Filmes pernambucanos estreiam em SP
Duas produções inéditas de matriz pernambucana concorrem na seção Novos Diretores da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A ficção “Jardim Atlântico”, de Jura Capela, e o documentário “Francisco Brennand”, de Mariana Fortes, confirmam o bom momento do cinema feito no Estado. Com participação de músicos como Otto e Céu, “Jardim Atlântico” utiliza do gênero musical para discutir a violência entranhada na Nação brasileira.
Publicado 23/10/2012 12:17 | Editado 04/03/2020 16:56
O foco está em quatro jovens que vivem uma “jam” hedonista durante o Carnaval. Romântico demais para tal contexto, um dos rapazes não suporta a experiência e cai no fosso escuro do ciúme, afugentando a namorada. Rodado no Rio de Janeiro e Pernambuco, com gravações submarinas em Fernando de Noronha, sob diferentes abordagens, ele investiga a dinâmica afetiva e sexual contemporânea, tendo como pano de fundo a nossa contraditória realidade social.
Elogio à arte de fazer cinema, “Jardim Atlântico” se reinventa a cada bloco, revelando uma vontade latente de existir apesar de percalços como a desistência de Hermila, resolvida ao ser incorporada à história. Ao assumir riscos como estes e experimentar visual e narrativamente, o filme faz refletir sobre como a força do cinema pode ser melhor explorada.
Escultor do tempo
Impossível não relacionar a presença de Brennand na Mostra com seu homenageado, Andrei Tarkóvski. Ambos construíram um universo próprio, à parte da vida cotidiana, capaz de manipular o tempo. Com fotografia de Walter Carvalho, direção de arte de Daniela Pinheiro e narração de Hermila Guedes, “Francisco Brennand” expõe a intimidade do artista, recluso há quatro décadas no bairro da Várzea. O filme promove uma imersão no universo particular de Brennand sem depoimentos ou didatismos.
Ao saber que sua sobrinha-neta queria fazer um filme sobre ele, o ceramista confiou a ela um diário iniciado em 1948. Da vida, ressalta-se as mulheres que serviram de inspiração para as pinturas, e a relação com o pai, Ricardo, de quem recebeu as chaves da oficina em 1978. “Sabia que nunca mais sairia de lá”, disse Francisco. Além do diário, base para a narração, em sua pesquisa a diretora encontrou preciosos rolos de super 8, que mostram a construção da cidadela.
Fonte Folha de PE