México: Narcotráfico pede cabeça de tuitero por R$ 96 mil
“600 mil pesos. Para que sejam revelados dados exatos do dono da página Valor por Tamaulipas”. A mensagem dos folhetos que estão sendo distribuídos nos últimos dias em várias cidades do estado de Tamaulipas, no noroeste do México, é clara: uma recompensa de quase R$ 95 mil para quem possa identificar o administrador de uma conta de Twitter e outra no Facebook.
Publicado 15/02/2013 17:21
Para muitos cidadãos do estado, seguir as publicações de @ValorTamaulipas é a única maneira de saber onde está ocorrendo um tiroteio, em que região está tendo assaltos, ou onde desapareceu alguém. Trata-se de uma rede de denúncia de situações de risco. Uma maneira de os cidadãos preencherem o vazio de informação das autoridades e que muitos meios de comunicação se auto-impõem. E agora, tornou-se um elemento incômodo para o crime organizado.
“O que mais temo é pela minha família, que não tem culpa por eu ter tomado a decisão de publicar de maneira aberta dados sensíveis que afetam os cartéis e o governo no meu estado”, reconheceu, na semana passada, o responsável das contas, via e-mail. Na ocasião, já falava em ameaça de morte, mas os folhetos ainda não haviam sido espalhados.
Recentemente, ele anunciou que sua esposa e seus filhos tiveram que cruzar a fronteira dos Estados Unidos por medo das consequências. Explicou em um comunicado no qual assegura que fará um último esforço para manter a página, apesar de ter que tomar precauções.
O ativista cibernético tem 20 mil seguidores no Twitter e 145 mil no Facebook. Foi por meio de seus seguidores que tomou conhecimento dos folhetos com as ameaças. “A noite e pela manhã nos vimos imersos em uma espiral de violência que simplesmente é inimaginável”, explicou @ValorTamaulipas, que falou da desconfiança dos cidadãos nas instituições. “O governo traiu a cidadania, por medo e por conveniência tem aceitado obedecer o crime organizado”.
Os mexicanos encontraram no anonimato da internet o melhor aliado para falar sobre o que têm que guardar silêncio nas ruas. O Twitter se converteu no refúgio para o jornalismo cidadão no México, como explica um recente estudo da Microsoft. Durante um ano e meio, os pesquisadores monitoraram diferentes contas e hastag (temas mais comentados do microblog) com que os cidadãos — considerados os novos “correspondentes de guerra” — compartilhavam informações sobre situações de risco.
Em um dos países mais perigosos para o exercício do jornalismo — durante o governo de Felipe Calderón foram assassinados 127 profissionais — os jornalistas cidadãos não estão isentos de riscos. Em 2011, o narcotráfico cumpriu suas ameaças e assassinou “a garota de Nuevo Laredo”, uma jornalista que sob este pseudônimo alertava, em seu blog e nas redes sociais, o que acontecia em sua cidade.
“Me comoveu ver que tudo o que conhecia, os propósitos de futuro, minhas metas, os planos da minha família, amigos e conhecidos foram desmoronando conforme o crime organizado saía das escondidas para tomar conta abertamente da vida de todos”, explicou @ValorTamaulipas dias atrás. Sempre por e-mail, resguardando qualquer informação acerca de sua identidade.
Da Redação do Vermelho,
com El País