Helmilton: O momento é desafiador para o movimento sindical
Em entrevista à CTB-Pernambuco, o vice-presidente da entidade e presidente do Sindicato dos Professores (Sinpro-PE), Helmilton Beserra, faz importantes reflexões sobre o cenário político do país e do estado, bem como sobre a responsabilidade dos movimentos sociais e da classe trabalhadora frente ao atual contexto social e econômico do Brasil.
Publicado 26/04/2016 16:40 | Editado 04/03/2020 16:55

Leia a íntegra.
CTB – Pernambuco – A participação ativa nas lutas sociais e sindicais sempre marcou a sua história enquanto militante de esquerda e liderança política. Fale um pouco da sua trajetória, como você iniciou sua atuação frente aos movimentos sociais e como você percebe o atual contexto das lutas sociais e políticas no país.
Helmilton – O início de nossa militância é no final da década de 1970, com o retorno dos anistiados, que fortalecia a luta pela redemocratização do Brasil. O MDB se fortalecia e na eleição de 1982 apoiamos a candidatura dos comunistas, Hugo Martins para o mandato de deputado estadual e Gregório Bezerra para deputado federal. A organização dos movimentos sociais se dá nesse período nos movimentos de luta nas comunidades no município de Igarassu. Mais adiante, mediante a legalização do Partido Comunista, me filio às fileiras da luta partidária e passei também a militar no movimento estudantil na Unicap e na UFPE.
Adiante, participei das discussões e das mobilizações no movimento sindical, principalmente a partir de 1992, quando ingressei como professor da rede pública de ensino de Pernambuco, sendo base de apoio do Sintepe, militando ativamente nas atividades do sindicato, participando das assembleias, conferências e congressos. Em 2011 fui eleito para a diretoria do Sinpro Pernambuco como secretário de Formação Sindical e, posteriormente, me tornei presidente da entidade, cargo que venho ocupando no momento, ao mesmo tempo em que cumpro o mandato de vereador.
E frente a esse breve histórico de participação e militância nas lutas políticas e populares, posso dizer que minha atuação é resultado da orientação do PCdoB, partido que tenho orgulho de dizer que sou filiado e que admiro pela sua história e pela defesa de um projeto de nação que vê no desenvolvimento um caminho estratégico para acumulação de forças, transformação social e avançarmos na transição para um país socialista.
CTB-PE – Atualmente você exerce o cargo de vereador no município de Igarassu (PE) e também é presidente do Sindicato dos Professores no Estado de Pernambuco (Sinpro Pernambuco), como você avalia essa relação entre a atuação institucional (legislativo municipal) e a luta sindical?
Helmilton – A situação política do país é muito delicada, os trabalhadores estão sofrendo cotidianamente com as contradições e os males desse ambiente de crise econômica. O desemprego vem aumentando em vários países, os ataques aos direitos trabalhistas, os cortes orçamentários em programas sociais, o aumento da taxa de juros, baixos percentuais de reajustes salariais e o aumento do custo de vida são alguns dos principais problemas que os trabalhadores vêm enfrentando. Infelizmente, essa crise chegou ao Brasil e afetou também o ambiente político do país. As pautas de interesse dos trabalhadores têm sido colocadas em segundo plano e em nome da necessidade de ajustar a economia, os setores patronais, a partir de seus representantes institucionais, jogam todos os custos e ônus dessa crise nas costas da classe trabalhadora.
E isso acarreta um momento desafiador para o movimento sindical, pois surge a real necessidade de ampliar sua atuação perante as categorias, a fim de organizar e mobilizar o povo em torno das bandeiras que atendam aos interesses dos trabalhadores. Uma tarefa difícil e complexa, ainda mais se levarmos em conta essa atual quadra de apatia política e denuncismo sobre a vida pública. E tudo isso atende, principalmente, aos interesses dos poderosos que, por outro lado, ampliam suas forças e influência nos espaços de decisões políticas, em detrimento dos trabalhadores. Porém, o jogo não terminou e cabe ao movimento sindical ampliar sua área de atuação e disputar essa luta pelo agendamento da política.
E isso se dá, principalmente, no momento em que os trabalhadores se organizam para ocupar os espaços institucionais, elegendo, sobretudo seus representantes. E essa relação é salutar ao movimento sindical e à luta da classe trabalhadora, pois precisamos eleger mais pessoas compromissadas com os interesses da maioria, pessoas que contribuam para melhorar a vida do povo, para combater as desigualdades e transformar nossas bandeiras em políticas públicas. Diante dessa quadra, é fundamental que o sindicalismo se faça cada vez mais presente nos debates eleitorais e se aproprie dos espaços institucionais com mais força. Esse é um dos desafios que se apresenta e deve ser encarado pelos sindicatos à luz de muita política e seriedade.
CTB-PE – 2016 será um ano muito relevante politicamente para o país, uma vez que teremos novas eleições municipais. Como você percebe a importância dessas eleições e qual o papel da classe trabalhadora e movimentos sociais dentro desse contexto eleitoral?
