Meus laços com São Paulo
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Publicado 19/05/2010 23:56
A cidade de São Paulo me deixa com saudade dela, quando a vejo nas fotos.
Mesmo vivendo na sua periferia, quase a seus pés e constantemente perambulando em seu coração, pulsante e febril de agitação e cimento, parece que estamos tão distantes uma da outra! Somos diferentes mas, ao sermos cúmplices das nossas tristezas, nos tornamos iguais.
Ela também perambula pela minha alma, me acolhe nas suas entranhas e depois me abandona. Cremos em deuses diferentes. Ela e eu, seus viadutos [refúgio de cães e homens perdidos] seus feios e lindos prédios, as minhas roupas de lã cinza, entre o trânsito e meus sapatos acompanhamos solidárias a correria dos seus habitantes.
Meu guarda-chuva e as suas enchentes matam sedes infinitas. Há sempre o querer mais e tudo em nós tem uma beleza nervosa. Um acontecimento aqui desencadeia outros tantos lá e desacreditamos uma da outra.
Suas esquinas escondem e escancaram histórias e amores, mal entendidos, vidas que se cruzam e se desencontram, abandono. Entre uma e outra crise de asma e seus níveis altos de poluição, nas noites de insonia, ficamos a remoer crianças e lixo largados nas calçadas.
A fotografar seus grafittis coloridos nos encardidos viadutos. Somos amigas e inimigas.
Eu aceito seus caprichos e ambições, mas ela me nega a paz e então, brigamos.
Eu digo que vou embora mas ela não deixa, pede perdão e me transforma em poetisa de suas auroras quando amanhece com seu sorriso escaldante evaporando no asfalto, e eu me entrego aos seus encantos.
Nossos laços não se desatam facilmente, mesmo que eu vá, ela ainda estará em mim. Sou apaixonada por ti, minha querida São Paulo. E tu tens a mim, tatuada na sola dos teus pés.
Ouça: Laços (Toranja)