Afeganistão quer acelerar saída de tropas Otan
O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, afirmou nesta quinta-feira (15), após encontro com o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, que as tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) devem entregar o controle das vilas e áreas rurais do país a tropas afegãs em 2013, um ano antes do previsto no acordo que o país tem com os Estados Unidos.
Publicado 15/03/2012 10:47
O pedido de Karzai chega em um momento de alta tensão nas relações entre Cabul e Washington, motivado pela queima do Corão, o livro sagrado muçulmano dentro de uma base americana, e pelo massacre de 16 civis cometido por um militar norte-americano.
De acordo com a agência Associated Press, Karzai fez esse pedido a Panetta e também em um comunicado divulgado à imprensa após a reunião. "As forças de segurança afegãs têm a capacidade de manter a segurança nas áreas rurais e nas vilas sozinhas", afirmou Karzai.
Segundo a agência, Karzai afirmou a Panetta que o massacre ocorrido em Kandahar, no qual mulheres e crianças morreram, foram cruéis e que é preciso fazer todo o possível para evitar novos episódios como esse. Entre as medidas, disse Karzai, deve estar uma transferência de autoridade para as tropas afegãs de forma mais rápida que o previsto.
A proposta pode enfrentar resistência. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, desejam manter o plano acordado de transferência de autoridade em 2014. Na quarta-feira, durante encontro em Washington, ambos afirmaram isso. "Não vamos abandonar a missão no Afeganistão", disse Cameron, em visita oficial aos EUA.
A próxima cúpula da Otan, que será realizada em Chicago (EUA) em maio, pretende determinar a próxima fase da transição militar no Afeganistão, o que inclui, segundo Obama, a mudança das forças aliadas ocidentais para um "papel de apoio em 2013, antes de os afegãos assumirem a responsabilidade plena em 2014".
"Não podemos perder de vista que nossas forças fizeram progressos no Afeganistão", declarou Obama, apesar de protestos brotarem no país contra os Estados Unidos. Ele ressaltou que não prevê "nenhuma mudança súbita adicional" ao plano de transição no país, onde EUA e Reino Unido são os países que mais tropas mantêm.
Alguns veículos de imprensa norte-americanos chegaram a afirmar que a administração Obama cogita sair mais cedo do Afeganistão, mas diante das declarações públicas dos dois líderes, é difícil que uma mudança brusca ocorra.
A Otan e os Estados Unidos, entretanto, devem sofrer grande pressão por parte dos afegãos. Parlamentares do país afirmaram que Karzai não deve assinar o novo acordo sobre a presença de tropas se o militar que provocou o massacre em Kandahar não for julgado no Afeganistão. A demanda não é exclusiva dos parlamentares, mas também de boa parte da população local.
Na noite de quarta-feira (14), o soldado americano acusado de assassinar 16 civis no Afeganistão foi transferido para um centro de detenção no Kuwait. O militar foi tirado do Afeganistão seguindo "recomendações legais", destacou o capitão John Kirby, porta-voz do Pentágono, de acordo com o jornal The Washington Post. O suspeito foi transportado em um avião militar norte-americano devido ao fato de o Afeganistão não possuir as instalações de detenção "apropriadas" para "este tipo de caso", especificou Kirby.
Kirby frisou que compreende que os afegãos estejam "furiosos" pelo fato de o soldado ter sido levado para fora do Afeganistão, mas, segundo ele, oficiais norte-americanos estiveram em contato com as autoridades afegãs. "Mantivemos as autoridades afegãs, inclusive o presidente Karzai, informados desta transferência. Eles sabem que estamos fazendo isto e por que estamos fazendo", acrescentou.
A Divisão de Pesquisas Criminais (CID) das Forças Armadas dos Estados Unidos continua a busca de provas para preparar o processo. Por enquanto, se desconhece a identidade do militar e a mesma não deve ser divulgada até que as autoridades militares formulem as acusações.
No entanto, embora seu nome não tenha sido divulgado, meios de comunicação norte-americanos afirmaram que o autor do massacre é um sargento de 38 anos da Base Conjunta Lewis-McChord, situada nos arredores de Seattle. Também não foram esclarecidas as motivações ou o estado psicológico do militar, mas segundo a imprensa americana, o suspeito serviu no Iraque, onde sofreu um traumatismo cerebral, mas foi considerado apto para uma nova missão no Afeganistão.
Protestos
A indignação dos afegãos com o massacre continua motivando protestos. Milhares expressaram sua repulsa em relação aos assassinatos cometidos pelo estadunidense – que vitimaram inclusive nove crianças. Manifestações em Kandahar e Zabul se seguiram ao traslado do sargento, que os afegão acusam de ter sido realizado pelas costas de autoridades de Kabul e da população de modo geral.
Os manifestantes agitavam bandeiras brancas, sílmbolo do islã, reclamando que o culpado pela chacina seja julgado publicamente no Afeganistão.
Taleban suspende diálogo com os EUA
Também nesta quinta-feira, o grupo Taleban anunciou a suspensão das conversas com os Estados Unidos que desde o início do ano estavam ocorrendo no Catar. "O emirado islâmico decidiu suspender as conversas com os norte-americanos até que esclareçam sua posição e mostrem a disposição de cumprir suas promessas", disseram os talebans em comunicado postado em seu site.
Os insurgentes alegaram que "a responsabilidade" do fracasso do diálogo deve ser "totalmente" atribuída "à postura cambaleante, errática e imprecisa" dos EUA. Eles argumentaram que Washington não implementou iniciativas que haviam sido contempladas como "passos práticos" para facilitar as negociações entre as partes, como uma "troca de prisioneiros". Também criticaram que os americanos tenham iniciado "uma campanha de propaganda infundada" contra o grupo.
Com agências