Olimpíadas: O Brasil quer mais e melhor
Tem razão o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ao fazer uma avaliação ponderada do desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos […]
Publicado 13/08/2012 17:13
Tem razão o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ao fazer uma avaliação ponderada do desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres, encerrados no domingo (12). Na opinião do governo, o Brasil foi bem, mas “há muito para melhorar até 2016”, disse.
Foi um resultado modesto. A delegação volta para casa com o maior número (17) de medalhas da história da participação do país nos Jogos Olímpicos. Mas também com uma diminuição do número de medalhas de ouro em comparação com as Olimpíadas de Atenas em 2004, quando nossos atletas conquistaram cinco ouros, e um claro sentimento de derrota em algumas modalidades (como o futebol ou o vôlei masculino) nas quais o ouro esteve ao alcance das mãos. A ambição era maior na quantidade e na qualidade (trazer mais ouros), muito embora o Comitê Olímpico Brasileiro tivesse estabelecido a meta medíocre de 15 medalhas.
Se avaliado num quadro mais amplo, o desempenho brasileiro nos Jogos Olímpicos de Londres revela um avanço lento, não tendo havido ainda um salto de qualidade. O Brasil participa de jogos olímpicos desde 1920, em Antuérpia, quando ganhou três medalhas – ouro, prata e bronze. Só voltou aos jogos em Londres, em 1948 e, desde então, esteve em todas as edições.
Do total de 108 medalhas que obteve, 39 foram conseguidas nos 72 anos que separam os jogos de Antuérpia e de Barcelona (em 1992), com média de três medalhas por temporada. As demais 69 foram ganhas nos últimos 16 anos, desde Atlanta (1996), quando começou nova fase na vida olímpica brasileira. A média por temporada pulou para 13 medalhas – 15 em Atlanta, 12 em Sydney (2000), 10 em Atenas (2004), 15 em Pequim (2008) e agora 17 em Londres (2012).
O país deu passos, mas, classificado na 22ª posição entre as nações, ainda está longe de figurar entre as potências esportivas do planeta.
Há muito a fazer para que o Brasil, que sediará os jogos em 2016, avance mais. Em Londres, nossos atletas competiram em 26 modalidades e tiveram medalhas em nove delas (boxe, futebol, ginástica artística, judô, natação, pentatlo, vela, vôlei e vôlei de praia).
Em 2016, sendo anfitrião, poderá concorrer em mais modalidades, aumentando a chance de medalhas. Estima-se que para figurar entre as 10 potências esportivas do mundo o Brasil precisará obter pelo menos 25 medalhas.
Desde o primeiro mandato do governo de Luís Inácio Lula da Silva, o esporte passou a ser tratado como política pública e o investimento do governo aumentou muito. Os programas do Ministério do Esporte envolvem mais de dois milhões de atletas, desde os jovens do programa Segundo Tempo, até atletas profissionais que têm apoio público para treinar.
O resultado de Londres revela ser preciso fazer mais, e o ministro Aldo Rebelo proclama essa necessidade. Não só investir mais, mas sobretudo orientar os investimentos dentro de uma política de governo. É preciso compreender que resultados como os alcançados em Londres e outras disputas internacionais representam apenas a ponta visível de um sistema muito maior, enraizado país afora. Medalhas olímpicas são precedidas, entre a juventude, por melhorias de vida concretas e sólidas e da prática maciça do desporto como fator de educação e saúde. Elas constituem, na verdade, o objetivo de investimentos públicos no esporte, e as medalhas olímpicas traduzem o acerto, ou não, destas políticas e destes investimentos.
Tornar o esporte uma prática difundida em massa, desde a mais tenra idade, é o caminho para termos uma população sadia e atletas de excelência em todos os níveis e modalidades.
Neste sentido Aldo Rebelo tem razão quando proclama o orgulho nos atletas brasileiros. “Alcançamos pódios em meio a tantos atletas e seleções. Isso é um feito de orgulho e de reconhecimento.” E tem razão também quando anuncia a decisão de analisar as nossas deficiências, “não só as do governo, mas a dos demais agentes que participam do esforço, e olhar com uma perspectiva otimista para o futuro e olhar para o Rio de Janeiro como um desafio a ser abraçado”.
Estes demais agentes usam e abusam do dinheiro público, canalizando-os para projetos ligados à obtenção de lucros privados e projetos carreiristas individuais, usando muitas vezes a imagem dos atletas como isca para milionários contratos de publicidade e a intermediação dos seus negócios.
O Brasil tem tudo para ser uma potência esportiva e conta para isso com o decidido apoio do governo. Mas o que está no escopo de algumas entidades que recebem dinheiro público para fomentar o esporte é transformar o esforço olímpico e políticas de incentivo ao esporte em negócio olímpico. A remoção destas práticas malsãs é também um desafio a enfrentar.