Mateus Ferreira: Não podemos abandonar a luta
Com voz suave e firme, Mateus conta de forma emocionante sua recuperação. Vinte e cinco dias depois de ter realizado a última cirurgia, o estudante universitário também conta sobre o futuro e reflete sobre o que ocorreu em Goiânia. Agredido por um policial no dia 28 de abril, durante o protesto da Greve Geral, Mateus chegou a ficar 16 dias internado – boa parte desse período em coma.
Publicado 14/06/2017 19:08

O cassetete do policial, como todos sabem, chegou a quebrar ao meio com o impacto da agressão na testa dele. Símbolo de um momento grave que o país passa, o 2 Dedos de Prosa, entrevista exclusiva do mandato da deputada Jandira Feghali, é com ele. A produção é de Bruno Trezena:
Bruno Trezena: Mateus, como está a sua recuperação? Como é sua rotina?
Mateus Ferreira: Retomei boa parte da minha rotina, mas estou numa fase de intensas consultas médicas. Estou fazendo fisioterapia também, principalmente por causa do ombro, que ficou prejudicado com a fratura na clavícula e tentando identificar um problema no olho. Os médicos acreditam que seja relacionado à retina. Mas mesmo assim, é bom lembrar que não tive sequelas, então isso é ótimo. Também voltei à faculdade de Ciências Sociais, onde estou terminando minha graduação. Tem sido cansativo, não vou mentir.
BT: O que te motivou a estar na rua protestando no dia da violência policial? O que você via no país que te fez ir às manifestações?
MF: Bom, costumo ir às manifestações de rua desde 2013. Naquele dia, o que me motivou principalmente foram as reformas da Previdência e trabalhista, ambas em tramitação no Congresso. Havia marcado com amigos e professores do curso, porque a gente discute muito na faculdade sobre a conjuntura atual do Brasil. Se você parar pra pensar, a gente vinha de um período muito longo de conquista de direitos no país. Isso se deu em diferentes esferas, na diminuição de desigualdades, na redução da pobreza… era nítido. Mas agora, o projeto político em curso no país é de fim dessas conquistas. E isso não pode ser aceito de forma passiva pela sociedade, seja ela de direita ou esquerda.
BT: A juventude deve permanecer nas ruas para reivindicar seus direitos?
MF: Mesmo com esse aparato policial todo, essa violência toda, a gente não pode desistir. É óbvio que dá medo de retornar às ruas depois do que aconteceu comigo. Eu mesmo ainda tenho receio. Mas chegamos a um ponto que ninguém pode recuar um centímetro sequer. Não podemos abandonar a luta, porque ela tem relação com o nosso futuro.
BT: Acredita em um futuro melhor para a nação mesmo com tamanha crise política?
MF: Eu tenho otimismo, sabe, mesmo diante dessas situações. Grande parte da população quer uma mudança real no país, sejam aquelas que acreditam na Lava-Jato, no TSE, ou que estão buscando entender o que está ocorrendo. Hoje não temos um projeto de país (Governo Temer) e isso é muito sério. Apesar disso, o lado positivo é que essas pessoas estão se posicionando.
BT: O que te surpreendeu nesses tempos?
MF: Cara, o Lula me ligou. Foi muito legal. Eu sabia que ele já tinha conversado com a minha mãe depois da agressão, mas um dia, do nada, ele me ligou direto no celular. Ele é um cara incrível, histórico e ter recebido a solidariedade dele foi muito legal.