Sem bancos públicos, não há desenvolvimento, diz economista

Michel Temer tem dado sinais de que, no pacote de privatizações do governo, pretende incluir bancos públicos para atender a sanha do mercado. Para Antônio Correia de Lacerda, doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a proposta prejudica o país, pois "sem os bancos públicos, dadas as condições do Brasil, não será possível atingir o desenvolvimento".

Antonio Correa de Lacerda - Beatriz Arruda

A afirmação de Antônio Correia foi feita no 22º Congresso Brasileiro de Economia, realizado em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (8). Ele recebeu o Personalidade Econômica do Ano.

Para o economista, o papel dos bancos públicos é crucial para que um país possa se desenvolver e dar suporte ao crescimento de seu setor industrial. "Não podemos ficar ao sabor das circunstâncias. Precisamos de uma política industrial que envolva política comercial e política de ciência, tecnologia e inovação", disse.

Os bancos públicos atuam no fomento da indústria nacional, no desenvolvimento regional e no apoio a atividades nas quais grupos privados manifestam pouco interesse ou cuja rentabilidade ainda não é suficiente para que se desenvolvam. Para tanto, são feitos financiamentos e empréstimos, tanto de curto como de longo prazo, em condições mais favoráveis do que as oferecidas pelo mercado.

O economista também criticou a substituição da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pela Taxa de Longo Prazo (TLP) nas operações de crédito feitas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), proposta pelo governo. A Medida Provisória 777/2017, que instituiu a nova taxa, foi aprovada na terça-feira (5) pelo Senado e segue agora para sanção presidencial.

"O J [letra jota] faz toda diferença. Uma [taxa] é política pública, definida pelo Conselho Monetário Nacional e, portanto, oferece juros compatíveis com a rentabilidade esperada dos projetos. E a outra é a taxa de mercado que, dadas as condições brasileiras, vai inviabilizar a única fonte de financiamento de longo prazo", afirmou.

A TLP é composta pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e pela taxa de juros prefixada das Notas do Tesouro Nacional (NTN-B) vigente no momento da contratação do financiamento. Por outro lado, a TJLP é fixada pelo Conselho Monetário Nacional após avaliar alguns índices econômicos.