Helmilton – O ano de 2016 será um ano de grande importância para o Brasil, sobretudo, do ponto de vista eleitoral. O país está em um momento muito delicado, estamos diante de uma encruzilhada histórica, onde nosso futuro está em disputa. De um lado, temos o caminho que aponta para a possibilidade de avançarmos a partir de uma transição social e de um acúmulo de forças, na perspectiva de realizarmos reformas estruturantes e darmos um salto significativo para o desenvolvimento social e econômico do país. Do outro, temos um caminho que resgata um conjunto de políticas oriundas da cartilha neoliberal que outrora era implantada no país, enquanto diretriz das políticas públicas. E esses dois projetos estão em disputa permanente, seus interesses são indissociáveis. Percebemos isso nas últimas eleições presidenciais e este ano, vamos presenciar novamente essa disputa nas eleições que se avizinham.
Nesse contexto, cabem aos movimentos sociais, às forças progressistas e aos demais atores e lideranças de esquerda unir forças e fortalecer nossa frente popular com muita unidade para, assim, avançarmos nas mudanças sociais. E diante disso, as eleições serão um espaço estratégico para elegermos pessoas alinhadas aos interesses populares. As eleições municipais deste ano será um episódio muito importante para o cenário da luta de classe no país, pois mais uma vez vamos às ruas reafirmar a democracia e disputar as mentes e corações das pessoas, apresentando nossas bandeiras e nos colocando como alternativa para a representação política e assim ampliarmos a resistência aos setores conservadores e elitistas que insistem em explorar nossas riquezas e entregar nossos patrimônios aos interesses do grande capital econômico.
CTB-PE – É percebido que, como vereador, você é reconhecido pela sua grande atuação na Câmara dos Vereadores. Atualmente, como o seu partido enxerga os desafios eleitorais deste ano? O senhor não pensa em se candidatar a prefeito?
Helmilton – Nosso mandato é consequência dessa militância orgânica que exercemos, como também, da ação coletiva do partido que orienta e acompanha o mandato. Esses fatores contribuem para o êxito do mandato. Este ano, extremamente conturbado e de muita luta política, vai exigir das forças democráticas e progressistas muita unidade e ação política, pois as forças conservadoras, derrotadas nas últimas eleições querem tomar o poder a qualquer custo. Aí neste cenário golpista as eleições de prefeito e vereadores terão certa singularidade nesta conjuntura que não sabemos os seus desdobramentos.
Quanto a eleição majoritária para prefeito, digo que sou um soldado do meu partido, para desempenhar qualquer tarefa, embora que a tese, atualmente defendida pelo PCdoB em Igarassu é a de construção de uma frente ampla com os partidos de oposição, na intenção de resgatar o projeto político que foi interrompido após as ultimas eleições municipais, principalmente no que diz respeito às políticas públicas voltadas àqueles que mais precisam da ajuda e da presença do poder público.
CTB-PE – No que diz respeito ao atual cenário político nacional, sabemos que os tempos não tem sido fáceis para a economia e para os partidos políticos que compõem a base de apoio da presidenta Dilma. Como o senhor percebe este momento? Existem perspectivas para o país retornar ao desenvolvimento?
Helmilton – O momento que estamos vivenciando é bastante delicado e complexo. Do ponto de vista político, estamos inseridos em um contexto em que os setores de direita vêm ganhando espaço ao mesmo tempo em que a ofensiva contra a esquerda vem sendo maximizada à luz de discursos conservadores e em certos aspectos, fascistas. O ódio de classe tem sido expresso em vários espaços, há um clima de denuncismo e opressão às forças progressistas e de esquerda no país e em vários outros cantos no mundo. Essa situação torna-se mais complexa na medida em que sentimos os efeitos devastadores da crise econômica do sistema capitalista, fragilizando o governo da presidenta Dilma e fortalecendo o discurso da oposição.
Mas, em meio a todas essas turbulências não há dúvidas que o Brasil precisa retomar o seu crescimento e isso se estabelece a partir de um enfrentamento sistemático a todas essas adversidades e a construção de um conteúdo programático que dê uma linha política ao governo Dilma. Sem isso, a governança fica a mercê das circunstâncias cotidianas, torna-se fraco perante as pressões dos factoides e, principalmente, do sensacionalismo midiático. E, para isso, é fundamental ampliar o diálogo com a sua base aliada, com os movimentos sociais, com a intelectualidade e demais frentes na intenção de acumular força e garantir uma governabilidade em torno de suas diretrizes políticas.
Por fim, o retorno do desenvolvimento deve ser construído não apenas pelo viés econômico e sim pela via política, principalmente. O Brasil precisa voltar a ter coragem de investir nos setores estratégicos da economia, ajustar a atual política monetária e cambial e fortalecer os programas sociais que geram inclusão e renda para a população. Essas questões são frutos de decisões políticas, Cabe à presidenta mostrar a confiança necessária para que retomemos o crescimento e acumulemos forças para efetivar as reformas estruturantes no país. Não é um caminho fácil, mas nessa encruzilhada que nos encontramos torna-se necessário.
Fonte: Sinpro-Pernambuco