7° Mostra Cinema aborda Direitos Humanos e Ditadura Militar
A 7ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, iniciada na última quinta-feira (22) em São Paulo, foi aberta com o tema da memória, verdade e justiça no país. Dentre os filmes exibidos está o a cineasta Tata Amaral, que da uma visão atual sobre o período da ditadura militar.
Publicado 24/11/2012 22:50
Carta Maior: Por favor, conte um pouco em que história o filme foi baseado e como foi a transposição dessa história para o cinema.
Tata Amaral: É baseado no livro Prova Contrária do Fernando Bonassi. Quando eu li este livro, quis fazer o filme por causa de um capítulo principalmente. É o capítulo onde ela fala que sentiu tanta falta do parceiro que pensou em se matar e relata como seria isso. Eu perdi meu primeiro marido, então essa coisa da ausência é uma dor que eu conheço. Aí pensei: é muito mais forte que isso. Essa cena então é minha, apesar de não ser roteirista.
Carta Maior: Qual a importância de tratar do tema da memória e da verdade, e mesmo da justiça parcialmente inclusa no filme?
Tata Amaral: Importância total, porque a verdade é revolucionária. Eu acho que pra qualquer pessoa andar pra frente, ela precisa iluminar seus traumas. Fiz isso também pra conversar comigo mesma também.
Do ponto de vista de um país como o nosso, a verdade sobre o período da ditadura militar é importante sobre todos os níveis. Os familiares de pessoas desaparecidas na ditadura viveram num limbo durante décadas, onde nunca souberam o que realmente aconteceu com seus parentes e pessoas queridas, ficaram procurando por muito tempo, mas também num limbo pragmático. Uma mulher não podia se casar de novo porque não é viúva oficialmente, uma mãe não podia viajar com um filho sem autorização do pai ou certidão de óbito. Então, mesmo do ponto de vista prático, ficaram num limbo, do ponto de vista oficial também e do ponto de vista emocional nem se fale.
A verdade é importante para essas pessoas. A verdade é importante porque muita gente não fala desses horrores. O José Genoino uma vez disse: “o pior foi quem saiu da tortura e se exilou, pois levaram sozinhas os traumas”. Quem ficou na cadeia como ele, ficou falando sobre isso. E, ao longo dos anos, foram elaborando para si como encarar.
Do ponto de vista da sociedade, a verdade é importante porque se você não trata a tortura, ela continua atuando. É o que a gente vê hoje. O fato de nunca termos identificado nem punido os torturadores, faz com que até hoje nossa sociedade esteja conivente com a tortura. Vemos isso hoje.
Carta Maior: Acha que há uma tendência de aumento de filmes que tratam do tema da memória, verdade e justiça?
Tata Amaral: Não sei se há aumento. São poucos os filmes que falam disso. Das palavras do Jean Claude, um dos roteiristas, nós brasileiros tendemos a esconder os nosso problemas para debaixo do tapete. E prefere não ver esses problemas. Você não quer ver que tem tortura, mas você está vendo que tem. Na cadeia de Santa Catarina, nas execuções a poucos quilômetros da sua casa. Então não tem como não ver. O que diferencia o Hoje de outros filmes é que ele fala de hoje. Não é um flash back que conta uma história que está no passado. Ele trata de como as pessoas estão hoje.
Fonte: Carta Maior