Tunísia mergulha em incertezas com assassinato de Beladi

O primeiro ministro tunisiano Hamad Jebali, líder do partido religioso Ennahda, deixou o seu Gabinete nesta quarta-feira (06), e convocou novas eleições, mantendo-se como líder do governo provisório. Entretanto, o Ennahda afirmou, nesta quinta-feira (07),que o anúncio de Jebali de dissolução do Gabinete e de um novo governo tecnocrático não é vinculante.  

Protestantes tunisianos contra assassinato do líder da oposição - CNN

O membro do escritório executivo do Ennahda, Abdel Hamid Jilassi, disse que o partido se reuniu nesta quinta-feira (07) para discutir se aceitaria a dissolução. Jebali fez seu anúncio logo depois que confrontos violentos tiveram lugar na frente do Ministério do Interior da Tunísia, em que a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os protestantes, revoltados com o assassinato de Shokori Belaid, na quarta-feira (06).

A família do líder da oposição morto disse à mídia local que seu funeral seria realizado nesta sexta-feira (08), de acordo com a agência de notícias estatal TAP. Belaid vinha recebendo ameaças frequentes por suas críticas abertas ao governo tunisiano, liderado por islamitas moderados. Ele falou dos ataques às suas aparições frequentes na televisão mas disse que não temia por sua vida.

O político tinha criticado o governo dizendo que este não fazia o suficiente para pressionar os salafistas [menos moderados]. Ninguém assumiu responsabilidade pelo ataque, mas há indícios de que um grupo radical salafista esteja por trás da ação. Jebali pediu ao povo tunisiano que não tomasse conclusões precipitadas, mas que esperasse pelos resultados das investigações conduzidas pelas autoridades judiciais, segundo a TAP.

“Belaid foi morto, mas o alvo real do assassinato é a revolução tunisiana em geral”, Jebali disse; “ele representava os valores reais do diálogo, respeitando e acolhendo outros ao rejeitar a violência. Isso foi um assassinato político”, continuou. O irmão de Belaid, Abdelmajid Belaid, culpou o partido de Jebali, o Ennahda, pelo ocorrido, e protestantes revoltados invadiram os escritórios do partido na quarta-feira (06).

O apoio a Belaid ia além de seu próprio partido, o secular de esquerda Patriotas Democráticos. Ele era a voz de uma grande coalizão de partidos seculares de oposição como a Frente Popular, e tinha a reputação de rejeitar a violência.

O ministro do Interior Ali al-Areed prometeu perseguir os assassinos e se juntou ao coro de indignação moral, chamando o assassinato de Belaid de “um ataque contra todos os tunisianos.” Ao mesmo tempo, pediu aos protestantes que permanecessem pacíficos. “Não queremos que o país caia num caos”, ele disse, na televisão estatal da Tunísia.

A ministra dos Assuntos da Mulher Sihem Badi disse à CNN que é importante que os tunisianos permaneçam unidos neste momento difícil. A pessoas estão preocupadas com a possibilidade de a revolta levar à volta da situação anterior à revolução da Primavera Árabe, afirmou.

Para impedir que isso aconteça, é crucial que a Tunísia continue comprometida com o processo iniciado há dois anos, disse Sihem, com os partidos políticos do país, com a mídia e com a sociedade civil unindo-se para proteger as liberdades e progressos democráticos conquistados pelo povo.

“Precisamos proteger nossa revolução”, ela disse. “Precisamos de tempo, precisamos de paciência, precisamos de acordos entre as muitas partes, não podemos trabalhar sozinhos.” Badi disse ainda que os protestos violentos ocorridos na quarta-feira (06) são uma resposta natural à morte chocante de Belaid. Mas, ela disse, tais confrontos não são comuns na Tunísia e não se espera que eles continuem.

“Temos um período muito difícil agora, mas é importante preparar boas condições para as futuras eleições”, afirmou Sihem.

Belaid foi morto por tiros disparados por um atirador desconhecido, na porta de sua casa, que fica num subúrbio tranquilo de Túnis, quando saía para trabalhar na quarta-feira de manhã, de acordo com uma testemunha. O ataque foi “uma mensagem clara aos tunisianos para que se calem ou serão mortos”, Abdelmajid Belaid afirmou.

Fonte: CNN
Tradução da Redação do Vermelho