Na Copa e nas Eleições salto alto não é o melhor caminho

Em entrevista publicada neste domingo no caderno Copa2006 d’O Globo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pontificou: –“ Um técnico precisa ter pelo menos um ano para poder montar a equipe e treiná-la. Somos muito imediatistas. Somos imediatistas na política, no futebol, na vida. É preciso tempo para preparar taticamente e tecnicamente um time (…)”. Apesar das condições impostas pelo porta-voz André Singer ao introduzir o entrevistado ao jornalista -–“ A regra é clara! Nada de política. Só futebol”—Lula de quando em vez fez breves referências ao campo da política. Em outro momento, perguntado se uma seleção brasileira campeã favorece política e eleitoralmente um presidente da República, Lula assevera que nunca acreditou nessa possibilidade. Dizer que a seleção ajudou os militares durante a ditadura, segundo ele, é “tudo bobagem. O povo brasileiro é muito inteligente para saber o que um presidente da República não pode, não deve e não se mete na seleção brasileira…” Estas foram as únicas remissões à esfera política em duas páginas inteiras de entrevista. Mas fez uma ponderação explícita ao esquema tático:–“ Muita, muita, muita humildade e muita objetividade.”

 

Na construção do arco de forças políticas para enfrentar a campanha eleitoral de outubro, fazendo uma analogia com o esporte, o campo político governista talvez precise levar em conta as lições destes três anos e meio de exercício do poder. Não se governa sozinho no Brasil. Alianças políticas são condição sine-qua-non para se estabelecer a governabilidade. Em função de programas, plataformas como a que o PT, PSB e PCdoB procuram apresentar até o fim deste mês – depois da convenção das três legendas —  consagrando em um documento propostas para um eventual segundo mandato de Lula. A dificuldade aparece com o ressurgimento de posições hegemonistas especialmente no âmbito dos Estados na concertação de alianças que possam oferecer palanques com sólido apoio popular ao futuro candidato do campo popular, que tem saído bem colocado em todas as pesquisas de opinião pública mais recentes. Na semana passada os três partidos não conseguiram fechar uma coligação formal e tudo indica , pelo andar da carruagem, que esta coligação deverá ficar para a prorrogação.

 

As observações do presidente Lula ao criticar o salto alto que poderá prejudicar a seleção canarinho nos campos da Alemanha, poderiam muito bem serem transpostas para a arena política. Para erigir esta equipe que pretende vencer a batalha eleitoral será necessário concebê-la como um projeto nacional, em que as partes deverão se submeter ao todo, ao programa de um conjunto de forças que lutam pelo desenvolvimento econômico com distribuição de renda, pela defesa intransigente da soberania nacional em todas as suas esferas, por uma política externa independente, como a que o Brasil está hoje a exercer. Superar as diferenças regionais, reconhecendo a força concreta de cada uma das forças envolvidas na defesa do governo e permitindo o fortalecimento de todas as legendas – sem hegemonismos artificiais — é o caminho que poderá levar ao avanço rumo a novas conquistas democráticas e populares no país.