EUA começa a perceber a inviabilidade das sanções

Moscou espera que Washington compreenda a inviabilidade de pressões através de sanções não apenas sobre Cuba, mas também sobre outros países. Segundo afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia (MRE), as decisões e os passos concretos, anunciados nos EUA e em Cuba e que se destinam a normalizar o diálogo bilateral, correspondem aos interesses da segurança internacional no seu todo.

Por Tatiana Tabunova, na Voz da Rússia

Sanções - Colagem: Voz da Rússia/Burov Vladimir

Washington precisou de meio ano para reconhecer a inviabilidade das sanções políticas e econômicas contra Havana. As relações diplomáticas entre os EUA e Cuba foram rompidas em 1961. No final de 2014, o presidente Barack Obama reconheceu: “O isolamento não funciona.”

Nem o embargo comercial, nem o encerramento de fronteiras conseguiram quebrar o comunismo na ilha da Liberdade. Chegou a altura de reconhecer a derrota e começar a construir novas relações, considera o diretor do centro de pesquisas políticas do Instituto da América Latina Zbignev Ivanovsky.
“Eu penso que os EUA se decidiram a dar esse passo porque perceberam que as relações cortadas não têm futuro. Eles vêm que a situação internacional se modificou realmente, inclusive na América Latina. Se se pode manter relações corretas com a China e o Vietnã, por exemplo, porque é que não se pode manter com Cuba?”

O anúncio do restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países foi precedido por uma conversa telefônica de 45 minutos entre o presidente dos EUA Barack Obama e o líder cubano Raúl Castro. O resultado foi a libertação de ambos os lados dos condenados por espionagem a favor do outro país. Agora em Havana irá surgir uma embaixada dos EUA e Washington receberá diplomatas cubanos. A proibição de visitas turísticas de norte-americanos a Cuba continua em vigor. Mas os jornalistas, empresários, cientistas, agentes culturais e esportistas serão autorizados a viajar para Cuba. Eles até poderão trazer consigo para os EUA rum e os famosos charutos cubanos, cuja introdução no país estava rigorosamente proibida.

É significativo o fato de Barack Obama já ter dado instruções para que seja revisto o estatuto de Cuba como país patrocinador do terrorismo mundial. O próximo passo deverá ser a abolição das sanções econômicas. Pelo menos Raúl Castro conta com isso. Mas os EUA não se apressam a levantar o embargo, apesar de não o negarem por palavras, refere o membro-correspondente da Academia das Ciências da Rússia Vilen Ivanov.

“Isto é uma jogada diplomática por parte dos EUA, para camuflar um pouco perante a opinião pública a sua posição agressiva relativa a uma série de problemas da vida internacional. Isso está relacionado com o Oriente Médio e com a posição relativa à Ucrânia e à Rússia. Mas, ao fazer essa jogada, eles ressalvam que não desistem de suas exigências quanto ao respeito pelos direitos humanos em Cuba e se reservam o direito de apresentar novas exigências a Cuba.”

A Rússia, que durante tantos anos defendeu a abolição pelos EUA das sanções anti-cubanas, reagiu com aprovação ao abandono público por parte de Washington dos preconceitos ideológicos e saudou a decisão de restabelecimento das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba. Na opinião do MRE da Rússia, essas ações já deviam ter sido realizadas há muito tempo. Elas correspondem tanto aos interesses de ambos os países, como aos interesses da segurança internacional em geral. Resta esperar que a ineficácia da aplicação de sanções a outros países leve menos tempo a ser percebida por Washington.