2014, outro ano difícil para as crianças
Mortes por causas preveníveis, violência, pobreza, fome e exploração trabalhista foram alguns dos flagelos que em 2014 continuaram açoitando às crianças no planeta, apesar da consolidação de importantes avanços na proteção de seus direitos.
Publicado 19/12/2014 16:19

Conflitos como os do Iraque, Ucrânia, Síria, Sudão do Sul e República Centro-Africana, auge do extremismo em regiões da Ásia e África, epidemias e as crescentes desigualdades no desenvolvimento e o acesso aos recursos constituíram um complexo cenário para os menores de 18 anos.
A mudança climática, as multimilionárias despesas militares, a falta de investimentos em saúde e educação, e o emprego com fins negativos dos avanços nas tecnologias da Informação e Comunicação, também afetaram os pequenos em diversas latitudes.
Há 25 anos de adotada a Convenção sobre os Direitos da Criança na Assembleia Geral da ONU, muito fica por fazer para materializar o apresentado no preâmbulo e os 54 artigos do instrumento internacional mais ratificado da história, com 194 países.
Devemos celebrar o quarto de século da Convenção, mas acima de tudo devemos assumir o compromisso de impulsionar os direitos da cada criança, sobretudo dos que têm ficado para trás e os que mais precisam, afirmou em 20 de novembro o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a propósito da data.
Nesse sentido, reivindicou soluções inovadoras para os problemas que golpeiam os homens e mulheres do futuro, destinar maiores recursos a seu bem-estar e progresso, e principalmente, vontade para colocar no centro das agendas políticas, econômicas e sociais.
Estatísticas
Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) refletem a morte diária de 17 mil crianças no planeta, a maioria em países do Sul e por causas preveníveis, enquanto a cada 10 minutos uma menina ou adolescente morre em algum lugar pela violência.
Causa dor cerca de três milhões de menores de cinco anos que perdem a vida pela desnutrição anualmente, e os 230 milhões (um a cada três no mundo) não registrados ao nascer, o que os converte em seres humanos sem oportunidades, ao não contar em documentos oficiais.
Em relação à pobreza, pelo menos 400 milhões de seres humanos mergulhados nela têm menos de 12 anos.
Por sua vez, estatísticas da Organização Internacional do Trabalho mostram 168 milhões de crianças submetidas à exploração trabalhista, uma cifra bem inferior a existente em 2000 (246 milhões), mas muito preocupante.
Segundo a instituição especializada da ONU, a metade desses pequenos realizam trabalhos perigosos, e Ásia, Pacífico e África Subsaariana seguem como as áreas geográficas mais afetadas pelo fenômeno.
A escravidão sexual, o tráfico de órgãos, a abandono escolar e outros males estão longe de ser um problema do passado.
De acordo com a representante especial do Secretariado Geral para a Violência contra as Crianças, Marta Santos, outra ameaça para os menores está dada por cada vez mais precocemente as crianças acessarem a Internet e as redes sociais.
“São vítimas dos predadores sexuais, o assédio, a intimidação e os conteúdos pornográficos e violentos, que convertem a rede em um meio inseguro para eles”, alertou em meados de outubro durante um debate da Terceira Comissão da Assembleia Geral.
Santos lamentou que para milhões de crianças, a Convenção adotada em 20 de novembro de 1989 seja uma promessa quebrada, em boa medida por dificuldades sociais e cortes nas despesas governamentais.
A agressão israelense à Faixa de Gaza, a entrada da Síria no quarto ano de conflito, a ofensiva dos fundamentalistas do Estado Islâmico no Iraque, os ataques do Boko Haram contra os estudantes na Nigéria, a crise no Sudão do Sul, os bombardeios na Ucrânia contra os federalistas de Donbass e os conflitos interétnicos na República Centro-Africana constituem um panorama devastador no qual os pequenos levam a pior.
Em Gaza, as bombas e as incursões terrestres sionistas deixaram 516 crianças mortas e milhares de feridas, algumas delas com danos permanentes.
Muitos ficaram órfãos, perderam seus lares ou viram atingidas suas escolas após os 50 dias de agressão, em julho e agosto.
Em outros conflitos, os assassinatos e os deslocamentos forçados também golpearam dezenas de milhares de crianças, que também sofreram o recrutamento forçado como meninos soldados.
“Os menores representam as primeiras vítimas das crises, durante as quais são presos, maltratados e obrigados a combater, sem esquecer que perdem suas escolas”, condenou a enviada especial do Secretariado Geral para as Crianças e os Conflitos Armados, Leila Zerrougui.
Particular repúdio geraram em 2014 os reiterados ataques da milícia fundamentalista islâmica Boko Haram contra centros docentes no norte nigeriano, onde massacrou estudantes e sequestrou no estado de Borno 200 alunas, cujo paradeiro se desconhece desde abril.
Bloqueio contra Cuba
Na própria Terceira Comissão, órgão encarregado dos assuntos sociais e humanitários, Cuba denunciou o impacto na infância do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos à ilha.
As crianças estão entre as vítimas inocentes do cerco imposto por mais de meio século, uma medida unilateral com danos humanos impossíveis de calcular, precisou o diplomata Jairo Rodríguez.
De acordo com o funcionário da chancelaria, a saúde é um dos setores golpeados com severidade pelo bloqueio.
“Vários medicamentos antivirais para menores de idade não estão disponíveis, porque as companhias norte-americanas que os produzem não respondem às solicitações de nossas empresas ou alegam que não podem comercializar com elas”, sublinhou.
Rodríguez afirmou que a pior forma de violência contra as crianças é lhes negar o direito à vida. Além disso, recordou que apesar do bloqueio, o país caribenho mostra notáveis resultados na atenção à infância.
"Hoje em Cuba, a fome, o analfabetismo, a insalubridade e a discriminação dos meninos e das meninas, são apenas uma má recordação nas páginas de nossa história", afirmou.
Nesse sentido, destacou que antes de 1959 a taxa de mortalidade infantil era de 60 por cada mil nascidos vivos, reduzida na atualidade a 4,2, à altura de nações desenvolvidas, enquanto a totalidade dos pequenos são vacinados ao nascer contra 13 doenças transmissíveis.
Altos funcionários das Nações Unidas chamaram no ano que encerra a priorizar os direitos das crianças na agenda pós-2015 de desenvolvimento sustentável, que dará continuidade aos Objetivos do Milênio.
As metas fixadas em Nova York, durante a Cimeira do Milênio realizada em 2000, têm melhorado o panorama em vários aspectos.
Destacam-se a redução na mortalidade infantil, o aumento da incorporação às escolas e as 13 milhões de vidas salvas entre 2002 e 2012 pelas vacinas.
A partir de tais avanços, a ONU espera que a agenda pós-2015 ajude a consolidar os objetivos e sirva de plataforma para erradicar a pobreza e atenuar outros fenômenos que afetam os pequenos no planeta.
Fonte: Prensa Latina