Feliz ano novo Brasil
Dizer que o Brasil é um país extraordinário é quase redundância. Afinal, reunir a um só tempo, abundancia de recursos naturais, condições climáticas excepcionais e um povo extremamente trabalhador como o nosso é algo raro.
Publicado 02/01/2008 13:29
Esse país se fez em menos de dois séculos, se tomarmos a independência como referência, ou em apenas um século, se o “marco de partida” for à proclamação da república.
Nesse curto espaço de tempo, construímos uma das dez maiores economias do planeta, diversificamos enormemente a nossa base econômica, desenvolvemos uma cultura própria e majestosa, produzimos uma das maiores safras agrícolas do mundo, obtivemos a auto-suficiência em petróleo, desenvolvemos pioneiramente a tecnologia do biodiesel, temos um inestimável potencial hidro-energético e preservamos a Amazônia – o último espaço vital do planeta – apesar da irracionalidade de alguns e do entreguismo santuarista de outros tantos. Poderíamos ter avançado muito mais se não fosse a brutal concentração de rendas que se acumula nas mãos de uma elite econômica mesquinha e perversa.
E o nosso desempenho de conjunto é mais extraordinário ainda quando se sabe que em 1950 a taxa de analfabetismo nacional era de 51% e que a primeira universidade brasileira não tem sequer um século. É precisamente a “Escola Universitaria Livre de Manáos” (grafia original), fundada em 1909, na cidade de Manaus, Amazonas. Antes só haviam faculdades isoladas.
Apesar dessa economia majestosa e dos avanços sociais experimentados nos diversos campos do conhecimento e do entretenimento, a maioria de nossa população trabalha muito, ganha pouco, recebe serviços públicos precários e ainda convive com bolsões de fome, não pela falta de alimentos e sim pela ausência de recursos para comprar esses alimentos. Mas segue em frente. A causa central disso, repito, é a estúpida concentração de rendas, que faz com que haja brasileiros que vivem com um milhão de reais por mês, enquanto outros são obrigados a viver com salário mínimo ou à custa de programas sociais públicos.
Por que um país com tantas virtudes, apesar de todos os problemas que ainda temos por superar, só é conhecido pelas suas debilidades?
Em boa parte pela formação negativista da maioria de nossos intelectuais, herdada da formação religiosa afeita à auto-penitencia e associado a um sentimento de baixa auto estima. E, por outro lado, porque interessa a elite econômica que os nossos problemas sejam tratados sob a ótica moral e não econômica.
Para desviar a atenção de si, essa elite econômica utiliza fartamente seus instrumentos de comunicação e dissemina que os males do país são decorrentes da corrupção pública (a privada nunca é mencionada), da “safadeza” dos políticos (assim mesmo, indistintamente) e da “preguiça” de nosso povo que, por ser originário de português, índio e negro seria “congenitamente” indolente.
Desconhecem, por óbvia conveniência, que o cruzamento de espécies animais ou vegetais produz, como regra, um descendente mais vigoroso. E o povo brasileiro é uma prova viva disso, tanta pela quantidade de horas que trabalha quanto pela produtividade, ambas entre as maiores do mundo.
Lênin, o revolucionário que liderou a primeira revolução socialista do planeta, costumava repetir que o “revolucionário ideal” seria aquele que combinasse o ímpeto revolucionário do povo russo com o espírito prático americano. Se tivesse conhecido o Brasil, eu não tenho dúvidas, ele teria acrescentado: e a inventividade do povo brasileiro, popularmente conhecido como o “jeitinho brasileiro”.
Por tudo isso, feliz ano novo Brasil!