Publicado 03/03/2017 17:02

As várias versões de Sarah Manning são mais graciosas do que preocupantes. Ainda mais porque todas se encontram em uma espécie de confraria dos clones, o que proporciona “situações” como a confusão que provocam ao se passar umas pelas outras.
É interessante ver uma atriz se desdobrar em tantos papéis. Melhor ainda quando, dado o seu talento, esquecemos que é a mesma atriz.
O clima sessão da tarde, todavia, ofusca questões importantes que a série poderia elaborar melhor, como a construção de uma identidade, a reprodução humana em laboratório, a desconstrução da institucionalidade da família, a esterilidade feminina e, sobretudo, a ética entre os cientistas e laboratórios que estudam genética.
Não que tais questões não estejam presentes na história. Estão. Mas são diluídas em esquetes simples do dia a dia das meninas clone e em cenas de ação nas quais o bandido é a “organização do mal” Neolution, que ganha fortunas com as pobres coitadas.
Tomando como exemplo a história terrível de Frankenstein, Mary Shelley, e passando pelo icônico filme Blade Runner, a hipótese de se criar vida, em especial vida humana, através de recursos criados pela humanidade sempre exerceu grande fascínio. Na literatura e no cinema os efeitos das tentativas dos homens em serem Deus resultaram em solidão, tristeza e tragédia. Mas até onde isso não é, também, reflexo da moral da sociedade, que não admite nenhuma outra forma de organização que não com base no indivíduo e na família?
The Orphan Black acerta em tentar desenvolver uma história a partir deste instigante mote. Entretanto, o dilema entre ser complexa e inovadora e agradar ao público sai caro para a série. Ela precisa amadurecer um pouco mais para se sofisticar e chegar a despertar a inquietação acerca do sentido da vida.
The Orphan Black
Graeme Manson e John Fawcett
Canadá, 2013
4 temporadas
Com Tatiana Maslany, Dylan Bruce, Jordan Gavaris, Kevin Hanchard
Assista ao trailer: