulher de fato pública, pois atribui ao Ministério Público a possibilidade de continuar com a ação, mesmo se a mulher no caso quiser desistir da causa, assim, tira do plano privado e joga para o plano público. Acho que essa é uma medida eficaz para que possamos resolver a questão da violência. Com essa medida se faz como um instrumento contra a imposição machista. Não faz pelo controle, você faz mais pela violência, só pelo fato dela ser mulher que é o tipo de violência que a Lei Maria da Penha trata no estágio doméstico, e aí tivemos pontos de avanços significativos. Recente também foram os avanços em relação a licença maternidade, mas muito ainda precisa avançar.

Vermelho: E quais são os principais pontos que você acha que mais precisam avançar?
Ana Carolina: Por exemplo, a gente precisa avançar nesta luta com relação à legalização do aborto no Brasil, que ainda é uma das principais causas de morte materna, que nos leva inclusive á condenação nas cortes internacionais, porque o Brasil ainda não trata de forma condizente e não leva em consideração do ponto de vista da integralidade da saúde da mulher, isso ainda é um ponto que temos que avançar demais, precisamos conseguir avançar para garantir a saúde da mulher, enquanto direito humano mesmo.

Vermelho: E a participação da mulher na política?

Ana Carolina: Nós da UBM temos que garantir também a ampliação dos espaços de poder ocupado pelas mulheres. Nós temos uma presidente da república mulher, mas isso ainda não reflete nos espaços de poder tanto legislativo quanto executivo, então temos que fazer um trabalho identificando as mulheres que possam participar, começamos a lançar em alguns estados e devemos fazer aqui em Goiás uma campanha intitulada “mulher, seu voto não tem preço”, com um enfrentamento de pensar a ocupação da mulher no espaço político como um canal de atuação concreta das mulheres também.

Vermelho:
E a desigualdade salarial?

Ana Carolina: A questão salarial também é muito importante, a desigualdade do salário para o mesmo cargo e mesma formação é inconstitucional, mas a gente percebe as amarras e é um contra-senso também porque as mulheres vêm aumentando o seu potencial de formação, são maioria na graduação, têm mais títulos e têm mais destaques, mas aí na hora que chega no campo profissional enfrenta essas dificuldades.

O que precisamos é de medidas legais para este enfrentamento. A gente precisa da igualdade de salários. Ainda falta muito a ser destacado neste sentido. Do lado do trabalho doméstico a gente consegue se proteger, mas por outro lado, que não tem só amarras da questão salarial, mas na carga de trabalho, colocando o trabalho doméstico como uma responsabilidade social da mulher e isso tem impacto na saúde, no lazer, no trabalho externo, na necessidade de redução da jornada, mas com o compartilhamento de tarefas. E tem impacto em quem assume socialmente o trabalho doméstico. Aí envolve preconceito, e a mulher assume uma dupla jornada de trabalho. E tem também outras ligações porque o mundo do trabalho é uma radiografia que também tem cor, porque a mulher negra recebe menos ainda do que as mulheres brancas.

Vermelho: E voltando à questão do Dia Internacional da Mulher, quais são as principais atividades do CPM para o Dia da Mulher?
Ana Carolina: Esse ano, o CPM realiza atividades de forma mais coletiva, em parcerias. Este ano renovamos o trabalho junto com o Fórum Goiano de Mulheres que já se organizavam em função do oito de março em articulação com os movimentos sociais desde os anos 90, mas que está retomando agora. Nós nos responsabilizamos por algumas atividades, principalmente com a exposição de resgate da história do movimento feminista no mês todo.

A abertura da Jornada de Atividades do Fórum Goiano de Mulheres teve início no dia 02 de março, no Grande Hotel, no Centro de Goiania, onde foram abordados os temas relativos as ações para o mês da mulher, como o salão de exposições: Mulheres em Movimento, memórias do Fórum Goiano de Mulheres e das entidades feministas e de mulheres, a abertura festiva foi no tradicional Chorinho e Samba, no fim da tarde na Avenida Goiás.

No dia 03, houve uma oficina de Cartazes para a Marcha das Mulheres que realizaremos amanhã, dia 08 essa grande caminhada das mulheres do campo e da cidade, com a afirmação dos nossos direitos. A concentração será às 14 horas na Praça Bandeirante, bem no Centro da cidade e depois vamos para a Praça Universitária que terá um grande show, Mulheres em Canto a partir das 17 horas com apresentação do grupo Matamba, Clécia Sant’Ana e Janaína Soldera, Claudia Vieira e Maíra e eu terei uma participação como DJ. Vai ser bem legal.

No dia 17 de março, o núcleo do CPM em Luziânia estará realizando uma caminhada também, a partir das 17 horas. Já no dia 29, ás 8 horas no Teatro da PUC-Goiás temos uma atividade muito importante que será um Juri Simulado, colocando em debate a saúde da mulher, a questão do aborto e discutir este tema dentro da Pontifícia Universidade Católica de Goiás já é uma vantagem e essa atividade, estamos nos responsabilizando diretamente com ela.

Vermelho: E como é o trabalho diário do Centro Popular da Mulher?
Ana Carolina: No dia a dia do CPM atendemos as mulheres na parte jurídica e psicológica. Além disso temos o Projeto Canto da Mulher, com orientação. Mas a principal causa que atendemos é a violência doméstica, direito de família, separação. Executamos um projeto que pretende fazer a discussão da democratização da Lei Maria da Penha e a democratização da mídia, a ideia é dialogar com profissionais da área, para leitura de mídia.

Tem outro projeto do Ponto de Cultura, A Rede Cultural da Mulher,  que precisa ser retomada com turmas de teatro, dança, música e informática e também tem outros projetos em parceria com as escolas, associação de bairros, entre outros. No dia a dia é assim, sempre na luta por igualdade, autonomia e buscando a transformação social.

Da redação local, Eliz Brandão para o Portal Vermelho.