Assad Frangieh: Exército do Líbano calou o tambor da guerra

Há dois anos, surgiu em Sidon, ao sul do Líbano, um xeique sunita chamado Ahmad Al Assir. Com apoio da mídia, pequenas manifestações de correligionários em praças locais e em Beirute, tornou-se um superstar do movimento salafista pró Qaeda. Apoiava abertamente as diversas facções que radicalizavam, como Joubhet Al Nousra, Jund Al-Sham, Fatah Al-Islam entre outras.

Por Assad Frangieh*

Xeique salafista Ahmad Al Assir - AFP/STR

A mídia o destacava na TV já que seus discursos cheios de slogans anti-sírios e anti-Hezbolá representavam conteúdo cheio nos jornais nacionais, principalmente nas agências de notícias a serviço da guerra contra a Síria, entre as quais a Future de Hariri, Al-Jazeera de Hamad e a Alarabiya de Bandar & Cia.

Um discurso perigoso e provocativo que pregava a luta sectária na Síria e no Líbano. Quando percebeu que seu discurso não retornava mais tensão, começou apelar por manifestações de seguidores armados. Tentou isolar as entradas principais de sua cidade, montou acampamento exigindo que o Hezbolá entregasse suas armas.


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A situação era contornada pelo Ministro do Interior do Líbano e pela intervenção da turma do “deixa pra lá”. A deputada Bahia Al Hariri, irmã de Rafic Al Hariri e Fouad Al Seniora, ex-primeiro-ministro e escudo fiel do eixo saudita dos Hariris, dava a cobertura política necessária engessando às ações do Judiciário e do Exército para controlar os abusos do salafista pop.

Poucos meses atrás, Al-Assir começou viajar ao Catar. Retornava com discursos mais explosivos e um tom de ameaças mais alto. Seu grande assistente é um famoso cantor Fadl Shaker que largou a vida de "star" da música para descobrir “Deus e o caminho do Jihad”. Determinou algumas quadras perto de Sidon como uma região militarizada ao redor de sua Mesquita.

Alguns dias atrás declarou que algo grave acontecerá. De fato, aconteceu. Seus seguidores abriram fogo contra uma barreira do Exército Libanês matando 2 oficiais e ferindo 10 soldados. Ao mesmo tempo, declarou sua Revolução. Chamou pelo Jihad, convocou seus guerreiros para lutar contra o Exército do Líbano e cobrou a participação dos palestinos na sua luta pela libertação do Líbano, do Hezbolá e seus aliados.

Em resumo, em menos de 24 horas, o Exército Libanês invadiu a “zona militarizada de A'Abra”, liquidou 40 militantes, prendeu mais 280 seguidores dos quais haviam dois terços sem nacionalidade libanesa, confiscou armas pesadas e teve a perda de 16 soldados e 40 feridos. Nenhuma facção palestina se envolveu. Nenhum grupo de Trípoli ousou deslocar seus militantes para Sidon enquanto isso, tanto o Assir como seu escudeiro cantor fugiram e continuam desaparecidos até agora.

O que aconteceu, foi um fogo de palha salafista extremamente perigoso, bloqueado pela vontade nacional libanesa. A cidade de Sidon sempre foi uma cidade símbolo da resistência às invasões de Israel. Uma cidade de sunitas, xiitas, cristãos e comunistas. Um abrigo aos palestinos e um portal ao Sul do Líbano.

A ascensão de um salafista do ódio foi possível graças ao dinheiro do Catar e a conivência de apostadores e conspiradores locais. Sua queda é uma lição que o novo Oriente Médio será escrito pela Resistência em todas as partes e por um eixo que começa no Sul do Líbano, passa por Damasco e Bagdá, terminava em Teerã e agora se estendeu à Moscou.

*Assad Frangieh escreve para o portal do Oriente Mídia