Festival de Cannes começa com diretores de peso e estrelas
Se a Europa vive sua pior crise econômica em décadas, o mesmo não se pode dizer do Festival de Cannes, que começa nesta quarta (16). Seus organizadores conseguiram realizar a seleção mais peso-pesado dos últimos anos – tanto no quesito “autores de grande prestígio” como naquele que atrai a grande mídia, “os grandes astros de Hollywood” (e alguns da própria Europa).
Publicado 16/05/2012 10:46
Entre os diretores, basta dizer que, com exceção de Terrence Malick, todos os vencedores da Palma de Ouro desde 2006 apresentam novos filmes neste ano: o britânico Ken Loach (vencedor por “Ventos da Liberdade”) com “Angel’s Share”; o alemão Michael Haneke (“A Fita Branca”) com “Amour”; o romeno Cristian Mungiu (“4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”) com “Além das Colinas”; o francês Laurent Cantet (“Entre os Muros da Escola”) com um dos segmentos de “7 Dias em Havana”; e o tailandês Apichatpong Weerasethakul (de “Tio Boonmee…”) com “Mekong Hotel”. Com os três primeiros na competição e mais o iraniano Abbas Kiarostami, Palma de Ouro em 1997, aumentam as chances de algum diretor entrar para a seleta lista dos bicampeões.
Além deles, a competição reúne outros mestres consagrados há mais de 20 anos, como o francês Alain Resnais e o canadense David Cronenberg. O brasileiro Walter Salles tenta sua primeira Palma com uma produção internacional, “Na Estrada” (“On the Road”).
E há ainda um punhado de diretores mais jovens pouco conhecidos do público, mas que já têm uma obra consistente, como o italiano Matteo Garrone, o francês Jacques Audiard, o ucraniano Sergei Loznitsa e o mexicano Carlos Reygadas. Além de uma leva de diretores americanos independentes, que construíram estilos pessoais às margens de Hollywood: Wes Anderson, Andrew Dominik, John Hillcoat e Jeff Nichols.
Hollywood na Riviera
A lista de estrelas no tapete vermelho nunca foi tão grande. Nicole Kidman e Matthew McConaughey levam dois filmes cada um à Croisette. Os dois estão juntos no drama “The Paperboy”, do mesmo diretor de “Preciosa” – num elenco que conta ainda com John Cusack, o ídolo teen Zac Efron e a cantora Macy Gray. Kidman ainda aparece ao lado de Clive Owen no romance “Hemingway e Gellhorn”, enquanto McConaughey contracena com Reese Witherspoon em “Mud”, também na corrida pela Palma.
Depois de levar a Palma de Ouro no ano passado como ator e produtor de “A Árvore da Vida”, Brad Pitt compete novamente com um violento filme de gângster, “Killing them Softly” – e, como sempre, deve trazer Angelina Jolie para as sessões de gala. Depois de anos sem um grande filme, Bruce Willis dá as caras em “Moonrise Kingdom”, o filme de abertura do festival – e traz com ele no elenco Edward Norton, Bill Murray e Tilda Swinton.
Isso sem falar no casal “Crepúsculo”, que chega a Cannes para provar que são atores de verdade, e não apenas rostinhos bonitos numa saga adolescente. Robert Pattinson, o vampiro Edward, deve injetar seu potencial de bilheteria no novo filme de David Cronenberg, “Cosmopolis” – que ainda reúne Paul Giamatti e os franceses Juliette Binoche e Mathieu Amalric. A “Bella” Kirsten Stewart encabeça o elenco de Walter Salles em “Na Estrada”, ao lado de Kirsten Dunst, Viggo Mortensen e Alice Braga.
Uma boa trupe de comediantes americanos desembarca na Riviera como dubladores da fauna de “Madagascar 3 – Os Procurados”: Ben Stiller, Chris Rock, Sacha Baron Cohen e David Schwimmer, o Ross de “Friends”. Há espaço até para os encrenqueiros profissionais: Shia LaBeouf, de “Transformers”, está no elenco de “Os Infratores”, enquanto o roqueiro Pete Doherty, preso inúmeras vezes por uso de drogas, está em “Confessions of a Child of the Century”.
Por fim, na paralela Quinzena dos Realizadores, o mexicano Gael García Bernal estrela o chileno “No”, como o jovem publicitário que comandou a campanha do “Não” em um referendo sobre a ditadura de Pinochet em 1988.

Brasil na fita
O Brasil este ano tem uma participação lateral em Cannes. Walter Salles é um diretor brasileiro na competição pela Palma, mas seu filme “Na Estrada” é uma produção internacional falada em inglês. O único brasileiro inédito no festival é o curta “O Duplo”, de Juliana Rojas, na Semana da Crítica. O país aparece como coprodutor de “La Playa DC”, de Juan Andrés Arango, filme colombiano na paralela Um Certo Olhar.
Como o Brasil é o país do momento na mídia internacional, os organizadores abriram um espaço de honra a cineastas veteranos. Nelson Pereira dos Santos tem seu último documentário, “A Música segundo Tom Jobim” (que já estreou no Brasil), exibido em apresentação especial.
Cacá Diegues será o presidente do júri do Caméra d’Or, que premia um longa de diretor iniciante, e terá seu “Xica da Silva” (1976) exibido na seção Cannes Classics, junto com a cópia recém-restaurada de “Cabra Marcado para Morrer” (1984), o documentário de Eduardo Coutinho que figura em nove entre dez listas de filmes brasileiros mais importantes de todos os tempos.
Fonte: Uol
Veja também:
-Walter Salles rodou 100 mil km e chegou a Cannes 2012