Instituições pedem a Dilma manutenção da lista do trabalho escravo
Organizações envolvidas no combate ao trabalho escravo no Brasil, o Instituto Ethos, o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (InPacto) e o Instituto Observatório Social (IOS) encaminharam, esta semana, uma carta à presidente da República, Dilma Rousseff, pedindo a manutenção dos instrumentos legais e administrativos de combate a esse problema no país.
Publicado 23/01/2015 11:11

As organizações manifestam preocupação com a suspensão – pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – da divulgação da Lista Suja do Trabalho Escravo e destacam as suas implicações para a economia e os direitos humanos no Brasil.
“Recebemos com surpresa e perplexidade a notícia de que a atualização e a divulgação da Lista Suja foram suspensas no dia 29 de dezembro de 2014, por liminar concedida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski”, diz a carta, assinada por Jorge Abrahão, do Instituto Ethos; Caio Magri, do InPacto e Roni Barbosa, do IOS.
A atualização da lista pelo MTE estava prevista para dezembro e foi impedida, no apagar das luzes de 2014, a pedido da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), da qual fazem parte 26 empresas construtoras do país. A lista com as informações anteriores à liminar também foi retirada do site do MTE na internet. Na ocasião da suspensão da lista, 575 empregadores faziam parte da relação de envolvidos com trabalho escravo.
Na carta, as organização destacam que “a suspensão da Lista Suja representa um grave retrocesso no que diz respeito à defesa dos direitos humanos e às inúmeras iniciativas focadas na adoção de atividades empresariais pautadas pelos princípios da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável.”
E diz ainda que “representa também graves riscos para a economia do país, por conta de tratados, convenções, pactos e contratos assinados tanto pelo Estado quanto por empresas privadas, nos quais há o compromisso de enfrentamento dessa danosa e inaceitável prática.”
“Cientes de que a Exma. Sra. Presidenta é uma incansável defensora dos Direitos Humanos, inclusive como signatária da Carta Compromisso contra o Trabalho Escravo, firmada por V. Exa. em 7 de setembro de 2014, Dia da Independência, vimos por meio desta reivindicar seu apoio público à revogação da liminar que suspende a Lista Suja do Trabalho Escravo”, reivindicam.
Para os representantes das organizações que lutam contra o trabalho escravo, “a manutenção da suspensão desse cadastro representa um retrocesso na luta pelos direitos humanos e compromete o comércio justo e o livre mercado pautado pelas boas práticas empresariais, além de inviabilizar uma série de iniciativas realizadas pelas empresas signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.”
Referência mundial
O Brasil é referência mundial no enfrentamento do trabalho escravo. De 1995 a 2013, mais de 46 mil trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão. Nesse período, foram realizadas 1.572 operações, com visitas a 3.741 estabelecimentos, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Uma importante vitória aconteceu em 2014, com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição conhecida como PEC do Trabalho Escravo, que destina à reforma agrária e a construção de habitações populares as empresas flagradas com trabalho escravo no campo e na cidade. Aprovada após 15 anos de mobilizações, esta PEC deu um novo ânimo à luta contra o trabalho escravo no país.
Outro instrumento fundamental é a Lista Suja do Trabalho Escravo, mecanismo criado pelo governo federal em 2003, com o objetivo de dar transparência às ações do poder público no combate ao trabalho escravo. A lista mostra os empregadores flagrados com mão de obra escrava, os quais tiveram oportunidade de se defender em primeira e segunda instâncias administrativas antes de terem seus nomes ali incluídos.
A Lista Suja é internacionalmente reconhecida como uma das ferramentas mais fortes do Brasil no combate ao trabalho escravo e foi recentemente premiada pela Controladoria-Geral da União no Concurso de Boas Práticas, na categoria Transparência Ativa e/ou Passiva.
O último relatório global sobre escravidão da Fundação Walk Free, divulgado em novembro, aponta a Lista Suja e o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo como diferenciais no combate à exploração e violação dos direitos humanos no país. O cadastro é também reconhecido e citado por órgãos das Nações Unidas.
Da Redação em Brasília
Com informações do Instituo Ethos