Passo Fundo: A vitória do NOVO*

Para tratar do resultado das eleições municipais que apontou a vitória de Luciano Azevedo e Juliano Roso, começo resgatando as palavras do grande sociólogo Max Weber: a política requer perspectiva e paixão.

A crença, a paixão por abrir novos caminhos, deverá sem pre vir acompanhada por uma perspectiva realista à qual as pessoas possam se agarrar porque passam a acreditar e porque vêem no caminho a ser percorrido mudanças palpáveis que lhes trarão benefícios. Os candidatos eleitos possuem – apesar da juventude – uma representativa caminhada política. Luciano foi vereador por três legislaturas. Já havia concorrido ao cargo de prefeito. Estava, enfim, calejado para esta disputa. É deputado estadual por duas legislaturas.

Como jornalista, responsável por um programa radiofônico, sempre esteve em contato com a comunidade, e, assim, conhecedor de seus anseios e seus problemas mais relevantes. Juliano Roso tem uma caminhada irrepreensível como líder estudantil e vereador por três legislaturas. Quem o conhece, sabe muito bem da sua paixão pela política. Juliano sempre soube que a política é como a perfuração lenta de tábuas duras. Exige, tanto paixão como perspectiva. Para isso o homem deve ser um líder, não somente um líder, mas também um herói, no sentido mais sóbrio da palavra. Só aquele que é capaz disso, tem a verdadeira vocação para a política. Juliano, como líder estudantil e vereador sempre pautou sua atuação pela coerência, pela coragem em assumir posições. Aqueles que desdenharam de sua força política, hoje, devem estar revisando suas posturas, marcadas pela arrogância e a auto-suficiência. Em política, isto é fatal. Luciano e Juliano fazem parte de uma geração política que surgiu após o longo período de ditadura militar, do impeachment de Collor e da consolidação da democracia em nosso país.Possuem estilos diferentes de fazer política.

Luciano é de um sorriso fácil, afável, do abraço espontâneo. Juliano é mais contido. Não é muito de sorrir. Sempre foi de fazer piquetes na frente de bancos, fábricas, escolas. Uma militância social. A união destes dois estilos de fazer política demonstrou ser acertada. A vitória é ainda mais expressiva se considerarmos que foi contra um candidato de reconhecido carisma que, apesar dos problemas enfrentados do ponto de vista jurídico, demonstrou possuir um eleitorado numeroso e cativo, e, contra uma coligação poderosa formada, entre outros pelo PDT e PT. Este último, além da vice-prefeitura, tem nas mãos o governo estadual e o federal. O trabalhismo aqui em Passo Fundo é uma força política de destaque. Em 15 eleições, a contar de 1947, obteve 9 vitórias e 6 derrotas. É um retrospecto invejável, o que demonstra que o legado de Vargas, Jango e Brizola ainda é muito forte entre nós.

O fato de ter perdido a cabeça de chapa nesta eleição, provocou desconforto entre segmentos do PDT. Muitas lideranças importantes abandonaram a sigla, ou, em muitos casos se negaram a entrar na campanha como o fizeram em ocasiões anteriores. Igualmente, alguns partidos foram desdenhados – como o caso do PC do B -, que hoje tem a vice-prefeitura e dois vereadores eleitos, constituindo-se,sem dúvida, no grande fato político desta eleição. Quem achava que o PCdoB havia cometido um verdadeiro “suicídio político” ao abandonar a administração municipal quebrou a cara, literalmente. Sua militância demonstrou uma garra extraordinária. É também importante lembrar que Passo Fundo tem uma sociedade conservadora. Afinal, por decreto, é “a mais gaúcha cidade do Rio Grande”. Como ainda não vi alguém pilchado ser progressista, parece-me que ter um candidato do PT como prefeito, assustou boa parte do eleitorado.

Já um comunista como vice – que também é um acontecimento –, entretanto, é mais palatável, principalmente, um candidato identificado com o eleitorado jovem, (o pequeno PCdoB encanta os jovens ), e de um partido sem o desgaste que o PT enfrenta atualmente com o julgamento do “mensalão”. Agora é começar a montar o novo governo, pensando em manter o legado do Prefeito Airton Dipp que é, sem dúvida, elogiável e significativo – dizer que a derrota foi em função de uma péssima administração, é puro e baixo revanchismo – e, avançar em algumas áreas fundamentais para a cidade como a questão do trânsito, educação para as crianças e saúde.O diálogo com o legislativo,onde o prefeito eleito não terá maioria, será decisivo.Pela experiência parlamentar dos eleitos para o executivo, creio que isto será devidamente equacionado,uma vez que ambos, sabem muito bem que uma Câmara de Vereadores que se preze, não é um convescote de comadres que divergem apenas sobre a cor do chapéu. Boa sorte ao novo prefeito e seu vice!

*José Ernani de Almeida, Historiador e Professor.