Temer tenta garantir apoio do mercado ao seu governo

A rixa de setores do PMDB e de aliados do governo interino com o protagonismo do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, põe em risco a própria governabilidade de Michel Temer. Enquanto o interino põe a mão no fogo pelas tomadas de Meirelles, emissários do Planalto consideram que o ministro não pode ser figura de destaque do governo.

Goldfajn, Temer e Meirelles

Em uma das recentes decisões, a Fazenda se recusou a conceder benefícios adicionais aos Estados Norte e Nordeste na proposta de renegociação da dívida. Isso porque o governo decidiu acelerar a autorização de empréstimos para regiões que não atingiram seus limitem de endividamento, e Norte e Nordeste criticam que a renegociação contempla só as regiões mais endividadas, como o Sul e Sudeste.

Diante das necessidades da agenda econômica para a sobrevivência de seu governo, o presidente interino Michel Temer garante ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que a sua palavra será a final. Mas, nos corredores da equipe econômica, o interino dá sinais de fazer jogo duplo, dando suporte para o ministro-chefe da Casa Civil e um de seus braços do governo, Eliseu Padilha, conter a escalada de Meirelles.

E, apesar de Padilha encontrar-se aparentemente isolado na defesa da liberação de gastos, a entrada do peemedebista para a equipe do governo teve como intuito conter a visão de que existe na gestão Temer um superministro e que este seria a Fazenda.

Na corrida pelo cenário instável da equipe econômica de Temer, o interino reuniu-se nesta quarta-feira (10) com banqueiros e grandes empresários para tentar uma reaproximação. Na tentativa de manter o apoio do setor privado, Michel Temer reafirmou compromisso na área fiscal, após o mercado criticar os aumentos concedidos a servidores públicos e os recuos do Congresso Nacional.

Os empresários cobram o preço do impeachment e pedem uma reação imediata de Temer nas áreas econômicas. Para os representantes de bancos, o interino deve investir em reformas amplas, sem erros: "o governo tem de perseguir o binômio senso de urgência e capacidade de entrega", cobrou um dos executivos presentes na reunião.

O mesmo grupo de executivos também se reuniu com a Fazenda, Henrique Meirelles, e com o novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Além do Bradesco, por Luiz Carlos Trabuco, também estiveram presentes Pedro Moreira Salles, do Itaú, Jorge Gerdau, entre outros.

Os empresários criticaram, ainda, a falta de confiança que o Brasil ainda apresenta frente a investimentos externos. Um deles teria afirmado que há cerca de "US$ 15 trilhões ancorados em juros negativos" no mundo e que a confiança é a "moeda mais barata".

Em discurso característico de condescendência do interino, Temer prometeu no encontro fazer "o máximo possível" em dois anos, e se autoavaliou como um balanço positivo em 90 dias de governo.