Líbia: a "Primavera" virou caos
Há precisamente um ano, as forças aéreas da França, Reino Unido e EUA deram início à operação militar contra a Líbia. O objetivo foi formulado na resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada a 17 de março de 2011.
Publicado 19/03/2012 19:28
Anunciava-se que se tinha em vista garantir o "observância do embargo para o fornecimento de armas" ao regime de Muamar Kadafi e a "interdição do espaço aéreo para a aviação líbia", a fim de tornar impossível a sua utilização "contra a população pacífica".
A Rússia, a China e a Alemanha abstiveram-se na votação. Moscou recusou-se a votar a favor, pois supunha que a resolução podia ser interpretada livremente pelo Ocidente e servir de sinal para o início de uma intervenção militar.
Ao mesmo tempo, não impôs o seu veto, pois esperava a que a observância rigorosa da resolução resultasse na cessação da confrontação militar entre as autoridades e os insurretos.
Em resultado disso, a variante líbia da “Primavera Árabe” acabou na intervenção, na derrubada e assassinato de Muamar Kadafi. A operação militar do Ocidente e dos seus aliados “Odisséia. O Alvorecer” fez o país mergulhar no caos, – opina o presidente do Instituto do Oriente Médio, Evgueni Satanovski.
“O motim separatista em Bengazi, que dera outrora início à 'Primavera Árabe', teve sua continuação lógica. A Cirenaica anunciou a sua autonomia e isso torna evidente por que motivo a Arábia Saudita e o Catar levaram a cabo a operação de derrubamento de Kadafi. Hoje a hostilidade entre as tribos já alcança o nível de genocídio, são massacradas algumas tribos africanas. A bandeira da 'Primavera Árabe' não resultou na formação de nenhuma democracia na Líbia – o país está à beira do desmoronamento", afirma.
Ao apoiar a luta dos insurretos contra Muamar Kadafi, o Ocidente pensava em tudo menos nas reformas democráticas na Líbia, – tinha em vista apenas os recursos do país. Mas os países ocidentais não conseguiram estabelecer o seu controle nem sequer sobre estes recursos, – assevera Serguei Demidenko, perito do Instituto de Estimativas e Análises Estratégicas.
“O Reino Unido e a França tentaram estabelecer o seu controle sobre o petróleo líbio. Mas este objetivo também não foi alcançado pois a exploração de jazidas petrolíferas é possível apenas quando existe estabilidade política. Quando no país se trava uma guerra de todos contra todos, este objetivo torna-se irrealista. Por outro lado, a União Européia obteve um foco poderosíssimo de proliferação do radicalismo islâmico”, opina.
O poder local está nas mãos de comandantes de campo, mais de cem mil líbios estão armados e a atividade do Conselho Nacional de Transição é confusa e nebulosa. Até hoje nem sequer se sabe ao certo quem é que faz parte deste tal conselho. E quem é que ganhou com a variante líbia da “Primavera Árabe”? O perito do Instituto de Estudos Orientais junto da Academia de Ciências da Rússia Aleksei Podserob tentou dar uma resposta a esta questão.
“Ganharam os países em cujos bancos se encontram os ativos líbios, que não foram descongelados definitivamente até hoje. Ganhou, certamente, o Catar pois a derrubada do governo de Kadafi permitiu-lhe reforçar consideravelmente a sua influência política nesta região”.
O perito constatou que, durante o ano passado, o PIB da Líbia baixou bruscamente, o desemprego aumentou, enquanto o nível de vida decaiu. Mais de dez mil pessoas estão nas prisões e as repressões contra os partidários de Kadafi continuam. Todas as tentativas da Corte Criminal Internacional de conseguir informações objetivas sobre a situação nas prisões resultam invariavelmente em fracasso.
Com informações da Voz da Rússia