Chanceler de El Salvador diz que país quer aproximação com Brasil
Em entrevista à jornalista Flávia Marreiro do jornal Folha de S. Paulo, o chanceler de El Salvador, Jaime Miranda, ressaltou a importância que o Brasil desempenha no processo de transformação de seu país e a contribuição que tanto Lula quanto Dilma deram ao governo do presidente Mauricio Funes. “Tivemos, durante anos, relação apenas com o Norte. Hoje queremos nos voltar ao Sul”.
Publicado 06/11/2013 16:09

Em fevereiro, El Salvador elegerá seu novo presidente. Os principais candidatos são Salvador Sánchez Cerén, atual vice-presidente e líder histórico da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) e Norman Quijano, da conservadora Aliança Republicana Nacionalista de (Arena). Dada a popularidade de Funes e da FMLN, é grande a possibilidade de a frente se manter no poder. Veja a íntegra da entrevista da Folha:
Folha de S. Paulo: Por causa da primeira-dama brasileira [Vanda Pignato, brasileira e ligada ao PT] e do PT, podemos dizer que El Salvador é um governo petista na América Central?
Jaime Miranda: (Risos) Muitas das coisas que fizemos lá tomamos o Brasil como modelo, nos programas contra a pobreza, de agricultura. Assinamos 15 convênios de cooperação técnica, do tipo Sul-Sul. Nesse contexto, digo que isso partiu, obviamente, da nacionalidade da primeira-dama Vanda Pignato, de sua relação com o PT e sua relação com o presidente Lula e da amizade que o presidente Funes construiu com Lula e que continua com Dilma. A verdade é que nos permitiu fomentar essa relação importante para El Salvador.
Podemos fazer uma brincadeira, nada mais que isso, e falar da "petização", mas também da "Funezação" do Brasil. A relação é mútua. Por exemplo, temos o programa "Ciudad Mujer", que é uma concentração de políticas públicas para atacar a desigualdade de gênero, desenvolvido pela primeira-dama. A presidente Dilma propôs que o modelo seja usado no Brasil [aqui se chamará Casa da Mulher]. Tivemos, durante anos, relação apenas com o Norte. Hoje queremos nos voltar ao Sul.
Seu país acaba de comprar caças A37 do Chile. Analistas viram resposta à suposta pressão do Exército sobre Funes e outros dizem que a compra é um recado a Honduras por causa de uma rusga bilateral. O que o sr. diz?
Simplesmente estamos aproveitando uma oferta do Chile, de aviões já usados, que são adequados para nós. Não creio que a compra esteja relacionada a pressões das Forças Armadas.
O Tratado de Segurança da América Central propõe o equilíbrio na região. No caso de El Salvador, havia um desequilíbrio porque nosso Exército, depois da guerra [civil, encerrada em 1992], não foi equipado. Tampouco tem a ver com conflitos regionais. É a coisa mais normal do mundo, inclusive para combater problemas comuns, como o crime organizado.
Como o governo encarou o Exército homenagear no mês passado militares envolvidos no massacre de El Mozote, que matou 800 em 1981?
O presidente Funes pediu perdão à nação pelo massacre de El Mozote, pela morte do monsenhor Romero [arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980], etc. Ele falou de modificar a história das Forças Armadas. É um processo, que não deve ser visto só pelo ângulo de uma contradição atual, mas como um processo que vai avançando.
Se comparamos o momento atual com cinco anos atrás, nada disso seria possível. Não é em um tempinho que se resolve. Os processos mentais de reconstrução levam muitos anos.
O Uruguai está nos preparativos para legalizar a maconha. Qual a sua opinião?
Neste momento, não é algo adequado. Se [um país] não está preparado, melhor não. Seguiremos discutindo.
Da Redação,
com informações da Folha de S. Paulo